CRÍTICA | Suspiria

Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento e Daria Nicolodi
Elenco: Jessica Harper, Stefania Casini, Flavio Bucci, Miguel Bosé, entre outros
Origem: Itália
Ano: 1977


Dario Argento (Giallo: Reféns do Medo) é um dos mais relevantes diretores do cinema italiano e se consagrou pelos seus filmes giallo, que é um gênero italiano de suspense e romance policial popular entre as décadas de 1960 e 1980. Essas obras se caracterizam como visualmente exuberantes, coloridas e com crimes hiper-estilizados, que geralmente incluem assassinatos sangrentos, temas eróticos e assassinos misteriosos. 

Após ter em sua filmografia dois clássicos do gênero, como O Pássaro das Plumas de Cristal (1970) e Prelúdio Para Matar (1975), que ajudaram populariza-lo, ele então lança sua obra-prima, Suspiria (1977), que não se limita aos conceitos estabelecidos pelo próprio cineasta anteriormente, apresentando uma história mais ousada e marcante, que se apoia em elementos sobrenaturais, algo atípico em seu cinema.

A trama segue Suzy Bannion (Jessica Harper), recém-chegada a uma academia de balé sofisticada na Alemanha, que aos poucos, em meio a uma série de assassinatos terríveis e misteriosos, percebe que a escola é uma fachada para algo muito mais sinistro e sobrenatural.

Com pouco mais de 90 minutos, Argento não perde tempo para elaborar sua narrativa, já que desde o início cria uma sensação quase palpável de tensão e uma atmosfera assustadora, desenvolvendo um grande pesadelo em tela. Para isso, combina sua proposta sobrenatural - que foca em uma abordagem mais psicológica - com dois elementos imprescindíveis ao filme: uma fotografia hipnotizante e uma trilha sonora incômoda, criando assim uma sensação de perigo e desconforto crescentes.

Seda Spettacoli

O cineasta sempre foi perfeccionista na composição visual de seus filmes e em Suspiria isso é elevado à máxima potência. São utilizadas cores vibrantes e saturadas na tela, uma paleta que faz com que o longa se estabeleça entre o surrealismo e o sombrio. Argento, em conjunto com o cinematógrafo Luciano Tovoli (Profissão: Repórter) e o designer de produção Giuseppe Bassan (O Magnata), explicitamente elegem o vermelho como a cor que dita a produção, quase como uma obsessão, já que estabelece conexão com o mote da trama de sangue, perigo e morte.

Também é notável a influência do Expressionismo Alemão e de obras como O Gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene; Nosferatu (1922), de F.W. Murnau; M, o Vampiro de Dusseldorf (1931), de Fritz Lang; além do surrealismo de Um Cão Andaluz (1929), de Luis Buñuel. Toda essa composição visual acaba sendo o elemento mais aterrorizante do filme. 

Composta pela banda italiana de rock progressivo Goblin (que já havia trabalhado com Argento em Prelúdio Para Matar), a trilha sonora é misteriosa, hipnótica, assustadora e, principalmente, desconfortável. Tudo isso de uma maneira extremamente positiva, já que com forte uso de sintetizadores, ela se torna uma espécie de psicodelia sonora que desestabiliza o espectador e casa perfeitamente com narrativa e fotografia deslumbrante.

O roteiro, escrito pelo próprio Argento em parceria com Daria Nicolodi (Paganini Horror), não é complexo, pelo contrário, é bem simples. Ele serve bem como plano de fundo para o pesadelo visual criado. Assim, ele faz muito bem ao conectar o espectador com a protagonista, tentando se encaixar em seu novo ambiente e progressivamente se deparando com uma trama estranha e assustadora, assim como o público.

Bannion é o olhar da audiência sobre os acontecimentos e a atriz Jessica Harper (Memórias) entrega muito bem a incerteza, angústia e medo que vão crescendo na personagem ao se ver presa em um pesadelo do qual nunca poderia sair. O restante do elenco e personagens são funcionais para o roteiro, já que contribuem para a construção da estranheza envolta naquele lugar. Atuam como caricaturas de um conto de fadas de bruxas, que nesse caso serve perfeitamente.

Seda Spettacoli

Pode não ficar claro de início o que está acontecendo no lugar, mas percebe-se uma aura muito estranha na academia de dança. Conforme o longa avança, e as revelações vão surgindo, temos cada vez mais sequências macabras. E a produção funciona principalmente por não ser um filme de terror voltado para o medo pelos sustos, mas sim por uma série de impulsos visuais e sonoros que desencadeiam o terror.

Suspiria é um clássico do terror que combina perfeitamente uma história sobrenatural simples e eficaz, com um pesadelo visual e sonoro marcante e impressionante. A atmosfera assustadora de tensão e inquietação crescentes são a maior marca do filme, que até hoje influencia o gênero, inclusive ganhando um remake recente, Suspíria: A Dança do Medo (2018), dirigido por Luca Guadagnino (Me Chame Pelo Seu Nome).

Excelente

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