O Poderoso Chefão no Cinema


Como bom cinéfilo que sou, sempre fantasiei com a ideia de poder assistir grandes clássicos da sétima arte em uma sala de cinema. Não era um desejo muito absurdo, afinal, fora do país há salas que exibem filmes de décadas passadas para aqueles que os apreciam, ainda que seja um mercado cada vez menos aquecido com a chegada da alta definição ao home video, o conhecido bluray. No entanto, parecia esse um desejo cada vez mais distante de acontecer por aqui. Até outro dia.

Imaginem o tamanho de minha surpresa quando, no mês passado, filmes como Taxi Driver (idem, 1976), Pulp Fiction (idem, 1994)Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971), entre outros, entraram em cartaz por alguns dias nas salas da rede Cinemark. Achei a iniciativa fantástica e já fazia planos para assistir pelo menos as 3 obras citadas quando, infelizmente, descobri que a campanha não viria para Santos, cidade onde nasci e resido. Viajar para a Capital também parecia fora de cogitação, visto que estava prestes a entrar de férias no trabalho e a demanda diária me consumia cada vez mais. Ok, confesso que a logística e a parte financeira também pesaram. Pois bem, a primeira leva de clássicos passou.

Veio a segunda fase, com novos títulos, tão marcantes quanto os anteriores. Entre os filmes escolhidos estava aquela que é a obra favorita deste que voz fala: O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972). Mais que isso, dessa vez a rede de cinemas resolveu trazer a ação para a minha cidade. Juntem as peças comigo. Eu não apenas teria a oportunidade de assistir clássicos cinematográficos na grande tela, como poderia assistir o meu filme favorito em uma sala de cinema. Sensacional! Mas mais surpresas viriam pela frente.

Garanti meu ingresso o quanto antes e ontem cheguei a sala para, enfim, presenciar Marlon Brando como Don Corleone, da forma como a obra foi projetada para ser exibida. Infelizmente (e essa é a segunda vez que uso o adjetivo neste relato) o Cinemark do Shopping Praiamar decepcionou dezenas de fãs que lá estavam presentes, ao exibir o filme em áudio original e sem legendas. Não, vocês não leram errado, foi exatamente isso que aconteceu. Exibir uma sessão dublada seria quase um sacrilégio, mas é evidente que, estando no Brasil, grande parte da população necessita da legenda. A justificativa aos clientes só veio após aproximadamente 20 incríveis minutos de projeção e algumas idas e vindas de espectadores que tiveram que levantar para reclamar. Foi alegada falha técnica e todos teriam 2 opções: retirar seu dinheiro de volta ou assistir à obra sem legendas. Como consigo me virar bem com a língua inglesa (e por não querer perder aquela oportunidade tão esperada) permaneci na sala junto de mais 6 ou 7 cinéfilos e curti cada um dos 175 minutos do clássico, porém, confesso ter ficado chateado por ver a sala esvaziar perante a falha grave do Cinemark.

Percalços a parte, pude apreciar na grande tela a transformação do herói de guerra Michael Corleone no Don, que ele viria a ser por mais 2 filmes. Pude ouvir em alto e bom som as tarantelas italianas e a inesquecível trilha sonora que faz O Poderoso Chefão ser reverenciado quando e onde ela é tocada. Pude rever cenas absolutamente marcantes como o casamento de Connie, a tentativa de assassinato a Don Vito, o desfecho de Santino, a união de Michael e Apollonia na Sicília, o famoso batizado no ato final. Tudo na grande tela, onde a magia do Cinema acontece, com a sala escura, som apropriado e nada além da imensa projeção nos transportando para outro mundo, ainda que apenas por alguns momentos.

E como não citar as frases marcantes? "I'm gonna make him an offer he can't refuse" ou "Leave the gun, take the cannoli". Foi como assistir ao filme pela primeira vez novamente. Ok, não exatamente, mas quem é fã com certeza vai me entender.

Aos 26 anos de idade, posso dizer tranquilamente que essa foi uma das experiências mais marcantes que vivi como cinéfilo e pretendo guardá-la com carinho, renovando a minha paixão pela arte a cada novo encontro marcado com a Família Corleone. Afinal, um homem que não passa tempo com sua família não pode ser considerado um verdadeiro homem. Don Vito já dizia, quem sou eu para discordar.


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