CRÍTICA | Scarface

Direção: Brian De Palma
Roteiro: Oliver Stone
Elenco: Al Pacino, Michelle Pfeiffer, Steven Bauer, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1983

Scarface: A Vergonha de uma Nação (1932) foi um filme que explorou o lado mais obscuro do mundo gângster bem antes de diretores como Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão) e Martin Scorsese (Os Bons Companheiros) se tornarem referências do gênero. Em 1983, Brian De Palma (Um Tiro na Noite) entregou um remake/revisão do longa original, com o mesmo nome só que maior, mais ousado e, podemos dizer, melhor.

O roteiro, escrito pelo cineasta Oliver Stone (Platoon), segue Tony Montana (Al Pacino), um criminoso cubano exilado que vai para Miami e em pouco tempo acaba trabalhando para um chefão das drogas, Frank Lopez (Robert Loggia). Sua ascensão na quadrilha acontece rapidamente e, em pouco tempo, ele acaba se interessando pela amante do chefe, Elvira Hancock (Michelle Pfeiffer) e assumindo o controle do cartel de drogas.

A soma do roteiro visceral de Stone com a direção pesada de De Palma, tornam Scarface (1983) um dos filmes mais controversos de todos os tempos, principalmente por sua violência excessiva, linguagem forte e obscena, além do uso de drogas em tela. Goste ou não, apesar da polêmica que a obra causou na época, ela pode ser considerada um clássico do cinema, além de figurar entre os melhores filmes do gênero.

Universal Pictures

A obra é um reflexo do capitalismo e da falsa liberdade individual que os Estados Unidos pregam. Com a bagagem de cinema sociopolítico, o roteiro de Stone faz questão de colocar em jogo conceitos sobre comunismo e capitalismo. Tony Montana, por exemplo, pode ser considerado um personagem anticomunista, que, como ele mesmo diz, odeia comunistas principalmente por sua vivência em Cuba, que lhe dava pouca liberdade. Com isso, Scarface aproveita para refletir sobre outra realidade, afinal, estabelecido dentro do “sonho americano” de liberdade, o protagonista acaba colocando tudo a perder, como um exemplo capitalista perfeito de ganância e amor ao dinheiro e poder, que o levaram à autodestruição e de todos ao seu redor, incluindo sua família.

Scarface retrata esse lado obscuro, e muitas vezes inexplorado, da sociedade norte-americana. De Palma retrata isso de forma crua, evidenciando tudo de mais sujo que esses personagens criminosos, e sua ganância, podem causar. Os excessos e a violência crescem conforme os personagens, e principalmente Tony, se perde dentro de seu próprio ego e cobiça. Tudo isso culmina em um dos atos finais mais explosivos e violentos do cinema, com o personagem proferindo a icônica frase:

"Say hello to my little friend!”

Al Pacino (Serpico) é um dos grandes atores da história, repleto de trabalhos marcantes, disso não há dúvida, mas o ator se destaca ainda mais quando interpreta personagens fortes e explosivos, o que fez de Tony Montana a perfeita plataforma para ele brilhar. Pacino extrai toda a extravagância e violência de seu personagem de maneira impressionante. É claramente um dos pontos altos do filme, atingindo seu auge no desfecho espetacular e paranoico em que Tony, completamente tomado pela cocaína, perde completamente o controle sobre tudo.

Universal Pictures

Scarface é um dos mais estilosos, cruéis e provocantes retratos do submundo norte-americano. Uma obra marcada por excessos, com atuação insana de seu protagonista e explosão crescente de violência que seu roteiro propõe. E dentro dessa premissa, Brian De Palma consegue fazer um retrato dos anos 1980 sem glamourização: apresenta seus temas e preocupações político-sociais ao voltar sua lente para o universo gângster marcado por um personagem ganancioso, que atinge o público para mostrar a podridão por trás do tão falado “sonho americano’.

Ótimo

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