CRÍTICA | Alabama Monroe

Direção: Felix van Groeningen
Roteiro: Felix van Groeningen e Carl Joos
Elenco: Veerle Baetens, Johan Heldenbergh, Nell Cattrysse, entre outros
Origem: Bélgica / Holanda
Ano: 2012


Alabama Monroe (The Broken Circle Breakdown) conta a história de um casal improvável. Elise Vandevelde (Veerle Baetens) é uma tatuadora que gosta de registrar em seu corpo figuras que tenham significado real com sua trajetória de vida, entre várias delas, um crucifixo em sua nuca. Didier Bontinck (Johan Heldenbergh) canta e toca banjo em uma banda local de bluegrass (uma das variações da música country), é apaixonado pela cultura norte-americana, não é adepto a tatuagens e é ateu convicto. Apesar de suas diferenças notórias, são loucos um pelo outro e do fruto desse amor nasce Maybelle (Nell Cattrysse), uma adorável e doce garotinha.

A história dos opostos que se atraem pode soar clichê (e talvez o seja, de certa forma), no entanto, é conduzida de maneira tocante pelo belga Felix Van Groeningen (Os Infelizes), seja nas inúmeras surpresas e emoções que o roteiro proporciona, mas também no aspecto técnico primoroso que apresenta. A narrativa salta no tempo à todo momento, contrastando momentos de grande felicidade dos protagonistas com outros difíceis e pesarosos, e nisso a montagem se destaca, nunca deixando o ritmo do filme cair. Uma fórmula bastante semelhante a utilizada em (500) Dias Com Ela (500 Days of Summer, 2009), porém aqui esqueça o aspecto fantasioso e romantizado. Alabama Monroe trata de amor e relacionamento com uma realidade visceral.

Hábil em trabalhar sua fotografia de forma calorosa quando a trama se passa no passado e fria no presente (fruto de eventos traumáticos vivenciados pelos personagens), Van Groeningen, de maneira elegante, facilita o entendimento por parte do espectador, que nunca sente-se perdido na narrativa. Também faz algo semelhante com o uso da cor vermelha, sempre associando-a a paixão do casal protagonista, externada pela cor da caminhonete ou a luz que os ilumina em um momento de sinergia acima do palco. Em contrapartida, quando Maybelle entra em cena, o vermelho é transferido para a garotinha, na mochila que carrega ou no suéter que veste. Forma singela e bonita de mostrar o tamanho do amor que os dois sentem pela filha.

É difícil falar de Alabama Monroe sem revelar aspectos importantes da trama, mas, tentando ser o menos expositivo possível, devo dizer que o longa-metragem também lida com a dor da perda com a mesma sabedoria com que fala de amor. Sentimentos tão contrastantes e, ao mesmo tempo, inteiramente ligados entre si. E aqui destaco a excepcional trilha sonora do filme, que é a definição perfeita de quando usamos a expressão "é um personagem a parte". A música dita o ritmo de toda a narrativa, resgatando o espectador de momentos difíceis e trazendo euforia quando necessário. Como toda boa trilha deve ser. Além disso, as letras das canções foram escolhidas a dedo, pois fazem total sentido com a história que é contada.

E se a obra é um carrossel de emoções, devemos creditar também as atuações. Johan Heldenbergh (que também escreveu o roteiro) vive Didier de forma intensa, um personagem "cabeça dura" e convicto de suas crenças, ou falta delas. É gratificante perceber, no entanto, que o ator consegue sutilmente "abaixar o muro" que constrói a volta de Didier, quando o protagonista dialoga com a filha. Há uma cena em específico, quando o mesmo fala com a garotinha a respeito das estrelas, é profundamente tocante. Veerle Baetens, por sua vez, interpreta Elise também de forma poderosa, atravessando aquela que talvez seja a jornada mais difícil ao longo da projeção, externando emoções distintas e extremamente semelhantes a todos nós. A personagem transpira complexidade, a começar por suas inúmeras tatuagens que sugerem a quantidade de experiências vividas. Uma pena que não foi indicada para a premiação da Academia, pois merecia.

Levantando discussões calorosas a cerca de fé e ateísmo, Alabama Monroe tropeça em seu ato final, ao querer tomar partido de uma das idéias. Uma única cena arranha o desfecho do filme (e ao assistir você saberá qual é), que seria ainda mais impactante se mantivesse sua postura imparcial até o encerramento. Mas talvez essa seja a expectativa que eu criei ao assistir. Nada que atrapalhe o resultado final de uma grande obra, que emociona e nos faz refletir por longos minutos ao fim da experiência. A trilha sonora já toca incansavelmente no meu carro.


Excelente

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