CRÍTICA | Jogada Decisiva

Direção: Spike Lee
Roteiro: Spike Lee
Elenco: Denzel Washington, Ray Allen, Milla Jovovich, Rosario Dawson, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1998


Quem conhece minimamente a trajetória do Spike Lee (Infiltrado na Klan) provavelmente sabe o quão apaixonado ele é pelo basquete. Fã ardoroso e frequentador dos jogos do New York Knicks, na NBA, o diretor inclusive aparece em alguns momentos da série documental Arremesso Final (2020), ora dirigindo o primeiro comercial do Air Jordan, ora provocando o próprio Michael Jordan (Space Jam: O Jogo do Século) em quadra, durante uma partida contra o Chicago Bulls.

Essa paixão fica evidente logo na abertura de Jogada Decisiva (He Got Game), quando vemos uma montagem de pessoas de diversas raças, gêneros e classes sociais praticando o esporte em quadras, calçadas e ruas, sozinhos ou em equipe. O basquete, assim como o futebol, é uma modalidade que abraça a todos, tamanha a facilidade de se pratica-lo, basta uma bola e um caixote - que pode servir como aro. É como se o diretor dissesse ao espectador que é ali, nas ruas, que a modalidade vive de verdade. Na paixão daqueles que a praticam.

Ainda que o esporte seja o fio condutor da narrativa e estabeleça todo o universo que estamos adentrando, o roteiro escrito pelo próprio Spike trata, na verdade, de uma conturbada relação de pai e filho. Dos acontecimentos que o fizeram chegar até ali e o que será deles dali em diante.

Foto: Touchstone Pictures

Jake Shuttlesworth (Denzel Washington) é um homem condenado por assassinato, que passa os dias de seu encarceramento treinando lances livres. Certo dia, o diretor da prisão o convida para sua sala para tratar de um assunto peculiar. Seu filho, Jesus (Ray Allen) é um promissor jogador de basquete  escolar prestes a se formar, e chegou a hora de escolher em qual universidade irá estudar/jogar. É do interesse do governador do estado que ele escolha uma instituição específica e, para isso, Jake ganha liberdade condicional de 7 dias para tentar convencer o filho a fazer a escolha desejada pelo político. Em troca, ganharia uma redução considerável em sua pena.

Elogiar a atuação de Denzel Washington (Malcolm X) é pleonasmo, ainda assim é gratificante ver sua versatilidade. Apesar de dividir o protagonismo com o modesto Ray Allen (O Garoto de Harvard), o ator rouba todas as cenas em que aparece, magnético em tela como um homem que errou muito na vida, pensa em benefício próprio em diversos momentos, mas que no fundo se importa com os filhos que deixou para trás quando foi preso. Seu Jake não é um personagem amável, pelo contrário, até certo ponto é difícil do espectador simpatizar com ele, mas são as nuances do trabalho de Denzel que fazem com que não desistamos dele.

Ainda sobre o elenco, vale citar os nomes de Milla Jovovich (Hellboy) e Rosario Dawson (À Prova de Morte), ambas em início de carreira, mas fazendo bons trabalhos como uma prostituta local e a namorada de Jesus, respectivamente.

E se as boas atuações chamam atenção, o mesmo podemos dizer da habilidade de Spike Lee em retratar um local, uma realidade, a cultura do negro norte-americano. Boa parte da trama se passa nas periferias de Coney Island, em Nova York, local que o diretor conhece como a palma da mão, já que sempre orgulhosamente declara ser um cidadão do distrito do Brooklyn.

Foto: Touchstone Pictures

Jogada Decisiva até pode soar como uma obra menor dentro da filmografia de um cineasta tão reconhecido, mas jamais deixa de ser relevante em suas críticas sociais e na forma como declara seu amor por um esporte tão popular entre os norte-americanos. Na dúvida, lembre-se de Spike e Denzel, e saberá que está em boas mãos.

Bom

Comentários