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Rafael da Fonte de Hires
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Também conhecido como "O Demônio de Hell's Kitchen", Demolidor defende o agitado bairro de vários tipos diferentes de criminosos, dos ladrões comuns até os mais cruéis e implacáveis criminosos, como O Rei do Crime. O personagem estreou na revista Daredevil #1, em abril de 1964 (começamos bem, já com revista solo), com Stan Lee e Bill Everett, porém com inspiração de design advindo de Jack Kirby. A primeira edição abordava tanto as origens do personagem quanto seu desejo de justiça sobre o homem que matou seu pai, o boxeador "Battling Jack" Murdock, que criou o jovem Matthew Murdock. Jack instiga em Matt a importância da educação e da não-violência com o objetivo de ver seu filho se tornar um homem melhor do que ele. No dia em que salvou um cego do caminho de um caminhão que se aproxima, o garoto é cegado por uma substância radioativa que cai do veículo.
A exposição radioativa amplificam seus demais sentidos além dos limites humanos, permitindo-lhe detectar a forma e a localização dos objetos ao seu redor. A fim de apoiar seu filho, Jack Murdock retorna ao boxe com a ajuda de um gangster conhecido, e o único homem disposto a contratar o boxeador já envelhecido. Quando ele se recusa a perder uma luta porque o garoto está na platéia, o lutador acaba morto por um capangas do gângster. Tendo prometido a seu pai não usar força física para lidar com as coisas, Matt contorna essa promessa adotando uma nova identidade. Adornado em um traje amarelo e preto feito das vestes de seu pai e usando suas habilidades sobre-humanas, Murdock confronta os assassinos do pai sob a alcunha do herói Demolidor, passando a combater o crime dali em diante.
Várias facções criminosas, entre elas a Yazuka e as máfias chinesa e russa, começam a tirar vantagem da situação do bairro de Hell's Kitchen depois da famosa "Batalha de Nova York", ocorrida em Os Vingadores (2012). Matt Murdock (Charlie Cox) de noite é o vigilante preto mascarado que combate o crime; de dia, um advogado tentando subir na vida ao lado do seu grande amigo e sócio, Foggy Nelson (Elden Henson). A primeira cliente da dupla é Karen Page (Deborah Ann Woll), uma secretária que trabalha na construtora Union Allied, porém, a mesma é acusada de um crime que não cometeu, após descobrir um esquema de fraude de pensão.
A premissa inicial de Demolidor acaba abrindo portas para um roteiro bastante interessante. Nessa primeira temporada vemos contratos escusos sendo feitos, para logo na sequência sermos apresentados ao submundo do crime, conhecendo personagens icônicos do universo dos quadrinhos a Marvel, como Madame Gao (Wai Ching Ho) e Nobu (Peter Shinkoda). Porém, a mais promissora das apresentações é de Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio), futuro Rei do Crime, como o vilão central da temporada. Isso claro, sem falar da primeira aparição de Claire Temple (Rosario Dawson), uma espécie de elo entre as séries do universo Marvel/Netflix.
As cenas de ação são competentes, com destaque para a plano-sequência do corredor, onde Matt derruba dezenas de capangas e a câmera vai se aproximando a medida que o mesmo chega ao seu objetivo final. A dinâmica da cena não apenas facilita a compreensão do espaço físico ao espectador, como também eleva o nível de tensão absurdamente, fazendo quem assiste tentar antecipar os movimentos do herói e seus adversários.
Foto: Barry Wetcher / Netflix |
A fotografia também chama a atenção, ajudando na construção da identidade visual da série, sempre valorizando as cenas noturnas, utilizando das sombras para criar um clima noir, mas sempre utilizando algum foco de luz vermelho no enquadramento, mesmo que nas extremidades, ressaltando a áurea pecaminosa proposta pelas origens do personagem.
Ainda sobre a fundamentação da série, o figurino se mostrou essencial para tornar tudo crível. Antes do uniforme completo, Murdock um traje simples, todo preto, com uma espécie de venda que cobre seu rosto. Assim o vemos por grande da temporada, ainda que no final sejamos apresentados ao tradicional uniforme vermelho dos quadrinhos, remetendo a figura de um demônio. Mesmo que a coloração não assuma o vermelho sangue da obra original, trata-se de uma releitura interessante do visual, trazendo uma abordagem mais "tática" para o personagem, uma espécie de armadura simplificada do Batman de Christopher Nolan.
Outro ponto que merece menção é a abertura da série, banhada em "sangue", apresentando símbolos icônicos do personagem: sua mascara, o anjo de asas abertas, a cidade de Nova York, a ponte Golden Gate, a estatua da justiça, a igreja. No fim, o próprio personagem acaba envolto pelo "sangue" que deu forma a seus alicerces. Poético, dramático e bem executado.
Foto: Barry Wetcher / Netflix |
No que diz respeito as atuações, deve-se destacar o trabalho de Charlie Cox (Boardwalk Empire) que se tornou figura marcante como O Homem Sem Medo. Elden Henson (Efeito Borboleta) e Deborah Ann Woll (True Blood), ainda que coadjuvantes, apresentam personagens interessantes e essenciais para a construção do protagonista. Vincent D'Onofrio (Nascido Para Matar), por sua vez, é o que recebe, talvez, o melhor arco dramático da temporada, construindo um vilão a se temer, tamanha a imponência e tom soturno exalado pelo personagem. O tipo de pessoa que olhamos com apreensão mesmo quando parece estar calmo, algo essencial para o sucesso da série.
A primeira temporada de Demolidor foi o prelúdio perfeito para que o público comprasse a ideia do até então novato universo da Marvel/Netflix. O resultado final desse cruzamento de histórias não foi dos melhores, a gente já sabe, mas ainda assim é válido acompanhar a trajetória do Demônio de Hell's Kitchen, já que ela quase não derrapa quando comparada a seus pares.
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