CRÍTICA | Creed II

Direção: Steven Caple Jr.
Roteiro: Juel Taylor e Sylvester Stallone
Elenco: Michael B. Jordan, Tessa Thompson, Sylvester Stallone, Dolph Lundgren, Florian Munteanu, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018


Dentre os 6 filmes da antologia do "Garanhão Italiano", Rocky IV (1985) talvez seja considerado o mais galhofa. Fruto da Guerra Fria, o longa tinha como único objetivo trazer uma batalha dos Estados Unidos contra a União Soviética, culminando na vitória do "american way" em detrimento do socialismo. É claro que em meio a essa premissa simplista temos Rocky (Sylvester Stallone) novamente superando seus limites após a morte de Apollo Creed (Carl Weathers), a introdução de Ivan Drago (Dolph Lundgren) como um vilão a se temer, e uma trilha sonora oitentista das mais empolgantes. Devo confessar, a produção era uma das minhas favoritas quando assistida repetidas vezes nas "Sessões da Tarde" da vida.

Creed II é uma sequência espiritual de Rocky IV. E é tão bom que consegue melhorar o filme de 1985 em muitos aspectos.

Consolidado como o campeão dos pesos pesados, Adonis Creed (Michael B. Jordan) é surpreendido por um novo e peculiar desafiante, Viktor Drago (Florian Munteanu), o filho do homem que matou seu pai no ringue há quase 35 anos atrás. Decidido a aceitar a luta, o protagonista acaba perdendo o apoio de Rocky, seu atual treinador. Ao mesmo tempo, acaba se afastando de sua amada Bianca (Tessa Thompson), que está grávida.

Foto: Warner Bros Pictures

Como toda boa sequência que se preze, Creed II busca aprofundar diversos conceitos apresentados no longa anterior, especialmente aqueles que se referem a relação de Adonis e Bianca, bem como os conflitos internos do primeiro perante o pai - que nunca conheceu, mas que agora carrega o nome com todo o orgulho e responsabilidade de mantê-lo respeitado. E é inteligente que, dentro dessa proposta, o filme nos apresente um Rocky cada vez mais distante do protagonismo, deixando que os holofotes se voltem em definitivo para a jornada de Creed.

Sylvester Stallone (Guardiões da Galáxia Vol. 2), que também co-escreve o roteiro, está ótimo no personagem, como de costume. É dele que vem toda a nostalgia que os fãs da saga sentem, ao mesmo tempo que é satisfatório vermos a apresentação de uma conclusão digna para sua história. Mas é Michael B. Jordan (Pantera Negra) quem brilha em definitivo, já que os conflitos internos e as angustias de Adonis ganham a tela e emocionam o espectador genuinamente, muito em função de sua parceria em tela com a talentosíssima Tessa Thompson (Cara Gente Branca).

E quando eu digo que este filme melhora o que vimos em Rocky IV, é porque aqui temos espaço para ver Dolph Lundgren (Aquaman) e Florian Munteanu (Bogat) desenvolveram minimamente a dinâmica da família Drago, bem como os efeitos que a derrota de Ivan para Rocky causaram na vida de ambos. Se antes o russo não passava de um vilão brucutu que mal tinha linhas de roteiro, agora conseguimos enxergar alguns tons de cinza que fazem total diferença no desfecho de Creed II. Ouso dizer que tal desenvolvimento estabelece uma dinâmica pouco vista nessa antologia, trazendo um ar de novidade inesperado e muito bem-vindo a essa altura do campeonato.

Foto: Warner Bros Pictures

Tecnicamente falando a produção também agrada ao manter a qualidade estabelecida do primeiro filme. Gostei particularmente da cinematografia de Kramer Morgenthau (Fahrenheit 451), que exerce papel fundamental na ideia de distanciarmos visualmente a franquia de Balboa, adentrando no protagonismo definitivo de Creed. Isso ocorre não apenas na troca de locações, já que em determinado momento Adonis e Bianca se mudam da fria Filadélfia para a calorosa Los Angeles, mas também na iluminação e na paleta de cores, contrastando identidades de forma sutil, mas bastante eficaz.

A trilha sonora é outro ponto forte da obra, novamente misturando composições originais (como o tema de Adonis) com inserções de hip hop, sempre de forma coerente com a proposta do que estamos assistindo. Gosto especialmente de como ela funciona na indispensável montagem do treinamento que precede o grande desafio - que nos dá um novo significado para o cair e levantar tradicional da série - e, claro, no embate final. E se você está se perguntando se o tema clássico do Rocky Balboa toca novamente aqui, a resposta é sim. E é lindo.

Se há algo negativo a se destacar, talvez seja a direção de Steven Caple Jr. (The Land). Não me entendam mal, o trabalho do cineasta é competente, mas está aquém do que foi apresentado por Ryan Coogler (Creed: Nascido Para Lutar) no passado. Talvez tenhamos ficado mal acostumados com os planos-sequências e ângulos de câmeras diferenciados do segundo, que trouxeram um novo jeito de enxergar as lutas de boxe no cinema, inovação que não era vista desde Touro Indomável (Raging Bull, 1980), obra-prima de Martin Scorsese (O Lobo de Wall Street).

Foto: Warner Bros Pictures

Por fim, devo dizer que assistir Creed II acompanhado de mais de três mil pessoas no auditório da CCXP18 foi algo singular, como havia sido conferir a primeira sessão de Creed: Nascido Para Lutar no mesmo evento em 2015. Curtir esse tipo de filme ao lado de pessoas apaixonadas pela franquia é algo realmente especial, por isso digo com tranquilidade, se tiver oportunidade, não deixe de conferir o longa nos cinemas. Garanto que a emoção será completamente diferente. E acredite, esse longa vai te emocionar de muitas formas.

Ótimo

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