CRÍTICA | O Hospedeiro

Direção: Bong Joon Ho
Roteiro: Bong Joon Ho, Won-ju Ha e Chul-hyun Baek
Elenco: Kang-ho Song, Hee-Bong Byun, Hae-il Park, entre outros
Origem: Coréia do Sul
Ano: 2006


Bong Joon Ho (Cão Que Ladra Não Morde) pode ter ganhado notoriedade no ocidente com o estrondoso sucesso de Parasita (2019), mas a filmografia do cineasta sul-coreano está recheada de trabalhos mais que valem a pena conferir. O Hospedeiro (Gwoemul), longa lançado em 2006, é um bom exemplo, um de seus primeiros trabalhos a chamar a atenção de Hollywood, além de ter ocupado o topo das bilheterias na Coréia do Sul.

Explorando o universo dos monstros, o diretor se inspirou em obras japoneses do gênero, porém, sem abrir mão de sua própria identidade narrativa. Assim como em outros de seus longas, a premissa simples de O Hospedeiro é apenas um chamariz para críticas sociais mais profundas.

No centro da trama está a família Park, que vive e trabalha em uma barraca de comida as margens do Rio Han. O patriarca Hie-bong (Hee-Bong Byun), e seus três filhos, se vêem obrigados a deixar as diferenças de lado quando um monstro mutante criado pela poluição industrial surge aterrorizando a cidade de Seul, levando com ele a pequena Hyun-seo (Ko Asung).

Foto: Chungeorahm Film

Logo na na cena inicial - que foi baseada em eventos reais - vemos um cientista norte-americano mandando seus assistente despejar centenas de frascos de formaldeído direto no esgoto de Seul. Anos mais tarde, o ato inconsequente dá origem ao monstro da trama, uma mistura de peixe com alguma espécie de réptil.

Assim é a narrativa dirigida por Bong, repleta de "alfinetadas" bem direcionadas como a descrita acima, mas sem deixar de lado reflexões sobre a crescente destruição do meio ambiente. Entretanto os Estados Unidos não é o único alvo das críticas, já que o descaso do próprio governo da Coréia do Sul também é explorado, assim como, o papel desempenhado pelo sistema capitalista como um todo dentro dessa problemática. 

Um dos destaques de O Hospedeiro é o personagem Park Gang-Doo, filho mais velho da família e pai da menina desaparecida. O retrato criado em torno do protagonista - estrelado pelo ator Kang-ho Song (Memórias de um Assassino), colaborador habitual de Bong - é feito de forma propositalmente caricata e cômica. Apesar de ser o filho mais velho, é visto por toda família como "inútil" e "lento", sendo, o responsável por "perder" a filha durante o ataque do monstro mutante. Contudo, até mesmo esse comportamento, nas mãos de Bong, ganha contornos de crítica social, já que em determinado momento o patriarca Hie-bong explica as ações infantilizadas do filho, que teve o seu desenvolvimento prejudicado devido à falta de uma alimentação rica em proteína na infância. 

A capacidade de Bong Joon Ho de transitar entre gêneros diferentes ao longo de sua filmografia - ou mesmo dentro de uma mesma obra - impressiona. Sem dúvida já se tornou uma de suas marcas registradas. Ao unir o drama de uma dinâmica familiar problemática, críticas sociais ácidas e o suspense de uma perseguição a uma criatura perigosa, o diretor entrega um filme de valor inigualável e que supera, demais, comparações com os seus compatriotas japoneses ou norte-americanos. 

Foto: Chungeorahm Film


Ótimo

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