CRÍTICA | O Homem Elefante

Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch, Christopher De Vore e Eric Bergren
Elenco: Anthony Hopkins, John Hurt, Anne Bancroft, entre outros
Origem: EUA / Reino Unido
Ano: 1980


O Homem Elefante (The Elephant Man), dirigido pelo renomado cineasta David Lynch (Veludo Azul), é uma adaptação baseada em manuscritos de "O Homem Elefante e outras reminiscências", do Dr. Frederick Treves; e também no "Estudo da Dignidade Humana", de Ashley Montagu. Trata-se de uma obra indicada a 8 estatuetas do Oscar, cuja a ideia central é bastante simples, diferente de outros trabalhos do diretor, como Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive, 2001), por exemplo, que requerem do espectador uma maior imersão na obra para uma reflexão aguçada de seu entendimento.

O primeiro ato nos apresenta a Frederick Treves (Anthony Hopkins), um doutor que busca reconhecimento dentro da medicina e perante a sociedade. Ao descobrir que o circo de Londres esta apresentando espetáculos denominados como “freaks shows”, ele se depara com uma oportunidade única, ao saber da existência do “Homem Elefante” (John Hurt).

A grande sacada de Lynch nesse trabalho é não mostrar logo de início a caracterização do personagem central, o que aguça a curiosidade do público, prendendo-o a narrativa. Além disso, quando o faz, a ambientação das condições desumanas em que o homem vivia, em um beco imundo, com má alimentação e sempre doente, inquietam quem assiste, o que também é mérito da direção de fotografia de Freddie Francis (Cabo do Medo).

Foto: Divulgação

Ao leva-lo para o hospital onde trabalha, o Dr. Treves tenta entender melhor a vida daquela pessoa, que após várias sessões, começa a falar e se expressar, dando a entender que, apesar de todos os seus problemas, possui grande intelecto, sentimentos puros e até um nome, John Merrick, que havia sido esquecido por todos.

Com isso, há uma desconstrução do protagonista, que se mostra uma pessoa sentimental, de diálogos inteligentes e acima de tudo, longe do pré conceito instalado pelos demais, de que seria apenas um animal. Essa premissa é muito bem trabalhada pelo filme, especialmente com as visitas que ele recebia do próprio doutor do hospital, das enfermeiras e das pessoas que passaram a visita-lo “pós transformação”.

David Lynch quis, por meio de sua obra, mostrar o quão o ser humano pode ser desprezível, sempre usando das diferenças do próximo para alcançar algum ganho individual, seja ele monetário ou pessoal. A medida que a história se desenrola, vemos pessoas pagando para visitar o "homem elefante" no hospital, evidenciando que o personagem nunca deixou o circo em que vivia, ele apenas mudara de espaço.

Foto: Divulgação

O Homem Elefante é uma grande pedida para os amantes de um drama bem elaborado, reflexivo e que aborda o comportamento humano. Entendo que, em alguma fase da nossa vida, todos já nos sentimos como John Merrick, ou mesmo machucamos alguém como ele. Nascemos em um mundo dominado pelo capitalismo, em que o desprezo perante o próximo é latente. Enquanto pessoas de má fé estiverem cultivando tal sentimento, outras tantas serão atingidas. Exatamente como o “homem elefante”, ou, melhor dizendo, o grande artista John Merrick.

Excelente

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