CRÍTICA | Os Meninos Que Enganavam Nazistas

Direção: Christian Dughay
Roteiro: Christian Dughay, Jonathan Allouche, Alexandra Geismar, Benoit Guichard e Laurent Zeitoun
Elenco: Dorian Le Clech, Batyste Fleurial, Patrick Bruel, Elsa Zylberstein, entre outros
Ano: 2017
Origem: França / Canadá / República Checa


Sempre que vamos assistir a um filme e descobrimos ser “baseado em fatos reais” criamos uma grande expectativa, isso sem falar que a responsabilidade dos produtores em retratar fielmente a história contada é ainda maior, não é verdade? E se o assunto for a Segunda Guerra Mundial, mais especificamente a perseguição aos judeus pelos nazistas? 

De O Grande Ditador (1940) até Bastardos Inglórios (2009), foram várias as produções sob óticas diferentes que ilustravam e explicavam o Holocausto, um dos episódios mais tristes da história da humanidade. E o que você acharia de uma trama que contasse com a narração de um sobrevivente das incessantes perseguições nazistas, que vitimou milhares de famílias e que impediu o reencontro entre muitos pais e filhos? 

Os Meninos Que Enganavam Nazistas é baseado no drama vivido pelos irmãos Maurice e Joseph Joffo, que viveram na França durante a 2ª Guerra. O longa foi inspirado no best-seller de mesmo título, escrito em 1973 por Joseph Joffo. Foram mais de 20 milhões de exemplares vendidos em 22 países. A história se passa entre os anos de 1941 e 1944, em um clima sombrio e sangrento que pairava sobre toda a Europa. O desespero e o medo tomavam conta de milhões de pessoas, principalmente dos judeus.


O diretor canadense Chistian Duguay (A Cilada) contrapôs belas paisagens na França com momentos sombrios: perseguições, torturas e execuções de judeus em praça pública. Além disso, em boa parte das cenas há a narração da jornada dos irmãos Joffo, sob o olhar de Joseph (Dorian Le Clech), o mais novo, de apenas 10 anos. 

Antes tratado como tabu, o Holocausto hoje é mostrado de forma sistemática, destrinchada, com detalhes do horror e da barbárie cometida, às vezes por um ângulo mais imersivo, com o relato de alguém que sofreu todo tipo de perseguição e tratamento degradante. Em muitas cenas acompanhamos de perto tudo o que é relatado por Joseph, criando expectativas para o que pode vir a seguir. Se os dois irmãos conseguirão ir mais adiante ou se sofrerão mais nas mãos dos generais.

Tudo é muito bem conduzido. O roteiro soube explorar os sentimentos de dor, medo e desespero dos personagens, sem esquecer da fidelidade dos judeus à religião, um dos pontos mais difíceis e delicados de se tratar na narrativa. Além disso, a espontaneidade, ternura e sinceridade de Joseph, o mais novo e mais destemido, criam uma certa empatia junto ao espectador, fazendo quem assiste se conectar com a história, do início ao fim.

As atuações são excepcionais, nota-se uma perfeita conexão entre Dorian Le Clech e Batyste Fleurial, os dois irmãos. Ambos conseguem transmitir sinceridade e autenticidade, e entregam um grande trabalho, principalmente nas cenas que exigem uma carga maior de dramaticidade, como, por exemplo, quando tentam driblar os generais alemães, seja quando apresentam identidades falsas ou fingem ser de outra religião. 


As doses de humor são precisas e nos momentos certos, como as brincadeiras entre os garotos e as outras crianças da vizinhança, com disputas de bolas de gude e muitas brigas. São cenas de descontração e  de certo alívio, tendo em vista o cenário macabro e aterrorizante apresentado. 

Os Meninos Que Enganavam Nazistas é um filme que abre as janelas do passado para contar sob uma perspectiva diferente um dos capítulos mais sombrios vividos pela humanidade, com o relato de quem viveu a barbárie. Uma obra comovente e fará você se emocionar.

Ótimo

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