CRÍTICA | O Amante Duplo

Direção: François Ozon
Roteiro: François Ozon, Joyce Carol Oates e Philippe Piazzo
Elenco: Marine Vacth, Jérémie Renier, Jacqueline Bisset, entre outros
Origem: França / Bélgica
Ano: 2017


Gatos, gêmeos e uma pitada de problemas sexuais reprimidos dos quais o psicanalista austríaco Sigmund Freud se interessaria em discutir. O Amante Duplo (Le’Amant Double) é um prato cheio para um bom exemplar de cinema francês contemporâneo. Escrito e dirigido pelo premiado cineasta francês François Ozon (O Tempo Que Resta), a obra é um suspense erótico baseado no livro "Lives of the Twins", da escritora norte-americana Joyce Carol Oates.

Na trama conhecemos Chloé (Marina Vatch), uma jovem desempregada e que sofre com dores no ventre. Por orientação médica, ela passa a se consultar com o psicólogo Paul (Jérémie Reiner) e, com o passar das sessões, os dois acabam se envolvendo em uma relação amorosa. Entretanto, a protagonista não vê melhora em sua condição e resolve consultar outro psicólogo, o irmão gêmeo de Paul, Louis (Reiner), do qual ela nunca tinha ouvido falar.

Sempre se reinventando, Ozon pautou seu novo longa-metragem inteiramente na sexualidade feminina. E mesmo que esse tema seja frequente abordado em obras anteriores do diretor, aqui ele opta por retratar efeitos físicos e psíquicos de uma sexualidade reprimida ao longo de uma vida, especialmente por problemas causados pela própria família da personagem principal.

Foto: California Filmes

Por meio da boa interpretação da atriz Marine Vacth (Jovem e Bela), temos um ótimo retrato de uma mulher perdida em seus problemas internos, ao mesmo tempo que tenta aparentar ser uma pessoa forte, decidida e enigmática. Chloé tenta esconder do mundo seu nervosismo e sua frigidez, que a atormentam constantemente. Por conta disso, sua mente cria e alimenta o arquétipo de homem perfeito, através da união dos dois gêmeos em um só.

Ao usar o clássico clichê hollywoodiano do gêmeo maligno, Jérémie Reiner (A Garota Desconhecida) cria a perfeita dualidade entre irmãos. Enquanto um é simples e educado, o outro é prepotente e tirânico. Tais características são alimentadas por um infortúnio do passado que ressoa na vida de ambos até hoje, fazendo com que eles nutram ódio um pelo outro.

Com um roteiro construído pela tensão e diálogos profundos e intimistas, o diretor entrega um suspense a lá Alfred Hitchcock, intercalando planos abertos e fechados em uma fotografia que valoriza o reflexo de espelhos e janelas, potencializando a horrível sensação de Chloé, que se sente observada por todos ao seu redor.

O Amante Duplo concorreu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2007, bem como a prêmios de melhor roteiro e atriz. Trata-se de uma obra coesa, de um cineasta que amadurece a sua arte a cada novo filme.

Foto: California Filmes

Ótimo

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