CRÍTICA | Eu, Tonya

Direção: Craig Gillespie
Roteiro: Steven Rogers
Elenco: Margot Robbie, Sebastian Stan, Allison Janney, Julianne Nicholson, Paul Walter Hauser, Bobby Cannavale, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2017


Em determinado momento de Eu, Tonya, vemos a protagonista repetir o treinamento utilizado por Rocky Balboa para vencer o temível Ivan Drago, carregando toras de madeira nas costas, girando pneus gigantes, entre outros. Sua treinadora, quebrando a quarta parede, faz questão de nos informar que a cena não é uma dramatização, e sim um fato real ocorrido durante a preparação de Tonya Harding (Margot Robbie) para as Olimpíadas. Um pequeno momento da obra, mas que diz muito a respeito da personagem, uma mulher simples, de pouca educação, personalidade forte e que beira a inocência em seus atos. Viveu sua vida em prol da patinação, que acreditava ser seu único dom, mas viu suas oportunidades serem arruinadas pelas pessoas que mais amava.

Baseado em entrevistas em vídeo de diversas pessoas envolvidas na vida da protagonista (entrevistas que são dramatizadas no longa), a obra nos conta a história trágica de Tonya, sem necessariamente soar como "pesado" ou soturno. E esse é o grande trunfo do filme e do diretor Craig Gillespie (A Garota Ideal), que trazem ao público uma biografia contada de maneira ágil e bem-humorada.

Se a trama soa ágil, deve-se dar crédito especialmente a montagem, que em muita lembra as obras de Martin Scorsese, como O Lobo de Wall Street, pelo uso de cortes rápidos, dramatização de cenas que não necessariamente aconteceram e a quebra da quarta parede. Este último acaba sendo um recurso arriscado e quem nem sempre funciona bem, soando como uma forma barata de chamar a atenção do espectador para fatos que não necessariamente precisariam de explicação, uma vez que já estavam óbvios em tela.

Foto: Califórnia Filmes

Pode-se dizer também que Eu, Tonya é o filme que estabelece Margot Robbie (Golpe Duplo) no patamar das grandes atrizes da atualidade em Hollywood, ela que já demonstrava seu talento há alguns anos em tela. Há pelo menos 2 cenas que credenciam sua indicação ao Oscar: o momento em que está em extremo conflito consigo mesma, olhando para o espelho; e quando recebe a sentença pelo crime que, teoricamente, havia cometido. Robbie também mostrou destreza e dedicação para que suas cenas patinando soassem verossímeis. É uma pena que a falta de orçamento não permitiu que os efeitos especiais fossem mais bem acabados nos momentos das apresentações da patinadora, visto que algumas manobras só conseguem ser reproduzidas por profissionais, de fato.

Ainda que Sebastian Stan (Capitão América: Guerra Civil) esteja bem no papel do marido abusivo de Tonya, Allison Janney (A Garota no Trem) é quem, indiscutivelmente, rouba o filme para si. A atriz interpreta LaVona Golden, a mãe da patinadora, uma mulher de personalidade deplorável, que abusa emocionalmente de sua filha desde bem nova, mas que ao mesmo tempo é magnética em tela, fruto do trabalho de Janney. A atriz está tão bem em tela que, de certa forma, prejudica a obra. Digo isso pois, em determinado momento da narrativa, a personagem deixa de aparecer, fazendo com que o espectador a todo momento anseie por seu retorno.

Outro aspecto que deve ser destacado é o uso da trilha sonora. Canções como "Barracuda", "Goodbye Stranger" e "The Chain" trazem identidade à obra, e aliadas aos elementos já citados nessa crítica, transformam o filme em uma biografia incomum, e digo isso no melhor sentido possível.

Foto: Califórnia Filmes

Com muitos acertos e poucas derrapadas, Eu, Tonya se mostra competente em sua proposta, que é contar em detalhes sobre dramática, irônica e pitoresca vida de Tonya Harding. Para nós, brasileiros, a história se mostra ainda mais interessante e surpreendente, uma vez que o caso criminal envolvendo a patinadora (e que evitei contar nesse texto para não dar spoilers) ganhou maior notoriedade apenas nos EUA.

Ótimo


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