CRÍTICA | Lou

Direção: Cordula Kablitz-Post
Roteiro: Cordula Kablitz-Post e Susanne Hertel
Elenco: Nicole Heesters, Katharina Lorenz, Liv Lisa Fries, entre outros
Origem: Alemanha / Áustria / Itália / Suíça
Ano: 2016


Nascida em 1861, na cidade de São Petersburgo, na Rússia, Louise von Salomé, mais conhecida como Lou Andreas-Salomé, foi uma das grandes figuras da psicanálise, filosofia e do romance mundial, sendo autora de diversos estudos e obras ligadas à sexualidade feminina e também à religião. Lou ficou conhecida por sua personalidade marcante e por ter uma postura muito à frente de seu tempo, desafiando a sociedade da época e deixando a sua marca na história. 

Propondo-se a contar a trajetória dessa que foi uma das maiores estudiosas do século XIII, o longa Lou, comete um dos maiores e principais erros, no que diz respeito à história da psicanalista: direciona o foco apenas nos interesses amorosos da personagem ou dos homens que se relacionaram com ela ao longo dos anos.

A estreia da cineasta alemã Cordula Kablitz-Post em longas-metragens, acendeu a esperança de quem gostaria de, enfim, conhecer mais sobre a história de Lou Salomé ou de quem sonhava em ver justiça sendo feita em relação àquela que ficou conhecida quase que apenas por fazer Nietzsche chorar. Temos uma mulher à frente do longa, uma personagem feminina marcante, mas, ainda assim, a obra se perde ao longo do caminho.

Foto: Cineart Filmes

Lou se desenvolve contando a história da protagonista da infância até a fase adulta, abordando também parte de sua velhice, quando conhece Ernst Pfeiffer, que futuramente viria a ser o administrador de toda a sua obra e biografa. Tudo é contado através dos olhos da própria Salomé e de suas memórias.

Muito pouco é abordado sobre o desenvolvimento e os estudos realizados por Lou. A verdade é que tudo fica muito vago e, para nós brasileiros, que conhecemos muito pouco sobre o trabalho da filosofa, já que nenhum de seus livros se quer foi traduzido para o português, o desafio de compreender toda a sua trajetória e importância é ainda maior.

Durante pouco mais de duas horas de filme, o assunto mais abordado é sua completa aversão a relacionamentos, quase que independentemente de sua natureza. Ela que dedicou sua vida ao desenvolvimento intelectual próprio, e mantinha-se longe de quaisquer que fossem os obstáculos, ou aqueles que ela acreditava serem barreiras do crescimento de seu intelecto e capacidade de estudo. Sendo assim, recusava a relacionar-se amorosamente, ponto abordado e utilizado exaustivamente no longa.

No entanto, apesar desse problema crasso, ainda é possível conseguir, mesmo que com esforço, captar parte da personalidade dessa mulher responsável por quebrar barreiras, não abdicando do seu direito ao estudo, dedicando-se aquilo que amava e se fazendo presente em meios e espaços considerados masculinos, levantando sua voz e vivendo a vida de acordo com a sua vontade. Apesar de na tela isso nos ser apresentado como um dos fatores que chamou a atenção dos inúmeros intelectuais que se apaixonaram por Lou, ainda assim, o mérito de uma vida livre deve ser admirado e levado em conta.

Foto: Cineart Filmes

A obra não inova em questões técnicas, ou no desenvolvimento narrativo de linhas temporais, mas é importante ressaltar a escolha do elenco, com destaque para Katharina Lorenz (Life Guidance), que interpreta Lou Salomé na maior parte do filme. Além de se parecer fisicamente com a Lou original, também oferece uma grande atuação.

Lou foi responsável pela existência de granes trabalhos e até mesmo grandes carreiras, como a de Nietzsche e Rainer Maria Rilke. Esperamos que futuramente o nome dessas mulheres não sejam apagados da história ou resumidos apenas aos homens que fizeram parte desse trajeto. Enquanto isso, se existe algo que desejo que guardem deste filme quando assistirem, é a cena final, que não contarei, mas espero que se arrepiem tanto quanto eu.

Bom

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