CRÍTICA | Amante Por Um Dia

Direção: Philippe Garrel
Roteiro: Philippe Garrel, Jean-Claude Carrière, Caroline Deruas-Garrel e Arlette Langmann
Elenco: Éric Caravaca, Esther Garrel, Louise Chevillotte, entre outros
Origem: França
Ano: 2017


Conhecido por se utilizar de elementos do cinema clássico, como a projeção em preto e branco e o foco nos sentimentos e na complexidade do comportamento humano, o cineasta francês Philippe Garrel (Um Verão Escaldante) entrega seu mais novo filme, Amante Por Um Dia (L'amant d'un jour), último capítulo de uma trilogia indireta iniciada com O Ciúme (2013) e seguida por À Sombra das Mulheres (2015). Obras pelas quais o cineasta tem o intuito de mostrar que relacionamentos amorosos podem ser conturbados, confusos e traumáticos, mas ainda assim é possível retratá-los de forma elegante e dinâmica.

A narrativa nos apresenta o drama de Jeanne (Esther Garrel), uma jovem de 23 anos que acaba de encerrar seu noivado e de deixar a casa na qual vivia com seu ex-noivo. Fragilizada e sem rumo, ela resolve procurar abrigo e auxílio na casa do pai, Gilles (Éric Caravaca), um professor universitário divorciado. Para a surpresa de Jeanne, seu pai está namorando e morando com Arianne (Louise Chevillotte), aluna de mesma idade que ela. Após se conhecerem, as duas criam um improvável laço de amizade, ainda que segredos obscuros do passado de cada uma acabem por corromper, não apenas a sua relação, mas também a existente com Gilles.

O amor não é a única temática abordada, mas também o conflito de gerações, a fidelidade, a depressão e a sexualidade, tudo amarrado à questão central e tratado de maneira sensível e direta, com cenas de tiro curto, deixando que algumas lacunas sejam preenchidas através de narrações, deixando o espectador a par dos acontecimentos, mas ao mesmo tempo curioso com o que vem a seguir.

Foto: Fênix Filmes

O roteiro também lida com a liberdade feminina nas relações amorosas e o desapego, provocando quem assiste e fazendo-nos enxergar o amor e a cumplicidade por prismas diferentes, nos colocando no lugar dos personagens, pensando sobre quais atitudes tomaríamos diante das armadilhas que a vida impõe e as peças que os sentimentos podem pregar em nós mesmos.

A fotografia de Renato Bertha representa uma alegoria, com um imponente jogo de luzes em uma projeção de cor sépia, agraciada por movimentos delicados e sensuais, sem insinuação sexista, uma expressão na qual as imagens, a edição e os ritmos são tão sublimes quanto os dramas pelos quais passam o ser humano. A delicadeza que é empregada na obra com temas tão controversos é um chamariz do filme, que encanta e remete ao clássico cinema francês, bandeira de Phillipe Garrel.

As atuações são decentes e dentro do que é proposto no longa, com destaque para as interações femininas. Esther Garrel (Me Chame Pelo Seu Nome) e Louise Chevillotte ilustram um lado que ainda persiste em muitos relacionamentos, de vulnerabilidade e submissão da mulher. Enquanto a primeira apresenta uma personagem ainda apaixonada e dependente, a segunda representa uma jovem um tanto insegura e que ainda busca encontrar-se no que tange ao amor, sexo e fidelidade. Já Éric Caravaca (Prejuízo), apesar do desempenho contido, demonstrou ser o fiel da balança, decisivo para o desfecho da obra, envolvente do início ao fim.

Foto: Fênix Filmes

Sensível, elegante e crítico às relações humanas, Amante Por Um Dia é um filme obrigatório, não apenas para os amantes do cinema francês, mas também para os apreciadores de projeções audiovisuais que estimulam um estudo profundo sobre o amor, o sexo e os dilemas da juventude.

Ótimo

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