CRÍTICA | Viagem a Darjeeling

Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson, Roman Coppola e Jason Schwartzman
Elenco: Owen Wilson, Adrien Brody, Jason Schwartzman, Anjelica Huston, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2007


Antes de falar sobre Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited) é preciso comentar a respeito de Hotel Chevalier (2007), curta-metragem que serve como prólogo para o longa em questão. Nele somos apresentados a Jack Whitman (Jason Schwartzman), personagem que está vivendo em um hotel em Paris por algum tempo, na expectativa de encontrar a mulher amanda, vivida por Natalie Portman (Vox Lux: O Preço da Fama).

O que impressiona no curta é habilidade que Wes Anderson (A Vida Marinha com Steve Zissou) possui de apresentar personagens profundos em um pequeno espaço de tempo. Estamos falando aqui de 13 minutos em que conhecemos a personalidade e as amarguras de dois amantes através de diálogos, vestimentas, características físicas, postas em tela com invejável precisão. Soma-se a isso as belas cenas em câmera lenta ao som de "Where Do You Go To My Lovely", de Peter Sarstedt, e temos então uma pequena obra-prima, que abre as portas para a viagem que Jack participará em seguida.

Viagem a Darjeeling começa com um momento bem-humorado, quando Anderson nos apresenta a Bill Murray (Três é Demais) correndo para pegar um trem que está partindo. O espectador desavisado poderia acreditar que aquele seria o protagonista da narrativa, mas logo o personagem de Adrien Brody (O Grande Hotel Budapeste) o ultrapassa na corrida, deixando claro que a trama é dos irmãos Whitman. Mais precisamente Francis (Owen Wilson), Peter (Brody) e Jack, que já nos fora apresentado.

Foto: Fox Searchlight Pictures

Anderson repete uma premissa similar a de Os Excêntricos Tenenbaums, já que temos no holofote uma família em frangalhos tentando se reencontrar. A diferença aqui é a ambientação, que tem a Índia não apenas como cenário, mas como personagem da história. É a oportunidade que o cineasta encontrou para homenagear um país cuja cultura é admirador notável. E isso é visto em tela com o respeito e a beleza visual que lhe são características.

É preciso destacar o design de produção do filme, que criou todos os vagões que vemos em tela. Um desafio técnico considerável, já que filmar em espaço confinado é um terror para qualquer cinematógrafo ou diretor. Onde colocar a câmera para garantir o melhor enquadramento? Como movimenta-la? Como garantir a dinâmica entre os atores? São perguntas respondidas visualmente em tela, sempre de forma criativa e bem-humorada, como na cena em que os três irmãos reúnem-se no beliche após Jack transar com Rita (Amara Karan), a comissaria de bordo - cuja participação é pequena, mas marcante.

Evidentemente as locações não ficam atrás, já que visitamos centros indianos, templos religiosos, campos e vilas afastadas, conhecendo seu povo e costumes. Trata-se de uma obra realmente rica do ponto de vista cultural, o que só a engrandece cinematograficamente. É uma pena, porém, que acabe muitas vezes esquecida por muitos em meio a rica filmografia de seu cineasta. Um pecado, na opinião deste que vos escreve.

No que diz respeito ao elenco, a dinâmica e o entrosamento do trio de protagonistas, todos com características bem definidas e sendo desconstruídos a todo momento, são a alma da projeção. Gosto particularmente do trabalho de Owen Wilson (Pura Adrenalina), cujo rosto é coberto de bandagens por quase toda a jornada, e o momento em que ele as tira um tesourinho do cinema. É interessante notar como sua liderança é totalmente inspirada na mãe, Patricia (Anjelica Huston). No momento em que ela surge em tela brevemente isso fica evidente.

Foto: Fox Searchlight Pictures

Viagem a Darjeeling pode não ser um dos filmes mais aclamados da filmografia de Wes Anderson de um modo geral, mas certamente o é para mim, pois foi o primeiro filme do cineasta que tive a oportunidade de assistir no cinema e, portanto, guardo um carinho especial pela obra. E como costuma acontecer em quase toda obra do diretor, a canção "This Time Tomorrow", do The Kinks, jamais deixou minhas playlists.

Ótimo

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