CRÍTICA | Prenda-me Se For Capaz

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Jeff Nathanson
Elenco: Leonardo DiCaprio, Tom Hanks, Christopher Walken, Martin Sheen, Nathalie Baye, Amy Adams, entre outros
Origem: EUA / Canadá
Ano: 2002


É curioso como alguns filmes soam discretos quando olhamos para a filmografia de grandes diretores. Se falamos de Steven Spielberg (Minority Report: A Nova Lei), dificilmente lembramos de Prenda-me Se For Capaz (Catch Me If You Can) como uma de suas grandes obras, por exemplo. E arrisco dizer que trata-se de um grande engano por parte de seus admiradores, visto que é justamente nesse trabalho mais "singelo", que Spielberg demostra toda sua maturidade e controle narrativo enquanto cineasta.

A trama conta a história real de Frank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio), um jovem da década de 1960 que, antes de completar 19 anos, era procurado pelo governo norte-americano por falsificar milhões de dólares em cheques enquanto se passava por um piloto de avião, médico e advogado. Em seu encalço está Carl Hanratty (Tom Hanks), agente do FBI especialista em fraudes bancárias e que não mede esforços na tentativa de captura-lo.

E ao contrário do que o título pode sugerir, o roteiro de Jeff Nathanson (O Terminal) subverte expectativas ao já iniciar a história com Abagnale cumprindo pena em uma prisão francesa. Quando o protagonista é extraditado para os EUA por Hanratty é que somos inseridos em longos flashbacks que nos contam como tudo chegou até aquele ponto.

Foto: DreamWorks

Quando conhecemos a história de Abagnale, fica quase impossível não se afeiçoar com o protagonista, mesmo sabendo que suas ações são erradas. Isso ocorre não apenas pelo excelente trabalho de Leonardo DiCaprio (Era Uma Vez Em... Hollywood), mas pelo tom leve com que Spielberg conduz a história, sempre com pitadas de humor inteligentes aqui e ali. Além disso, a cinematografia de Janusz Kaminski (A Lista de Schindler) é hábil em destacar o auge do personagem perante tudo que o cerca, como quando Abagnale adentra o aeroporto com lindas aeromoças em mais uma tentativa de escapar do FBI.

Outro elemento que favorece tal construção é o pai de Abagnale, interpretado por Christopher Walken (Jersey Boys: Em Busca da Música). Esse é facilmente um de seus melhores trabalhos, vivendo um norte-americano de classe média que fantasia constantemente com o sucesso, mas que se vê enterrado em dívidas e más escolhas. Seu fracasso financeiro contrasta com a imagem impecável que sempre quer passar aos demais e principalmente ao seu filho, a quem acaba introduzindo em um golpe ou outro. E mesmo fora de tela influencia as ações do pupilo, já que Abagnale comete muito de seus crimes para dar uma vida melhor ao pai, nas esperança de que ele possa conquistar novamente sua mãe, que os deixou.

Mesmo com todo esse contexto, quando passamos a acompanhar o personagem de Tom Hanks (The Post: A Guerra Secreta), não torcemos contra ele. Hanratty também é cativante na obstinação que possui em capturar Abagnale. E a escolha do ator para o papel cai como uma luva, já que o carisma de Hanks elimina qualquer possibilidade de antipatia. Um detalhe que pode parecer besteira em um primeiro momento, mas que se mostra essencial para o desfecho do filme. Quem assistiu sabe a que me refiro.

Como uma cereja no bolo temos a trilha sonora de John Williams (Jurassic Park: Parque dos Dinossauros), que aqui entrega um trabalho singular em sua carreira. Conhecido por seus temas épicos, o compositor opta por uma condução melancólica em muitos momentos, empregando um tom agridoce muito bem-vindo ao filme. Ao mesmo tempo, nos momentos em que somos levados pela trama e pela ágil montagem, a trilha também nos empolga.

Foto: DreamWorks

Há espaço ainda para a inserção de canções pontuais, como "Come Fly With Me", de Frank Sinatra; ou "Embraceable You", de Judy Garland. Ambas escolhidas a dedo para momentos chave do longa-metragem e que dão um charme todo especial a produção.

Prenda-me Se For Capaz é aquele tipo de filme que não parece envelhecer com o tempo, melhorando a cada nova visita. Assisti-lo novamente foi um prazer, assim como deve ser para muitos cinéfilos, especialmente aqueles que valorizam a filmografia de um cineasta que nasceu para fazer o que faz com maestria. Assim é Steven Spielberg, nos emocionando mesmo em seus momentos mais singelos.

Ótimo

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