CRÍTICA | Guerra dos Mundos

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Josh Friedman e David Koepp
Elenco: Tom Cruise, Dakota Fanning, Justin Chatwin, Miranda Otto, Tim Robbins, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2005



Lembro como se fosse hoje a empolgação que senti quando o trailer de Guerra dos Mundos (War of the Worlds) foi lançado. Uma montagem acelerada de uma invasão alienígena, uma ponte gigantesca sendo destruída com efeitos especiais espetaculares, uma trilha sonora impactante, um filme de Steven Spielberg (O Terminal) com Tom Cruise (Minority Report: A Nova Lei) correndo. Se você procurar o vídeo no YouTube, verá que a peça promocional funciona até hoje. Não tinha como aquele filme dar errado.

Mas antes de começar a falar a respeito, é preciso deixar claro que nunca li a clássica obra literária homônima de H.G. Wells, de modo que toda a minha análise será baseada exclusivamente no longa-metragem, cuja adaptação foi escrita por Josh Friedman (Dália Negra) e David Koepp (Jurassic Park: Parque dos Dinossauros).

Na trama, Ray (Tom Cruise) é um pai divorciado que recebe os filhos adolescentes, Rachel (Dakota Fanning) e Robbie (Justin Chatwin), para passar um final de semana em sua casa. No mesmo dia que as crianças chegam, no entanto, um fenômeno meteorológico incomum ocorre, com dezenas de raios atingindo o mesmo local no asfalto no centro da cidade. A humanidade então é surpreendida com máquinas gigantescas saindo debaixo do solo e instaurando uma invasão alienígena de grandes proporções.  

Foto: Paramount Pictures

Uma das coisas que mais gosto em Guerra dos Mundos é o seu primeiro ato, que deixa clara a habilidade de Spielberg em construir a tensão crescente no espectador. A partir do momento em que a tempestade de raios começa, somos envolvidos por completo na narrativa e conseguimos nos colocar no lugar dos personagens em tela, imaginando o susto que seria vivenciar algo parecido. Colabora com isso a escolha do diretor de não utilizar a trilha sonora de John Williams (Prenda-me Se For Capaz) no momento em que os "tripods" (as máquinas alienígenas) começam a sair do solo, valorizando o trabalho de edição e mixagem de som e conferindo o máximo de verossimilhança possível a tudo que ali ocorre.

Outro aspecto relevante é o ano em que a história se passa: 2005. Estamos falando de uma produção lançada apenas 4 anos após os atentados de 11 de setembro, fazendo com que qualquer retrato catastrófico em tela soe bastante impactante. E o filme tem ciência disso, referenciando os atentados em duas cenas emblemáticas. A primeira quando Cruise está inteiro coberto de cinzas, fazendo alusão ao momento em que as torres gêmeas desabaram e cobriram todos que estavam por perto de poeira (algo agravado ainda mais quando o personagem se dá conta que trata-se dos restos mortais daqueles que foram pulverizados pelos tripods). A segunda é quando Dakota Fanning (Chamas da Vingança), assustada com o caos instaurado nas ruas, pergunta se "são os terroristas" atacando o país novamente.

Daí em diante o longa deixa o suspense em segundo plano e foca na ação de um pai que tenta manter os filhos vivos não apenas das ameaças alienígenas, mas também das humanas. Um bom exemplo é quando o trio é atacado por dezenas de pessoas que querem o carro em que eles estão, já que quase todos os aparelhos elétricos foram inutilizados pelos extraterrestres. Nesse ponto a obra perde um pouco de sua força, já que Cruise convence nas cenas de ação, mas deixa a desejar no papel do homem comum desajustado que busca se reaproximar dos filhos. Parte dessa culpa é do próprio roteiro, que não permite uma real transformação do protagonista. Ainda assim o ator tem seus bons momentos, como quando canta uma canção de ninar para filha.

E se o texto falha ao não desenvolver seu protagonista adequadamente, volta a acertar nas alusões a aspectos comuns da história norte-americana. Como quando o personagem de Justin Chatwin (Dragonball Evolution) tenta se livrar da família a todo momento para acompanhar o exército na luta contra os alienígenas. Um espelho do que aconteceu nos Estados Unidos após o ataque a Pearl Harbor em 1941, ou mesmo os atentados de 2001, quando milhares de cidadãos se alistaram voluntariamente ao exército para combater o inimigo.

Foto: Paramount Pictures

Apesar de tudo, Guerra dos Mundos não é um dos grandes longas da filmografia de Spielberg. A escolha por "aliviar" algumas situações (como o destino final de Robbie ou o ataque dos tripods), ou ainda a necessidade de se dar uma conclusão para a invasão (que dura poucos dias e se encerra de maneira abrupta e bastante criticada pelo público), diminuem o impacto da obra de modo geral.

Uma produção que está longe de ter dado errado, mas que em seus pontos positivos mostra que o resultado final ficou aquém do que ela poderia ser de fato. 

Bom

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