CRÍTICA | Amazônia Groove

Direção: Bruno Murtinho
Roteiro: Bruno Murtinho e Daniel Castro
Elenco: Dona Onete, Mg Calibre, Mestre Damasceno, Sebastião Tapajós, entre outros
Origem: Brasil
Ano: 2018


Em uma expedição artística na intenção de garimpar o que há de mais refinado e único na musicalidade que circunda a floresta amazônica e margeia o trajeto de seus rios, a equipe de Amazônia Groove trafega por nuances do Pará. Vão se deparando com uma pluralidade criativa e emocional que complica a atividade de encapsular uma síntese suficiente.

A investigação logo no início do documentário já se mistura com celebração, percebendo o quanto de nossa tradição musical é concomitante com ritualidades. É por meio do encontro das melodias e a ressonância de contos que passamos nossas histórias, oramos às nossas divindades e honramos nossos mortos. É um recurso para se reinterpretar faces da natureza - como fascinantemente ilustra uma dupla de pai e filho que caça os sons de aves específicas para mixar em uma orquestra que ecoe esse canto. Por meio de instrumentos musicais criados pelos indivíduos o mundo se transfere para novos sentidos.

Sem nenhum vínculo narrativo que guie a história, o filme é montado como uma sequência de personagens, indo de um para o outro com fluidez que ameniza o impacto do contraste percebido em cada expressão. Se em um homem que vive ao leito do rio descobrimos cordas feitas para sintetizar a floresta, nos personagens que formam a Gangue do Eletro que leva suas caixas de som para farrear com seus beats e auto-astral. Temos viola, brega e carimbó embalando os caminhos dessas histórias, repletas de entrevistados carismáticos.

Foto: Divulgação

O longa de estréia de Bruno Murtinho ganha diversos pontos pela sua preocupação em desviar de todos os cacoetes corriqueiros a uma equipe de filmagem que se desloca até uma localidade mais isolada do Brasil, como, por exemplo, infantilizar seus personagens e paternalizar suas condutas como se fossem criaturas inocentes, vítimas ou filhotes bonitinhos. Inclusive, sobre a não-inocência, temos um depoimento hilário vindo da cantora Gina Lobrista, enquanto vende seus CDs nas ruas portuárias com a ajuda do Seu Bacalhau.

A despeito de um apuro estético tão refinado vindo da fotografia exuberante de Jacques Cheuiche, não impera uma tonalidade de artificial nos planos fascinantes que recobrem o filme. Mas também a exaltação tão exacerbada do conjunto de elementos do filme chegam a elevar seus entrevistados a um nível quase desumano e bidimensional de magnífico, soando por demais reverente. Felizmente é uma sensação que desponta em poucos momentos, particularmente naqueles muito fabricados, mas sempre interrompido pelas personalidades que se seguem no compilado de Amazônia Groove.

É uma experiência divertida e generosa sem oportunismos clássicos do gênero, mas principalmente um estímulo de criatividade para todos que trabalham ou são entusiastas do ramo de produção musical. Parece que tudo que brota nas nossas terras já vem com seus próprios acordes.

Foto: Divulgação


Ótimo

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