Superman: Entre a Foice e o Martelo, enfim republicado!


"Liguem para os laboratórios S.T.A.R. e coloquem o Dr. Lex Luthor na linha. A Guerra Fria acabou de evoluir e se tornar um novo animal."

Era absurdo, por tantos anos, não conseguir encontrar uma das melhores histórias do Superman para se comprar no Brasil. Superman: Entre a Foice e o Martelo foi, enfim, republicada! E, caso você ainda não tenha lido a obra, essa é a oportunidade de conferir uma história imperdível do Homem de Aço. Neste texto passaremos pelos seus melhores pontos para convencê-lo disso.

Algumas horas de diferença...


O universo de super-heróis está CHEIO de versões alternativas de suas próprias histórias. Apesar de uma compreensível tendência a produtos de pouco valor virem desses experimentalismos, há muita coisa legal. E se a Gwen Stacy não tivesse morrido? E se o Robin não tivesse morrido? A coisa costuma ir por esse lado. Nesta história do Superman a diferença é menor, mas ao mesmo tempo muito maior. O foguete que seus pais criaram para salvá-lo da explosão de Krypton, o enviando para a Terra, aterrizou com algumas horas de diferença na sua rotação. Ao invés de cair no Kansas, Kal-El caiu na Ucrânia... território da União Soviética na época. Stalin pega o poderoso bebezinho para se tornar seu soldado quando crescer.


O que o roteirista Mark Millar faz é levar a premissa desse paradoxo até as últimas consequências. O homem prova como é mais do que capaz de fazer isso. As histórias de Millar na DC (com Flash, Monstro do Pântano) não são muito reconhecidas, mas é justamente o contrário com as da Marvel: Guerra Civil, Os Supremos, Fantástico e Wolverine: Velho Logan, que influenciam adaptações de todos os lados. Bem, essa aventura do Superman é o marco que ele deixou na distinta concorrência. Os desenhos são de Dave Johnson.

Uma nova Terra e um novo Universo DC


Com a melhor arma possível, a esquerda vence a Segunda Guerra Mundial com facilidade. O que vem depois é uma Guerra Fria reversa. A maior parte do planeta está se entregando ao comunismo e apenas uma minoria se mantém capitalista com dificuldade. Mark Millar mistura essa versão do nosso mundo com uma versão alternativa do próprio universo DC. Desde o início é muito divertido acompanhar. Ver como para as amazonas pareceu mais sensato enviar a Mulher-Maravilha para negociar valores pacifistas com a Rússia e não com os Estados Unidos, o Batman completamente contra a forma fascista que o Superman está lustrando o planeta inteiro e a galeria de inimigos do Homem de Aço serem armas criadas em laboratório pelos Estados Unidos para tentar destruir esta versão ditadora do herói. Brainiac, ao invés de ter engarrafado a cidade de Kandor, o faz com Stalingrado. Aproveitando que estamos falando dos inimigos, vale uma atenção especial ao careca mais famoso da cultura pop.

Lex Luthor como você nunca viu antes


Esqueça aquela desgraça que nos mostraram com Jesse Eisenberg (Zumbilândia) nos cinemas. Esse Lex Luthor é um cientista maluco, ao mesmo tempo que conta com todos os fatores que sempre fizeram dele um vilão tão marcante. Millar segue o estilo da época do reboot do John Byrne, em que Luthor é um perigo para o kryptoniano, não por enfrentá-lo com armaduras e armas mirabolantes, mas pela sua personalidade obsessiva e total falta de escrúpulos. Na história há desenvolvimento cronológico, os personagens envelhecem e o mundo se altera. Não é uma história gigantesca, e a forma que Millar mostra todos esses avanços políticos e econômicos em pouco tempo é exagerada de uma forma muito bem feita, afinal, se tratam de utopias.


Lex Luthor é um gênio extremamente caricato, brincando com peças de xadrez, fazendo descobertas e lendo livros inteiros, tudo ao mesmo tempo. Defendendo os Estados Unidos como representantes do Capitalismo até as últimas consequências, um nêmesis perfeito contra essa versão socialista do Superman. As escalas de tudo pelo que ambos lutam são muito altas!

Ainda se trata do Superman!


"Eu jamais fui um soldado. Um soldado sempre segue ordens. Um soldado conhece e odeia seu inimigo. Um soldado só luta e morre pelo seu povo... Eu simplesmente lutava pelo que era certo."

Apesar de ser um ditador comunista, quando na versão original se trata de um super-herói bonzinho, lutando por "verdade, justiça e o modo americano", Mark Millar tomou cuidado para que o Superman continuasse sendo o mesmo: um cara que quer fazer a coisa certa. Com isso, além de um "O Que Aconteceria Se...?" muito bom, essa história também é um complemento interessante da personalidade do personagem, o mostrando nessa posição opressora, utópica e violenta. Muitos conflitos do personagem são mostrados o tempo todo com muita competência.

Lambendo os dedos ao término da refeição


Nesse universo particular, o roteirista leva toda a situação a extremos quase inimagináveis, te surpreendendo de novo e novamente. No fim, ele consegue ligar tanto os elementos relacionados à mitologia da DC, quanto a história política dos homens e questões existenciais de maneira coesa. É difícil não ficar satisfeito ao final. 

Superman: Entre a Foice e o Martelo é um exercício de criatividade como poucos. Faça um favor a si mesmo e não se deixe levar por comentários negativos que foram feitos sobre a obra logo que anunciaram a republicação, a acusando de ser uma tentativa de doutrinação marxista. As pessoas que falaram isso nem devem ter lido o HQ, já que Millar não passa o pano em Stálin e seu regime em qualquer momento (afinal, como fazer isso com um dos maiores genocidas da história?). A violência e a fome da época são mostradas, inclusive há vários esquerdistas que não gostam dessa história. Então não ouça essas bobeiras, o comprometimento da história não é com panfletagem ideológica, mas sim com a imaginação.


É para mais do que fãs de HQs, do Superman e da DC. É para qualquer um que quer ter uma boa experiência com ficção. É um exemplo de como as HQs podem (e provavelmente devem) se aproveitar dos seus recursos fantasiosos em universos de heróis, como os da Marvel e da DC Comics, para proporcionar experiências que têm como objetivo e resultado principal o entretenimento inteligente e recompensador.

E o melhor foi o preço estabelecido pela Panini: R$ 32,90! É a oportunidade perfeita para conhecer essa grande história!

"Você é o oposto da doutrina marxista, Superman. A prova viva de que nem todos os homens são iguais."

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