CRÍTICA | Free Solo

Direção: Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi
Elenco: Alex Honnold, Tommy Caldwell, Jimmy Chin, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018


Passando quase despercebido pelos comentários gerais, mesmo após ter sido premiado com o Oscar de Melhor Documentário em 2019, Free Solo não é nada próximo do esquecível. A memória de sua experiência num pós-sessão é ofegante, estabelecendo um ritmo de aflição e atenção próximo em suas dadas proporções do pique do personagem-estudo: Alex Honnold.

A produção dirigida por Jimmy Chin (Meru) e Elizabeth Chai Vasarhelyi (Touba) nos introduz ao "free solo" do título, um estilo de alpinismo surgido espontaneamente por um estimulo que parece beirar a insanidade ao início do filme: botar a vida em risco extremo para testar seus limites. A provação estabelecida é a de escalar formações rochosas que gargalham das escalas de altura sem o suporte de qualquer instrumento de segurança. É na mão e no pé, subindo planaltos próximos aos mil metros de altura.

A mera sugestão dessa prática já comporta em si uma pergunta encoberta: o que leva uma pessoa a dedicar sua vida em função de potencialmente perdê-la? Seria uma disfunção comportamental? Uma consequência de processos psíquicos na infância? Loucura pura e desvairada? A nobreza desta obra está em atravessar esses questionamentos permitindo que o próprio escalador fale por si. Alex é um personagem fascinante por si só, mas o que deslumbra é a eloquência com a qual argumenta sua opção de vida, mesmo quando ela entra em conflito direto com seus entes queridos preocupados com a possibilidade do pior cenário.

Foto: Divulgação

Para nosso protagonista, por sua vida diante de um abismo tão proeminente, em que o menor deslize equivale a uma morte imediata, é justamente o mecanismo que dispõe para experimentá-la ao máximo, vivendo um estado onde a perfeição na execução é a única possibilidade admissível. A necessidade de foco ali prove para Alex uma nova dimensão sobre todo seu corpo. Há uma autoconsciência preciosa em seu esporte e em sua rotina. Peculiaridades de sua personalidade exercem influência, mas antes de tudo não há qualquer determinismo que apareça e portanto tente qualificar ou não os sonhos do esportista.

Em tempo cronológico, o filme acompanha a preparação de Alex para escalar El Capitan, um muro quase liso, de 910 metros de altura, com condições extremamente dificultantes para o exercício da escalada. Os riscos são evidentes e pulsantes a cada instante do documentário, tanto pelo emocional das pessoas que convivem com ele, se preparando com a chance de verem-no pela última vez, quanto pelo entendimento de que um longo arsenal de câmeras acompanhando a subida por ângulos extremamente inusitados e visualmente catárticos pode ser bem mais que o suficiente para provocar um mínimo de distração em Alex. Um mínimo de distração é tudo que ele precisa para morrer. Os dilemas então são compartilhados entre personagem e equipe, entre linguagem e conteúdo. Para cada enquadramento absurdo com que somos agraciados há uma camada de medos, responsabilidade e temor reverberando nas tremulações do frame.

Free Solo é uma apresentação visual absolutamente de tirar o fôlego, principalmente quando chegamos na derradeira escalada, mas é também um gentil e honesto olhar sobre sonhos e sacrifícios, a medida que definimos para nossos propósitos, e quem nós somos, a partir de tudo que queremos apaixonadamente alcançar.

Foto: Divulgação


Excelente

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