CRÍTICA | Uma Noite de 12 Anos

Direção: Álvaro Brechner
Roteiro: Álvaro Brechner
Elenco: Antonio de la Torre, Chino Darín, Alfonso Tort, César Troncoso, entre outros
Origem: Uruguai / Espanha / Argentina / França / Alemanha
Ano: 2018


Uma Noite de 12 anos (La noche de 12 años) foi o filme pré-selecionado para representar o Uruguai na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro em 2019. Acabou ficando pelo caminho, é verdade, mas trata-se de uma obra essencial atualmente. A história retratada é lembrada até hoje no país e precisava ser contada para o restante do mundo.

A narrativa gira em torno de 3 guerrilheiros, nomeados Tupamaros, que foram presos durante um longo regime ditatorial no Uruguai. Eles são capturados e brutalmente torturados pelos militares.

Politicamente falando, o longa não menciona os acontecimentos anteriores, e penso que era essa a intenção do diretor e roteirista Álvaro Brechner (Sr. Kaplan). Aqui ele opta por aprofundar a vida daqueles homens já inseridos dentro desse contexto histórico. Suas ideias, lutas e vontades não são mostradas, mas sim o ódio impregnado contra aqueles que eram considerados comunistas e responsáveis por qualquer declínio econômico ou político do país. A vontade dos militares era de mostrar seu poderio e sua “ordem” por medidas banais. Essa passagem, que durou 12 anos, é muito bem retratada, pois analisa cada nuance do dia a dia dos personagens e o quanto tais ações os afetavam fisicamente e psicologicamente.

Foto: Divulgação

Os três guerrilheiros citados são José Mujica (Antonio de la Torre), Mauricio Rosencof (Chino Darín) e Eleuterio Fernandéz Huidobro (Alfonso Tort). Cada um deles é analisado sob duas óticas diferentes. A primeira, isoladamente, com flashbacks do passado recordando como era mágica a vida antes do ocorrido, bem como as reações de suas sobrevivências nos cativeiros. A segunda é uma tentativa de burlar todo o sistema impregnado, a comunicação por batidas nas paredes, tudo da pior maneira possível.

A análise cinematográfica, em certas ocasiões, não precisam ser perfeitas. A análise por trás da história, as vezes soa mais poderosa e essencial. Se dar conta de que tudo aquilo realmente aconteceu, que as famílias ficavam anos sem visitar os que amavam, e que, no final das contas, sua vida poderia ter fim num minúsculo cubículo, é difícil de conceber.

Algumas passagens são singulares, como quando Rosencof, um ótimo escritor, ajuda os militares a escreverem cartas para suas paixões. Um simples ato, mas com uma força significativa muito grande. Em meio a dor e o caos, uma pitada de amor e compreensão. Algo que senti falta, no entanto, foi o retrato da retomada da democracia. Mostrar a luta do povo seria importante para ratificar o quão valiosa é a liberdade de cada um.

Brechner conduz o filme de forma a valorizar a emoção a todo momento, com ótima utilização de enquadramentos e slow motions bem empregados, sendo impossível que o espectador não se comova de alguma forma.

Foto: Divulgação

Qualquer liberdade de expressão que lhe é tirada, especialmente quando força é usada, significa que é necessário se fazer algo. Faz parte do dever da população, através do voto, garantir que seus direitos não sejam feridos, rumando o país para a evolução, não ao retrocesso. Uma Noite de 12 Anos é uma síntese disso, ensinando, também, que um líder não está acima de seus governados, mas junto deles, algo que as vezes parecemos esquecer.

Ótimo

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