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Erik Constantino
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Quando a série O Mecanismo foi anunciada pela Netflix, gerou-se muitos comentários a respeito. Afinal de contas era o retorno de José Padilha (Narcos) falando do Brasil, e ainda trazendo Selton Mello (O Filme da Minha Vida) como protagonista. O diretor já havia sido responsável por obras como o documentário Ônibus 174 (considerado por muitos um produto de esquerda), além de ter conduzido os aclamados Tropa de Elite 1 e 2 (tidos por muitos como um produto de direita), ou seja, um realizador conhecido por ter um viés central, quando se trata de política. Aqui, o tema da vez é a Operação Lava Jato.
A maioria dos personagens de O Mecanismo são baseados em pessoas reais, ficando bem clara a relação e as referências ao espectador, ainda que os nomes sejam alterados, por motivos óbvios. De certa forma isso incomoda, pois paródia geralmente é um artificio utilizado para a comédia.
O elenco, como um todo, está muito bem. Selton Mello (Marco Ruffo), Carol Abras (Verena Cardoni) e Otto Jr. (Rigo), mas o destaque é de Enrique Díaz (Ibraim). O vilão vivido por Díaz rouba a cena com acidez, ironia e carisma. Porém, apesar das boas atuações, o roteiro custa a desenvolver os personagens. Apenas Verena e Ruffo têm um arco completo para apresentar, ainda que de forma morosa e pouco crível em determinados momentos. O foco da narrativa acaba sendo a investigação em si, o que enfraquece a série, por não gerar a identificação ideal com o público.
As famosas "narrações em off" de Padilha estão presentes aqui na voz de Ruffo e também na de Verena. O recurso funciona muito bem quando o texto é intenso e visceral, fazendo severas críticas ao “mecanismo” brasileiro. No entanto, por diversas vezes, acaba antecipando acontecimentos, ou se torna redundante (a própria palavra "mecanismo" não cansa de ser citada, por exemplo). Num todo é um bom trabalho de roteiro, com diversas metáforas que são empregadas ao longo da série, ainda assim alguns momentos podem se tornar cansativos e pouco verossímeis. Principalmente se tratando do personagem Ruffo.
Com relação ao lado político, a série esbarra em assuntos bem delicados. Muitos acreditam que a sociedade leva em torno de 10 a 15 anos para assimilar e compreender alguns acontecimentos históricos. Padilha claramente não liga para essa ideia e resolveu contar a história mesmo assim. A trama não deixa de ser interessante, porém, me pergunto se em ano eleitoral isso não pode soar um pouco fora de contexto. Decisões como trocar a fala original de Jucá e colocá-la em um personagem que claramente representa Lula gerou muitos protestos. O que poderia ser interpretado como adaptação, no calor do momento, acaba soando pouco sincero por parte do diretor. Entretanto, a série se propõe a apontar o dedo para todos os lados e faz críticas a políticos do lado A e B, da mesma forma.
O Mecanismo se mostra uma série apenas mediana, apesar de toda polêmica envolvida. Não chega nem perto dos melhores trabalhos de José Padilha no cinema, ou mesmo na TV, com Narcos. Cumpre seu papel de entreter, mas poderia e deveria ser muito além disso.
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