Master of None e o Teatro da Vida Real



Dev olha pela janela do carro, como se procurasse lá fora alguma resposta para sua vida, uma solução para os seguidos problemas que o destino cansava de apresentar. Um amor proibido, encontros vazios, seguidas decepções no trabalho, problema com os pais. Quantos de nós não passamos por algo parecido? Quantos não estão passando por tudo isso agora?

É ao se aproximar do nosso cotidiano que Master of None nos envolve e carrega no colo. A série, criada e protagonizada pelo comediante norte-americano Aziz Ansari (Parks and Recreation), é gente como a gente e não tem medo de ser direta em qualquer que seja o tema. Da homofobia entre mãe e filha ao abuso sexual no trabalho. Mais do que histórias, a produção original da Netflix é certeira na maneira como as apresenta.

Foram muitas as vezes em que repeti mentalmente: “cara, eu te entendo completamente”. A sensação que tive ao longo dos 20 episódios (2 temporadas com 10 cada) me fora de estar assistindo (500) Dias com Ela (Marc Webb, 2009). No longa, Tom (Joseph Gordon-Levitt) fica ansioso por uma festa onde irá encontrar a (recente) ex-namorada (Zooey Deschanel). Como qualquer ser humano (caso não se encaixe nessa situação, favor ter dúvidas de sua procedência), ele vislumbra como será o encontro. O diretor então divide a tela e nos mostra expectativa e realidade, lado a lado.


Em Master of None o sentimento se repete. A identificação com as situações da vida de Dev (Aziz) é constante. No papel, um ator de 30 anos que mora em Nova York. No olhar, um espelho do nosso próprio dia-a-dia. Méritos do roteiro assinado pelo próprio ator e Alan Yang

Dois dos maiores exemplos disso estão na segunda temporada, nos incríveis New York, I Love You e First Date. No primeiro acompanhamos a vida de diversas pessoas comuns que se encontram pelo acaso (Simplesmente Amor, o retorno?). No segundo, acompanhamos Dev e suas dezenas de experiências com o Tinder, o famoso aplicativo de relacionamentos. 

Não há necessidade de se aprofundar nas tramas aqui, porque parte da experiência da série é viver cada detalhe. Tal qual a vida, o melhor a se fazer é desbravar. No fim, mais do que falar sobre encontros, Master of None é sobre se encontrar. 


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Eduardo é jornalista, fã do Hayao Miyazaki e nunca encontrou o John Legend tocando piano numa festa.

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