CRÍTICA | O Plano Perfeito

Direção: Spike Lee
Roteiro: Russell Gewirtz
Elenco: Denzel Washington, Clive Owen, Jodie Foster, Christopher Plummer, Willem Dafoe, Chiwetel Ejiofor, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2006


Spike Lee (A Última Noite) é conhecido por dirigir obras que discutem questões raciais com afinco. Por esse ponto de vista, O Plano Perfeito (Inside Man) até pode parecer uma tentativa de produzir algo mais comercial, no entanto, é críticas sociais são discutidas de maneira sutil, pedindo a atenção do espectador aos mínimos detalhes, graças ao olhar afiado que o cineasta tem sobre a sociedade norte-americana contemporânea.

Escrito por Russell Gewirtz (As Duas Faces da Lei), o longa inicia com o confiante Dalton Russell (Clive Owen) olhando diretamente para a câmera e afirmando que cometeu o roubo perfeito. A partir daí, acompanhamos o sujeito e seus três comparsas invadindo um grande banco situado em Manhattan e tomando todos lá presentes como reféns. 

O prédio logo é cercado por policiais e a negociação com os bandidos passa a ser feita por Keith Frazier (Denzel Washington), um detetive de segundo escalão que é obrigado a assumir o caso. Enquanto isso, o dono do banco assaltado, Arthur Case (Christopher Plummer), decide contratar os serviços de uma influente mulher, Madeline White (Jodie Foster), a fim de garantir que o conteúdo de uma caixa-forte particular não seja descoberto.

Foto: Universal Pictures

A obra vai além da disputa entre mocinhos e bandidos, fugindo dos clichês de filmes de assalto a banco. Aqui, os verdadeiros vilões são as pessoas de maior poder financeiro, com fortunas que são construídas muitas vezes de forma totalmente antiética. Por esse motivo, o roteiro acaba humanizando os assaltantes em diversos momentos, enquanto trata de maneira fria aqueles que defendem os interesses do banco, algo que pode ser visto através da personagem de Jodie Foster (Taxi Driver), que mostra como as ações de pessoas do alto escalão são discretas e sem holofotes, como o verdadeiro plano perfeito para enriquecer.

Denzel Washington (Malcolm X), por sua vez, traz uma composição carismática, mostrando como encara seu trabalho com bom humor e tornando impossível que o espectador não torça pelo protagonista. Já Clive Owen (Projeto Gemini), sempre no controle da situação, traz sempre uma voz serena e imponente, algo fundamental, já que passa boa parte do filme de máscara. 

O longa ainda apresenta críticas mais sutis, como na cena onde um árabe apanha da polícia apenas por sua religião, ressaltando a seletividade da polícia norte-americana. É curioso perceber como o capitão vivido por Willem Dafoe (O Farol), por exemplo, logo procura evitar complicações políticas ao tentar convencer o sujeito de que este se enganou ao ouvir a palavra “árabe”. Além disso, há ainda um questionamento discreto sobre a ganância humana, uma vez que todos os personagens ali têm interesses por trás de suas atitudes. E não há como ignorar a crítica feita ao mostrar um garotinho que se diverte com um jogo que obviamente enaltece a violência e o desrespeito à Lei.

Há também o elemento de entretenimento em O Plano Perfeito. Destacando o grau de perfeição da estratégia dos bandidos, Spike Lee utiliza de planos-sequência dentro do banco e opta por planos panorâmicos para fazer com que o público tenha percepção dos ambientes onde os eventos ocorrem. A edição contribui pontuando bem a ação de policiais e ladrões, ressaltando como um lado interfere no outro. Todos esses recursos tornam a obra dinâmica, com um bom ritmo e atrativa visualmente.

Foto: Universal Pictures

Apesar de ser uma produção que se diferencia das demais em sua carreira, Spike entrega um resultado satisfatório, como na maioria de seus trabalhos. O Plano Perfeito é um filme tenso e intrigante que, além de contar com personagens interessantes, confere uma nova perspectiva ao manjado subgênero de “assalto a banco” através de uma estrutura narrativa curiosa, que demonstra que ainda é possível tirar conceitos diferentes de uma proposta já batida.

Ótimo

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