CRÍTICA | Império do Sol

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Tom Stoppard
Elenco: Christian Bale, John Malkovich, Joe Pantoliano, Ben Stiller, Miranda Richardson, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1987


Não é difícil reconhecer um filme de Steven Spielberg (A Cor Púrpura), principalmente após a sua espetacular ascensão no fim da década de 1970 e início da década de 1980. Partindo deste ponto de sua carreira, o diretor - que também é produtor da maioria de seus filmes - criou uma identidade estética e narrativa bastante características e que o consagrariam como uma das maiores referências do cinema norte-americano nos gêneros aventura, drama e ficção científica.

Em 1987, porém, o cineasta iniciaria o que viria a se tornar um dos temas mais trabalhados por ele: a abordagem histórica das diversas guerras que fazem parte do século passado e que marcaram as transformações da humanidade de maneiras muito específicas. Neste ano, Império do Sol (Empire of the Sun) estreava nos cinemas, sob sua direção e produção, com roteiro de Tom Stoppard (Brazil: O Filme). Uma adaptação do livro homônimo baseado nas experiências biográficas do escritor J.G. Ballard.

Acompanhamos a história de Jim Graham (Christian Bale), um garoto inglês de família rica que nasceu e mora em Xangai. O longa situa-se inicialmente no ano de 1941, momento em que China e Japão estão em um confronto regional paralelo a todos os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Quando os japoneses ocupam Xangai, Jim e sua família são obrigados a deixar a cidade e é neste momento que o garoto se perde dos pais, iniciando uma longa jornada solitária de sobrevivência.

Foto: Amblin Entertainment

Jim é o protagonista que nos guiará pelos acontecimentos da Segunda Guerra, fazendo da obra uma espécie de coming of age, levando-nos a acompanhar seu amadurecimento e transformações neste contexto extremamente hostil.

Após se perder dos pais, o garoto logo entende que precisa agir por conta própria para sobreviver e acaba se envolvendo com pessoas aproveitadoras e situações perigosas que contrastam com a inocência infantil de sua personalidade e dão o tom dramático das diversas situações degradantes que o menino presenciará no decorrer do longa. Uma das pessoas que cruzam seu caminho é fundamental para seu crescimento: o negociante Basie (John Malkovich), que se aproveita da confiança do garoto e a usa para benefício próprio, gerando um vínculo afetivo (e abusivo) que Jim tenta alimentar a todo custo em busca de aceitação e companhia.

Há outros personagens secundários que compõem o desenvolvimento do protagonista, especialmente no segundo ato do filme, quando a história se passa no campo de concentração de Soochow, quatro anos após os eventos em Xangai. À essa altura, Jim nos surpreende com toda a desenvoltura que adquiriu ao longo do tempo que passou para negociar com os companheiros de campo, mesclando autonomia e bondade em sua forma de ajudar quem está ao seu redor e conquistando o respeito até mesmo de soldados japoneses.

A composição do jovem Christian Bale (Batman: O Cavaleiro das Trevas) para o personagem é encantadora, revelando o talento nato do ator. Jim é a típica criança hiperativa, curiosa e destemida, e Spielberg o conduz com maestria, exibindo em diversos momentos a incorporação aventureira e dramática do personagem em conformidade com as mudanças da história.

É válido ressaltar o fascínio do personagem pela aviação, uma composição que faz parte da decoração de seu quarto na rica mansão em que vive com os pais até o seu pequeno dormitório no campo de concentração. Há diversas capturas poéticas na lente de Spielberg que retratam essa paixão de Jim. Um recurso muito bem encaixado é o garoto japonês que também quer se tornar piloto, criando uma aproximação com o protagonista que vai além dos "dois lados da guerra". Essa relação com os aviões também situa ao espectador, de forma sutil, nas transformações do conflito no mundo exterior.

Foto: Amblin Entertainment

Soma-se a tudo isso a cinematografia de Allen Daviau (E.T.: O Extraterrestre), que é parte fundamental na composição da beleza estética do filme, utilizando-se constantemente dos tons do sol poente e da bandeira do Japão em momentos cruciais, dialogando com o contexto regional da história. Ao mesmo tempo, a colaboração de décadas entre Spielberg e John Williams (Tubarão) rende uma das mais belas trilhas sonoras do compositor, com destaque para a canção "Suo Gân", que emociona em duas cenas importantíssimas para o personagem principal.

Em Império do Sol, Spielberg pode até abusar um pouco do sentimentalismo em alguns momentos, mas mostra o quanto sabe conduzir o espectador como poucos, criando momentos de comoção e cenas marcantes que ficam registradas em nossa memória. A história de Jim, e de todos aqueles que estavam a sua volta, é o retrato de um momento triste da história da humanidade, mas que, sob o olhar de um diretor genial, dá um novo sentido para a palavra "esperança".

Ótimo

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