CRÍTICA | Enrolados

Direção: Nathan Greno e Byron Howard
Roteiro: Dan Fogelman
Elenco: Mandy Moore, Zachary Levi, Ron Perlman, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2010

Criar histórias sobre princesas é uma das especialidades da Disney. Uma trajetória que começou com Branca de Neve e os Sete Anões (1937), a primogênita do estúdio. Após quase 80 anos depois de seu lançamento, os fãs começaram a se perguntar quanto tempo levaria até que uma adaptação sobre a princesa Rapunzel, uma das mais populares personagens criadas pelos irmãos Grimm, fosse encomendada.

O momento chegou em 2010 com o lançamento de Enrolados (Tangled), o 50º longa-metragem de animação da Disney. Um sucesso absoluto, tanto pelo investimento em novas tecnologias de animação em CGI como em bilheteria, arrecadando US$ 592,4 mil, mais que o dobro de seu orçamento.

A trama conta a história da princesa Rapunzel (Mandy Moore) que, quando bem pequena, foi raptada da realeza por Gothel (Donna Murphy), uma feiticeira que queria usar os poderes de seus cabelos para se manter jovem para sempre. Para impedir que fosse encontrada, ela foi trancafiada em uma torre com apenas uma janela, pela qual jogava seus longos cabelos para que Gothel pudesse subir.

Dezoito anos depois, Flynn Rider (Zachary Levi), um ladrão fugitivo, encontra a torre e cruza caminhos com a jovem. Rapunzel vê em Flynn sua chance de sair da torre e se libertar das amarras disfarçadas por proteção criadas por Gothel.

Walt Disney Pictures

O enredo segue por um caminho interessante ao não retratar Rapunzel como uma garota fragilizada e totalmente ingênua, mas como uma jovem determinada, criativa e sábia, que está em busca da própria independência. O caminho escolhido para ela no roteiro é interessante por tirar a figura da princesa como alguém que deve ser salva pelo príncipe encantado.

Flynn, que para começar não tem nada de príncipe, se torna um meio para que ela possa sair e encontrar seus próprios objetivos. É claro que, no decorrer da narrativa, a fórmula cai no clichê da história de amor e sacrifícios que são feitos para proteger alguém que se ama. Isso, contudo, não é um problema, já que o fim não é a parte mais interessante, mas sim os caminhos tomados pelos personagens para chegar até seus destinos.

O desenvolvimento de Enrolados é sempre cativante e apresenta seus respiros nos momentos certos, além de aproveitá-los para levar mais contexto sobre quais são as temáticas dos protagonistas.

Flynn também é um personagem interessante por fugir da ideia convencional do que é um príncipe em uma animação da Disney, já que ele é o completo oposto de seus antecessores. Sua visão sarcástica sobre o mundo, suas tiradas cômicas e sua personalidade imperfeita são o que o tornam relacionável ao público.

No Brasil a experiência em relação ao personagem foi um pouco estragada, já que Luciano Huck foi o escolhido para dublá-lo. Pode até ter parecido uma boa ideia para chamar o público ao cinema, mas na execução acaba que o espectador não consegue se distanciar completamente, por se tratar de uma pessoa do mundo real inserida em uma fantasia. A imersão teria sido mais eficaz se a direção de dublagem tivesse optado por outra pessoa conhecida, mas que fosse ator.

Walt Disney Pictures

Gothel também traz uma camada interessante, especialmente por suas motivações. A todo momento o filme encontra maneiras e simbolismos de lembrar ao público que a feiticeira não está preocupada em salvar a princesa das mazelas do mundo, mas a mantém naquela torre pelo puro e simples interesse de não envelhecer. É interessante o paralelo traçado pela obra, que nos faz questionar sobre como a jovialidade se torna um sinônimo de beleza de maneira tão enraizada.

Além da história, Enrolados trouxe inovações técnicas e softwares que passaram a ser muito explorados após o seu lançamento, em obras como Valente (2012) e Moana: Um Mar de Aventuras (2016). O mais impressionante foi software criado apenas para desenhar os cabelos de Rapunzel, que tinha mais de 21 metros de comprimento e 100 mil tranças, dando a eles uma movimentação que se assemelhasse à realidade.

A direção de arte também é deslumbrante, especialmente os ambientes externos, que intensificam a fantasia, como na sequência dos balões, quando aos protagonistas cantam a canção "I See The Light", que, aliás, levou o Oscar de Melhor Canção Original em 2011. É nessa cena que o filme chega ao ápice, já que os balões sempre foram soltos pelo rei e a rainha do reino na esperança de que Rapunzel os enxergasse.

Enrolados pode não trazer um enredo que alterou significativamente a fórmula Disney em relação às animações, mas é uma fábula bonita sobre autodescobrimento, emancipação e amadurecimento. É daqueles filmes pra se assistir em um dia triste, para conseguir levar ao coração um pouco de acalanto.

Ótimo


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