CRÍTICA | Os 7 de Chicago

Direção: Aaron Sorkin
Roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Eddie Redmayne, Sacha Baron Cohen, Mark Rylance, Yahya Abdul-Mateen II, Frank Langella, Joseph Gordon-Levitt, entre outros
Origem: EUA / Reino Unido / Índia
Ano: 2020

O que era para ser um protesto pacífico durante a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago, nos Estados Unidos, tornou-se um confronto violento entre os manifestantes, a polícia e a Guarda Nacional. Os organizadores do protesto - entre eles, Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), Jerry Rubin (Jeremy Strong), Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Bobby Seale (Yahia Abdul-Mateen II) - foram acusados de conspiração por iniciar a revolta. O julgamento deles se tornou um dos mais famosos da história norte-americana.

A sinopse oficial de Os 7 de Chicago (The Trial of the Chicago 7) traz informações essenciais para melhor compreensão da história que a obra quer contar, pois ainda que tal julgamento tenha sido um dos mais famosos dos EUA, talvez não seja para boa parte do público de outras nações. E esse talvez seja o maior defeito do roteiro de Aaron Sorkin (A Rede Social), mesmo que em sua maior parte esteja recheado de acertos.

Reconhecido tanto pela qualidade quanto pela verborragia de seus roteiros, Sorkin não decepciona novamente, entregando diálogos inspirados e que revelam elementos da trama de forma paulatina. A paciência em entregar tais elementos, no entanto, acaba prejudicando o envolvimento do espectador com a produção, já que a grande quantidade de personagens sem o devido desenvolvimento prejudica a empatia do público. Não que a abertura do longa não tenha tentado fazer esse trabalho, com uma edição frenética repleta de informação.

Nico Tavernise/Netflix

O cineasta então apoia-se na qualidade de seu elenco que, de fato, mantém o bom nível do filme. Embora nomes como Michael Keaton (Dumbo) e Joseph Gordon-Levitt (A Origem) soem desperdiçados, Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo), Sacha Baron Cohen (Os Miseráveis), Yahya Abdul-Mateen II (Aquaman) e, principalmente, Mark Rylance (Ponte dos Espiões) ganham seus momentos para brilhar e o fazem com a competência habitual.

Quem se destaca além da conta é Frank Langella (Frost/Nixon), que vive na pele do juiz Julius Hoffman uma espécie de vilão implacável, decidido a prejudicar os acusados a todo custo, sem perder a pose ou o temperamento (na maior parte do tempo), o tipo de personagem que amamos odiar em tela, o que é curioso, já que a figura do juiz não costuma roubar a cena nesse tipo de obra. Uma possível indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante ao veterano interprete não me surpreenderia, já que a Academia permitirá - excepcionalmente - no próximo ano, indicações para filmes lançados exclusivamente em streaming devido a pandemia.

Mas além dos roteiro e das atuações, o aspecto técnico que mais me chamou a atenção em Os 7 de Chicago é a montagem de Alan Baumgarten (Joy: O Nome do Sucesso), que une momentos de passado, presente e futuro - as vezes até de pontos de vista diferentes - através de linhas de roteiro específicas, evidenciando o entrosamento com a direção de Sorkin, que, por sua vez, mostra evolução desde seu último lançamento, A Grande Jogada (Molly's Game), em 2017.

Apesar das irregularidades, e de um desfecho excessivamente melodramático - potencializado pela trilha sonora de Daniel Pemberton (Enola Holmes) -, o saldo final de Os 7 de Chicago ainda é positivo. Resultado do trabalho de um cineasta promissor, o que nos deixa esperançosos de acompanhar uma grande carreira pela frente.

Nico Tavernise/Netflix


Bom

   

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