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Postado por
Sumaia Gomes
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ATENÇÃO | Esse texto contém spoliers!
Quando a série Você (You) foi anunciada pela Netflix, a produção surgiu como um thriller despretensioso, mas com a promessa de ser instigante, assim como o livro no qual é baseada, escrito pela norte-americana Caroline Kepnes. O que ninguém esperava era que a história de Joe Goldberg traria discussões muito mais profundas, gerando comentários e explicações até mesmo de seu ator protagonista.
A trama narra a trajetória de Joe Goldberg (Penn Badgley), um gerente de uma pequena livraria, que, ao conhecer e se interessar pela aspirante a escritora Guinevere Beck (Elizabeth Lail), faz o que todos nós, em plena era das redes sociais, faríamos: busca pelo nome da jovem. Só que o que parece ser um comportamento comum e uma pesquisa inofensiva, se transforma em um caso obscuro de perseguição, que evolui para eventos orquestrados e manipulados para envolver Beck na teia doentia do protagonista. Ela pode não saber, mas é a mulher perfeita para Joe e ele fará de tudo para provar que só o que ela necessita é tê-lo ao seu lado, independentemente de quem, ou o que, entre em seu caminho.
Com uma abordagem de perseguidor e vítima inocente (e muitas vezes burra, a gente sabe), a série parece não trazer nada de novo e soa semelhante aos suspenses dos anos 90. No entanto, ao apostar em uma nova roupagem, com o advento das redes sociais e a constante exposição online, acaba por trazer um fôlego para sua narrativa, inserindo-a no mundo atual.
Foto: Netflix |
A produção tem uma boa dinâmica e ritmo na medida certa, sempre apresentando um bom gancho entre um episódio e outro, mantendo o espectador constantemente interessado no que vai acontecer adiante. Agora, mais do que afirmar se a série é boa ou não (e sim, ela é), é importante dizer que se trata de um trabalho complexo, muito em função dos assuntos e discussões que a permeiam, o que justamente acaba a tornando relevante e bem sucedida.
Você aborda um tema muito debatido atualmente: o relacionamento abusivo, suas ramificações e manipulações. Através de uma lente de aumento que extrapola situações e com uma linguagem cinematográfica, a série aborda questões centrais que envolvem o ciclo de um relacionamento abusivo. Do controle em demasia ao domínio emocional, bem como os terríveis resultados disso tudo.
Ao longo da trama, Joe se mostra um perigo para a vida de Beck, violando-a e manipulando-a completamente, para que tudo em seu entorno funcione a seu favor, fazendo com que, de alguma forma, a garota se veja presa a ele. O protagonista cria a imagem do príncipe no cavalo branco, o homem que dá suporte, para assim mexer com o psicológico da vítima e amarrá-la a essa relação doentia, afinal, “ninguém vai cuidar de você melhor do que eu”.
Joe quer Beck pois sabe que ela é frágil emocionalmente e que poderá exercer sua influência. Isso isso fica claro quando deixa de se relacionar com ela e passa a namorar Karen (Natalie Paul), alguém na qual ele não consegue exercer controle, não despertando seu real interesse. Joe precisa de alguém emocionalmente dependente e é justamente por isso que Beck é tão perfeita.
Foto: Netflix |
A série é competente em demonstrar como um abusador consegue enrolar, enredar e prender a sua vítima em teias invisíveis, até que seja tarde demais. A construção do personagem é feita de maneira tão bem trabalhada que é capaz de mexer até mesmo com a cabeça do espectador, e isso é assustador. Muitos se viram pegos torcendo ou tendo alguma afeição por Goldberg, alguns de forma mais enfática, defendendo-o em debates nas redes sociais. E como eu disse antes, sobrou até mesmo para Penn Badgley (Gossip Girl), que se pronunciou em seu perfil no Twitter, respondendo comentários de fãs que romantizaram a relação dos personagens, ressaltando que trata-se de um protagonista assassino e com sérios problemas.
Assistir Você sobre a perspectiva de Joe é um dos motivos para a romantização, além de, claro, a produção desenvolver detalhadamente seu perfil, mostrando o “cuidado” que tem com o seu pequeno vizinho, Paco (Luca Padovan), ou sua mãe, Claudia (Victoria Cartagena), que sofre constantemente com a violência doméstica do companheiro Ron (Daniel Cosgrove). Há muitos cenários a serem analisados e isso torna os episódios mais complexos do que eles parecem.
Contudo, a romantização do relacionamento de Beck e Joe só nos mostra o quão problemática é a sociedade em que vivemos, já que muitas pessoas ainda não conseguem identificar as características de um relacionamento abusivo. O que explica o motivo de tantas pessoas entrarem nesse tipo de relação, as vezes só percebendo o erro quando já é tarde demais.
Foto: Netflix |
Você merece seu destaque por conseguir transmitir essa mensagem de forma eficiente, fazendo com que muita gente compreenda seu recado. Cuidado é diferente de manipulação. E dependência não é nem um pouco saudável dentro de uma relação. Por isso a produção é tão necessária
Ótimo |
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Louca dos gatos, leitora compulsiva e fissurada em dar pitaco nos filmes de outras pessoas. Jornalista por amor, redatora porque a vida quis assim e pisciana sim senhor, mas talvez eu quisesse ser de escorpião. Oi, tudo bem?
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