CRÍTICA | Chi-Raq

Direção: Spike Lee
Roteiro: Spike Lee e Kevin Willmott
Elenco: Nick Cannon, Teyonah Parris, Wesley Snipes, Samuel L. Jackson, Angela Bassett, Jennifer Hudson, John Cusack, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2015


Chicago é uma das mais conhecidas e belas cidades dos Estados Unidos. Seu centro financeiro, repleto de arranha-céus que se misturam com uma arquitetura histórica clássica, dão um ar especial e pitoresco a esse famoso centro urbano. No entanto, tal como muitas outras grandes metrópoles urbanas, Chicago tem também uma periferia pobre e que vive à margem da riqueza de poucos. E é nessa periferia, conhecida como Southside (Zona Sul), a qual é majoritariamente negra, que Spike Lee (Oldboy: Dias de Vingança) desenvolve, e remodela, a comédia grega Lisístrata.

Utilizando a peça de Aristófanes como esboço, Spike e seu co-roteirista Kevin Willmott (Infiltrado na Klan) propõem, em Chi-Raq (2015), um debate intenso sobre a violência provocada pelas gangues, a obsessão da população estadunidense por armas de fogo e o abuso de instituições que suprimem reivindicações sociais. 

Outra questão importante do filme vem logo no início: antes de buscar a paz no exterior, os Estados Unidos deveriam promover a paz local. Spike traz estatísticas provando que mais estadunidenses morrem na periferia de Chicago do que em qualquer uma das guerras atuais (Iraque, Afeganistão). O nome do filme, Chi-Raq, inclusive, é apelido real dado à Chicago e advém justamente da semelhante violência vivenciada pelas populações da periferia daquela opulente cidade do meio-oeste norte-americano e do Iraque. 

Foto: 40 Acres & A Mule Filmworks

Assim como em outros de seus trabalhos, o diretor utiliza do humor sarcástico para escancarar pontos que muito afligem a comunidade negra norte-americana. Em Chi-Raq, a morte de uma criança por uma bala perdida é a gota d’água que acorda o povo de Southside. Em meio a protestos e lamentações, a ideia para trazer paz à periferia é de Lysistrata (Teyonah Parris). Namorada de Demetrius Dupree (Nick Cannon) - ou Chi-Raq - que é o líder de uma das duas gangues dominantes do bairro, ela é aconselhada pela ativista Miss Hellen (Angela Basset) e reúne várias mulheres da comunidade para as convencer a fazer guerra de sexo. Esperando que isso faça com que as gangues (lideradas por machos) assinem um tratado de paz. Lysistrata e suas seguidoras causam uma revolução local – e em certo momento mundial – mas demoram para conseguir algum efeito. E sofrem também, porque, afinal, as mulheres não transam apenas para satisfazer seus homens, mas porque gostam.

Embora aclamado pela crítica, Chi-Raq é um filme difícil, especialmente para uma audiência não-estadunidense. O filme é longo - 127 minutos - e a edição deixa a trama um pouco truncada e, por isso, cansativa. Com atuações propositadamente exageradas e diálogos em forma de poesia rimada, o longa-metragem é um protesto em forma de arte, algo que Spike Lee está acostumado e faz muito bem. 

Num momento em que grande parcela da população dos Estados Unidos toma as ruas para exigir reformas e demandar igualdade, Chi-Raq é uma obra necessária que expõe sem meandros as evidentes contradições desse país que se autodeclara "terra da liberdade". 

Foto: 40 Acres & A Mule Filmworks


Bom


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Lívia Campos de Menezes é apaixonada por filmes, séries e boa música (leia-se rock'n'roll). Adora ler e viajar. Mora em São Francisco (CA), onde trabalha como produtora de cinema independente.

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