Black Mirror 4x01 | USS Callister

Direção: Toby Haynes
Roteiro: Charlie Brooker e William Bridges
Elenco: Jesse Plemons, Cristin Milioti, Jimmi Simpson, Michaela Coel, entre outros


Após o imenso sucesso televisivo em 2016, Black Mirror retornou agora para contar mais 6 histórias nesse universo futurista-pessimista, do jeito que só eles sabem fazer. A diferença, no entanto, é que dessa vez os holofotes estão voltados para a série, gerando imensa expectativa por parte dos fãs, o que nem sempre é positivo.

Em USS Callister, primeiro episódio dessa quarta temporada, somos apresentados a um jogo de realidade virtual extremamente bem programado, como os jogos VR que temos hoje em dia, porém elevados a centésima potência, um conceito que já havia sido arranhado na temporada passada. Robert Daily (Jesse Plemons) é a mente criativa por traz do jogo, um homem bem sucedido profissionalmente, mas mal resolvido consigo mesmo, tendo dificuldade para se aceitar e se relacionar socialmente, seja com seu sócio, Walton (Jimmi Simpson), ou com seus funcionários, em especial Nanette (Cristin Milioti), por quem secretamente se sente atraído. Com essa dificuldade de interação, Daily acaba criando um modulo alternativo do jogo, em que ele é capitão de uma nave espacial e seus tripulantes são seus parceiros de trabalho.

Essa premissa permite que a série brinque com seus próprios conceitos pré-estabelecidos e homenageie de forma explicita a nossa querida Star Trek, ainda que também sobre tempo para pequenas referências a Star Wars (notem como o símbolo da "frota estelar" deles é similar ao logo dos Jedi). É o tipo de episódio que, se você assistir atentamente, encontrará diversos outros detalhes interessantes, como, por exemplo, uma ponta da atriz Kirsten Dunst (O Estranho Que Nós Amamos) e a voz de Aaron Paul (Breaking Bad) em determinado momento.

Foto: Jonathan Prime / Netflix

Porém, passado o fascínio com a tecnologia e com as referências nerds, o roteiro de Black Mirror continua sendo o destaque, despertando o pior do ser humano e nos fazendo refletir através disso. Em USS Callister não é diferente, pois vemos Daily se transformar em um sujeito introvertido e de poucas palavras, em uma persona aterrorizante quando dentro do jogo. Méritos aqui para o trabalho de Jesse Plemons (Friday Night Lights), que nas sutilezas constrói seu personagem, mostrando já há algum tempo o grande ator que é.

O comportamento abusivo do protagonista acaba fazendo relação até mesmo com fatos que ocorrem atualmente em Hollywood. Assistindo o episódio e a forma como o "capitão" tratava seus comandados, especialmente as mulheres, me fazia pensar em Harvey Weinstein, tamanho o desprezo de vê-lo obrigando-as a fazer o que ele quisesse mediante ameaças, forçando-as inclusive a beijá-lo sempre que uma missão era bem sucedida. Nesse ponto, deve-se destacar a direção de Toby Haynes (Doctor Who), que aos poucos revela que há algo errado naquela aventura despretensiosa da abertura.

É justamente quando o protagonismo do episódio muda que os fatos se revelam. Quando Nanette é levada ao jogo, novos questionamentos são levantados, como o uso de informações pessoais de usuários para criar avatares, ou até mesmo a resolução final, de que Daily era apenas um jogador, e que há vários outros que se comportam como ele, frustrados em sua realidade, descarregando raiva e ódio de forma online. Não precisamos ir muito longe para entender como isso está inserido em nossa realidade, basta ler os comentários de alguma postagem polêmica no Facebook, por exemplo.

Foto: Netflix

No fim, USS Callister mostra-se um ótimo pontapé inicial para a temporada, que envolta em expectativa, poderá agradar ou decepcionar muita gente. Eu, particularmente, pretendo aguardar alguns dias até assistir o próximo episódio. Black Mirror não é o tipo de série que eu gosto de "maratonar", justamente por sua proposta pessimista, que nos faz sempre refletir ao fim de cada capítulo. E assistir uma série da melhor forma que ela funciona pra você, pode ser um segredo valioso.

Ótimo

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