CRÍTICA | O Motorista de Táxi

Direção: Hun Jang
Roteiro: Yu-na Eom
Elenco: Kang-ho Song, Thomas Kretschmann, Hae-jin Yoo, entre outros
Origem: Coréia do Sul
Ano: 2017


O cinema sul-coreano vem se destacando nos últimos anos, principalmente pela forma como trabalha os gêneros cinematográficos e as grandes transformações pelas quais passam seus personagens. O Motorista de Táxi, do diretor Hun Jang (The Front Line), apresenta ao público uma narrativa que começa como uma divertida comédia e que, aos poucos, se converte em um enorme drama, com muitos sobressaltos e viradas das figuras centrais da trama.

A história é baseada em fatos e se passa em maio de 1980, na capital Seul. O taxista Kim (Kang-ho Soon), com sérios problemas financeiros e uma relação afetiva complicada e distante com a filha, vai ter de usar toda a sua malandragem e artimanha para descolar uma boa grana. Sua missão será a de levar Hinzpeter (Thomas Kretchman), jornalista alemão, para a cidade de Gwangju para que este realize uma reportagem sobre o local, marcado por revolta e protestos de jovens contra a ditadura de Chun Doo-hwan, instaurada após a implementação da lei marcial, com forte repressão à democracia e o fechamento de grandes universidades.

O cineasta apresenta ao espectador planos bem fechados e colados aos manifestantes, para orientar o ponto de vista de quem acompanha, além de ilustrar com bastante impacto o resultado dos protestos e da forte repressão militar, com centenas de corpos espalhados pelo chão, além de milhares de feridos. Um cenário devastador, no qual vão se desenrolar as ações mais sangrentas e cruéis possíveis, que serão apresentadas ao longo da trama. 

Foto: Califórnia Filmes

No entanto, antes que esse panorama seja apresentado, o espectador se diverte com os hilários diálogos entre taxista e passageiro, que a princípio soam mecânicos, mas ao mesmo tempo cômicos, com o condutor tentando a todo custo articular palavras em inglês da forma mais satisfatória possível e o viajante sem entender uma palavra sequer de coreano. Um clima leve, de diversão, antes de nos depararmos com o cenário de guerra e sangue dito anteriormente, tudo feito de forma harmônica e com uma montagem eficiente.

A mudança de gênero durante a obra é realizada de forma acertada por Hun Jang, que soube transportar o espectador de um universo para outro de maneira gradual e segurança, evitando imprecisões e buracos no roteiro. Além disso, é possível notar a transformação do personagem principal, antes alheio a tudo que estava à sua volta para um homem comprometido com sua nação e sedento por democracia. Isso se nota na medida em que ele e Hinzpeter encontram outros taxistas nas ruas de Gwangju e estudantes, tendo um deles como principal aliado e fio condutor na trama, de ações opressoras e alarmantes para um desfecho visceral e comovente. 

Apesar da liberdade criativa e dos ótimos planos apresentados durante a projeção, a longa duração do filme prejudica um pouco a concisão da trama, de forma que algumas cenas poderiam ter sido mais curtas, e outras suprimidas. Além disso, a tensão do enredo é um pouco prejudicada, mas é rapidamente retomada no terço final, até apresentar um desfecho surpreendente com cenas reais, artifício que consegue suprimir as pequenas falhas evidenciadas pelo longa.

Foto: Califórnia Filmes

Um filme de contexto histórico e que dosa gêneros na medida certa, que não apresenta a figura de um herói, mas que posiciona seu protagonista no centro de uma história que engloba guerra, poder e violência, tudo para despertar o senso crítico do espectador e mostrar a ele a possibilidade de diferentes pontos de vista acerca do mundo e a esperança por dias melhores. O Motorista de Táxi tem o mérito de saber contar uma envolvente história e de provocar sentimentos e reflexão nas novas gerações.

Ótimo

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