CRÍTICA | As Golpistas

Direção: Lorene Scafaria
Roteiro: Lorene Scafaria
Elenco: Constance Wu, Jennifer Lopez, Julia Stiles, Mette Towley, Cardi B, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2019


Mulheres maravilhosas, danças sensacionais, casacos de pele, muito glitter, luzes neon e poder. À primeira vista, esta é a roupagem de As Golpistas (Hustlers). Stripers que levam uma vida glamourosa, cheia de estilo e que, literalmente, dançam em meio a notas de dinheiro. No entanto, à segunda vista, trata-se de um longa-metragem sobre sobrevivência, empatia e sororidade acima de tudo.

Dirigida e roteirizada por Lorene Scafaria (Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo), a produção baseia-se no artigo da New York Magazine, escrito pela jornalista Jessica Pressler. A trama conta a história de mulheres que ganham a vida dançando em uma boate, mas que com a crise de 2008 viram-se sem expectativas, visto que a maioria dos clientes parou de frequentar o estabelecimento. Sendo assim, um grupo delas decide aplicar golpes em homens ricos, buscando recuperar sua condição financeira. Em algum momento a situação sai do controle. 

Foto: Diamond Films

O roteiro é muito bem estruturado e no tom certo, entregando um drama de qualidade revestido pela comédia. A história gira em torno de duas personagens principais : Ramona e Destiny, interpretadas respectivamente por Jennifer Lopez (Uma Nova Chance) e Constance Wu (Podres de Ricos) . As atrizes são os grandes destaques da obra, com ótimas e honestas atuações. Lopez entrega seu melhor trabalho como atriz até aqui, encarnando uma mulher poderosa e destemida que, ao mesmo tempo, é uma mãe que busca cuidar e apoiar sua filha e amiga.

Essas golpistas, as protagonistas em específico, são mulheres guerreiras e mães, que não medem esforços para proporcionarem a suas filhas tudo que há de melhor. E quem pode julgá-las? Em determinada cena, Destiny questiona à uma jornalista (Pressler) que a entrevista, se ela não teria agido da mesma forma se sua vida não tivesse sido tão privilegiada, evidenciando o quão é fácil julgar as escolhas de alguém quando todas as portas lhe são abertas e se você tem uma família em casa que te suporte de todas as maneiras possíveis.

Tecnicamente falando, foi interessante notar a escolha de cores que compõem a fotografia do filme. Num primeiro momento, tons neon  de  roxo e azul predominam, trazendo uma aura de fantasia, luxo e encantamento a narrativa, que casa com a boa fase em que as protagonistas vivem. Em um segundo momento, os tons de neon passam a desaparecer, indicando a seriedade e sobriedade que a trama começa a assumir. E apesar do tom sempre descontraído, o tema tratado não é nada engraçado. E muito menos deslumbrante. Scafaria sabe tratar essa composição de forma leve, sem soar forçado.

Foto: Diamond Films

Por fim, acredito ser importante enfatizar o fato de As Golpistas ter sido roteirizado e dirigido por uma mulher. Talvez víssemos um outro filme caso este fosse assinado por um homem. Assistimos as personagens aplicando golpes no sexo oposto e conseguimos ainda assim simpatizar com suas histórias e as compreender enquanto seres humanos. Enquanto espectadores, somos desafiados a não ocupar o lugar de quem julga e sim o lugar daquelas pessoas em tela, assimilando suas motivações. Finalmente nos levando a considerar que, se estivéssemos em seus lugares, provavelmente faríamos as mesmas escolhas. 

Ótimo

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