CRÍTICA | Star Wars: A Ascensão Skywalker

Direção: J.J. Abrams
Roteiro: J.J. Abrams e Chris Terrio
Elenco: Daisy Ridley, Adam Driver, John Boyega, Oscar Isaac, Carrie Fisher, Billy Dee Williams, entre outros 
Origem: EUA
Ano: 2019


Star Wars é um produto. Seus filmes sempre serviram como uma espécie de centro de uma engrenagem de merchandising muito maior. Os lucros com a infinidade de brinquedos e produtos licenciados que a marca possui espalhados pelo mundo continuam sendo sua maior fonte de renda até hoje (ainda que não viva os tempos áureos). O que de certa forma justifica quando alguém afirma que “Star Wars serve só para vender bonequinho”. E atire a primeira pedra quem nunca comprou nada relacionado.

Star Wars é paixão. Difícil ver outra franquia que mexa tanto com o imaginário popular - talvez os filmes da Marvel Studios atualmente? Uma relação de amor e ódio, é bem verdade, já que os erros são combatidos com o mesmo fervor com que os acertos são celebrados, especialmente em tempos de redes sociais. Mas o que é certo ou errado na visão do espectador? Trata-se de um conceito muito subjetivo e que varia de pessoa para pessoa.

Isso posto, Star Wars: A Ascensão Skywalker (Star Wars: The Rise of Skywalker) é uma tentativa desesperada de agradar a todos. A busca por fazer da franquia menos produto e mais paixão, por assim dizer, ainda que uma classificação alimente a outra. E talvez por isso seja tão decepcionante, pois ao tentar ser tudo, é, ao mesmo tempo, quase nada.

Foto: Lucasfilm

Alguns anos se passaram desde Os Últimos Jedi (2017). Enquanto Rey (Daisy Ridley) está sendo treinada nas artes da Força pela General Leia (Carrie Fisher), Poe (Oscar Isaac) e Finn (John Boyega) realizam missões no espaço em nome da Resistência/Rebelião. Longe dali, Kylo Ren (Adam Driver) descobre que o Imperador Palpatine (Ian McDiarmid) ainda vive, algo que muda por completo o rumo da guerra nas estrelas.

Como a proposta dessa crítica é falar do filme sem spoilers, me limitarei apenas às revelações já entregues pelos trailers. A maior delas é, claro, o retorno de Palpatine, a maior “correção” de roteiro dessa trilogia (talvez até da saga). O fato de não haver qualquer menção ao personagem nos dois capítulos anteriores enfraquece demais a escolha e o próprio desfecho apresentado, já que quase todas as ações de A Ascensão Skywalker giram em seu entorno. Aliás, o longa tem uma espécie de prólogo onde o personagem é re-apresentado, algo que ao meu ver se torna uma prova de fogo: se você gostar do que foi apresentado ali, provavelmente irá curtir o resultado final; se não, terá problemas para aceitar muitas das ideias propostas a seguir (o caso deste que vos escreve).

Se isso não bastasse, o roteiro de J.J. Abrams (Além da Escuridão: Star Trek) e Chris Terrio (Liga da Justiça) pouco tem a acrescentar aos arcos narrativos dos principais personagens dessa trilogia. Poe e Finn tornam-se coadjuvantes de luxo. Rose (Kelly Marie Tran), que já fora coadjuvante de luxo, torna-se quase uma figurante aqui, o que é profundamente lamentável se considerarmos todos os descabidos ataques que sua interprete sofreu de fãs xiitas. A quase exclusão da personagem soa como uma validação dos realizadores para esse tipo de comportamento. Ao menos Rey retomou o protagonismo que havia perdido para Luke Skywalker (Mark Hamill) no capítulo anterior, se destacando principalmente nas cenas de ação, já que agora é uma jedi treinada. Por outro lado, as reviravoltas sobre o seu passado e os conflitos que ela enfrenta são bastante questionáveis, para se dizer o mínimo.

Foto: Lucasfilm

Outro ponto delicado é a utilização da imagem de Carrie Fisher (Hannah e Suas Irmãs). Como as filmagens aconteceram após o falecimento da atriz, todas as cenas em que ela está presente são frames não utilizados em filmes anteriores e adaptados para encaixar no roteiro desse episódio. Por vezes é perceptível que o roteiro se adapta a imagem, já que haviam poucas alternativas. E ainda que os realizadores tenham feito o melhor que puderam, o resultado é bastante limitado, nos fazendo questionar se não seria mais interessante ter solucionado a ausência da personagem através do roteiro, da mesma forma que fizeram com o retorno de Palpatine. A diferença é que a mudança seria plenamente justificável e talvez mais respeitosa com a memória de Fisher.

Mas nem tudo são agruras. É importante destacar que a opção por juntar Rey, Poe, Finn, Chewbacca (Joonas Suotamo), C-3PO (Anthony Daniels) e BB-8 em aventuras a bordo da Millennium Falcon foi acertada. A dinâmica entre os personagens é muito bem-vinda e divertida, gerando os melhores momentos desse Episódio IX.

Além disso, essas aventuras nos levam a novos planetas, que são muito bem caracterizados, fruto do excelente design de produção da franquia. Os novos locais nos apresentam a novos personagens, novas criaturas, novas culturas intergalácticas e ajudam a expandir o já imenso (mas não tão bem explorado) universo de Star Wars nas telas. Eu adoraria, por exemplo, ver uma série spin-off da dupla Poe e Zorii Bliss (Keri Russell), ainda que a personagem tenha sido claramente inserida para dar fim aos rumores de um possível relacionamento entre Finn e o melhor piloto da galáxia.

Foto: Lucasfilm

Contando ainda com um tímido retorno de Lando Calrissian (Billy Dee Williams), além de ótimos efeitos especiais e uma trilha sonora arrebatadora (algo comum na saga), Star Wars: A Ascensão Skywalker é uma tentativa desenfreada de resgatar os fãs mais fervorosos de uma franquia que aos poucos tem empalidecido perante a concorrência. Talvez seja a hora de deixar um pouco de lado a paixão dos fãs e a sede por vender brinquedos, priorizando um bom roteiro acima de tudo. O restante é consequência.

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