CRÍTICA | História de um Casamento

Direção: Noah Baumbach
Roteiro: Noah Baumbach
Elenco: Adam Driver, Scarlett Johansson, Laura Dern, Rau Liotta, entre outros
Origem: EUA/Reino Unido
Ano: 2019

“Somebody crowd me with love
Somebody force me to care
Somebody make me come through
I'll always be there
As frightened as you to help us survive,
Being alive, being alive, being alive, being alive.”

O trecho acima faz parte de uma das canções mais emocionantes da Broadway, "Being Alive" do musical Company de Stephen Sondheim. Na peça norte-americana, o protagonista Bobby vive uma crise existencial, no auge dos 35 anos, pois é o único solteiro do seu grupo de amigos. Durante a música, ele começa a listar tudo o que acha negativo e sufocante no casamento para, logo em seguida, encontrar sentido em todo esse caos. Tudo o que antes lhe repugnava, agora lhe desperta desejo. 

História de um Casamento (Marriage Story) sabe do significado dessa canção, já que ela - na voz de um dos protagonistas - dá o tom para a narrativa escrita e dirigida por Noah Baumbach (Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe).

Estrelado por Adam Driver (Infiltrado na Klan) e Scarlett Johansson (Vingadores: Ultimato), o filme foca na trajetória do casal Charlie e Nicole durante o seu traumático divórcio. Porém, se engana quem pensa que o foco aqui é somente a separaçã. A obra fala, na verdade, sobre como é difícil compartilhar a vida com outro ser humano. E se tratando de um casamento, às vezes, amor não é o suficiente. 

Foto: Netflix

Charlie (Driver) é um renomado diretor de teatro em Nova York, onde vive com a esposa e o filho pequeno. Nicole (Johansson) também está envolvida no mundo das artes, pois atua como protagonista de todas as peças da companhia teatral do marido. Nascida e criada em Los Angeles, ela abandonou sua antiga vida - e uma promessa em Hollywood - para se dedicar ao casamento. A grande questão é que, com o passar dos anos, Nicole começa a perceber o quão sufocada está dentro da relação, ao ponto de não se enxergar mais como um indivíduo independente. 

Não é precisar muito para afirmar que Scarlett Johansson entrega com naturalidade todos os nuances de uma mulher em crise. O destaque fica para a tocante cena em que a protagonista confessa todas as suas dores para sua advogada, Nora (Laura Dern). É nesse momento que percebemos o tamanho da vulnerabilidade de uma mulher aparentemente tão forte. Da mesma forma, nosso olhar também se volta para a pequena, porém, poderosa participação de Laura Dern (O Conto). Seu monólogo de poucos minutos rouba a cena, ao denunciar o peso existente sobre as mulheres-mães, que devem seguir um cruel estereótipo de perfeição imposto pela sociedade. 

"Você tem que ser perfeita, mas Charlie pode ser um desastre. Você sempre será colocada no nível mais alto. Você é uma fodida, mas é assim que é.”

Assim como o elenco feminino, Adam Driver também impressiona, já sendo cotado para a categoria de melhor ator no Oscar 2020. Para além da aparência de "gênio-artista", seu personagem revela inúmeras falhas, que são muito bem incorporadas pelo interprete. Sua atuação honesta e, em muitos momentos, visceral, traz profundidade a Charlie, que se torna extremamente plausível aos olhos do espectador. 

Foto: Netflix

Aliás, o grande trunfo de História de um Casamento está em criar identificação e empatia com  seus protagonistas. O roteiro de Baumbach retrata com maestria um tortuoso momento da vida de muitas pessoas. Para a condução da narrativa, cada detalhe importa, portanto, conflitos não resolvidos, palavras não ditas e até o gesticular do casal ajudam a criar tensão e conflito. Seus personagens, longe de serem caricatos, representam pessoas reais, que comentem erros e acertos. Como espectador, é impossível não escolher um lado para defender - para, logo em seguida, mudar de ideia, e depois novamente. 

O longa vem sendo considerado por boa parte da crítica como o melhor trabalho de Noah Baumbach, bem como as melhores atuações da carreira de Johansson e Driver. Sem dúvida, o diretor adepto do "mumblecore" (movimento de cinema independente que foca em narrativas corriqueiras e com grande realismo emocional) conseguiu alçar um novo patamar cinematográfico, consagrando sua obra como obrigatória para qualquer cinéfilo. Ou simplesmente, eu diria, para qualquer um que ame boas histórias.

Excelente

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