CRÍTICA | Museu

Direção: Alonso Ruizpalacios
Roteiro: Alonso Ruizpalacios e Manuel Alcalá
Elenco: Gael García Bernal, Simon Russell Beale, Lynn Gilmartin, entre outros
Origem: México
Ano: 2018



Museu (Museo), filme dirigido por Alonso Ruiz Palacios (Güeros) se inspira em um fato ocorrido no México, em 1985. Na ocasião, dois veterinários, que não possuíam antecedentes criminais, realizaram um roubo de pouco mais de cem peças do Museu de Antropologia, dentre elas algumas de ouro e jade, de valor incalculável. A história possui elementos reais e um pouco de ficção no que concerne à vida de um dos criminosos.

Juan (Gael García Bernal) é um jovem de classe média bem criado por sua família, sem nunca ter lhe faltado nada. O que faz o espectador pensar em qual seria o motivo que o levaria a praticar um roubo de tamanhas proporções. Além do evento propriamente dito, o público acompanha os dramas de Juan, o remorso sentido por ele por roubar as peças e os empecilhos que encontra para vender as relíquias, assim como as maneiras que experimenta para curtir um pouco a vida ao lado dos amigos, com shows noturnos com belas dançarinas, farras e bebedeiras.

O roubo serve como pano de fundo para a verdadeira história ser contada: a do protagonista. Juan é o mentor do crime, o jovem confuso e sem rumo, o rapaz que se comporta como um garoto irresponsável e que só quer saber de diversão. Apesar das várias conotações negativas, ele é tratado de forma humanizada durante os 128 minutos de projeção, como uma pessoa de defeitos, mas com um bom coração e deveras amoroso com sua família.

Foto: Supo Mungam Films

O roteiro também aborda a importância das obras de arte roubadas, bem como a necessidade de preservação do patrimônio e da cultura de um país, afinal, a história deve ser mantida e passada como ensinamento para futuras gerações. Em dados momentos, frases de efeito são citadas, como "ser herói não é uma questão de desejo" ou "para que estragar uma história com a verdade?", nesse caso, em relação a uma tragédia ocorrida na família de Juan.

A montagem e os efeitos visuais utilizados em dadas ocasiões soam um tanto exagerados, funcionando mais como "show off", do que por necessidade narrativa. Um exemplo são as cenas das noitadas, com cortes abruptos e as imagens congeladas para passar a impressão de todos na boate estarem em transe. No que diz respeito ao roubo propriamente dito, há uma preocupação clara em não glamorizar um ato ilegal, mas sim utiliza-lo como uma maneira de convencer as pessoas de que a cultura faz parte da identidade de seu povo, e possui valor inestimável.

Gael García Bernal (Deserto) se mostra confortável na pele do personagem principal. Uma espécie de anti-herói que faz o espectador refletir sobre a importância de seus atos e os impactos causados para a cultura mexicana. Percebe-se a entrega do ator para o papel, principalmente nas cenas de maior impacto, como quando está da família após o crime, com a necessidade de fugir para poupar todos da vergonha que causou. Uma atuação acima das expectativas, mesmo para a qualidade de García Bernal.

Foto: Supo Mungam Films

No fim, o trabalho de direção e elenco fazem Museu alcançar um resultado expressivo. Um longa-metragem didático e propõe a reflexão, algo sempre relevante na sétima arte. Vale muito a pena discutir a questão do patrimônio e da identidade, valores indisponíveis e únicos de um povo, ainda mais para o povo brasileiro, que sofreu recentemente com a perda de um acervo importantíssimo como o do Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

Ótimo

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