CRÍTICA | Mulan

Direção: Niki Caro
Roteiro: Rick Jaffa, Amanda Silver, Elizabeth Martin e Lauren Hynek
Elenco: Yifei Liu, Donnie Yen, Li Gong, Jet Li, Jason Scott Lee, Tzi Ma, Yoson An, entre outros
Origem: EUA / Canadá / Hong Kong
Ano: 2020


Mais que excelentes músicas e personagens marcantes, as animações da Disney primam pela qualidade e quantidade exorbitante de coração e carisma. Algo que transcende eras e faz com que cada filme seja relevante e encantador até hoje. É uma pena que esse cenário não seja vivido em sua plenitude pelas versões live-actions recentes da empresa. Em meio a gangorra de erros e acertos, Mulan (2020) flerta em sentar junto aos bons, mas para na porta e decide ficar de fora.

Como toda adaptação, mudanças foram feitas com relação a obra original, mas boa parte das alterações polêmicas não são parte dos pontos negativos do novo filme. O descarte do personagem Mushu, por exemplo, para incorporar a Fênix como guardião da protagonista funciona bastante dentro de todo o escopo construído. A inserção - de certa forma - do grilo falante também é uma grata homenagem ao personagem da animação e mesmo as alterações na família de Mulan, com Shang e Shan-Yuonam. 

Outro ponto que deve ser elogiado é o visual. A cinematografia colorida e viva de Mandy Walker (Conspiração e Poder) tiram proveito das belas paisagens das locações, assim como diversos cenários são recriados primorosamente. Mas os elogios, infelizmente, param por aqui.

Toda adaptação deve ser analisada como um produto único, no entanto, quando se recria tantas cenas quadro a quadro da animação, é impossível não haver comparações. Desde que se respeite o cerne da história original, toda mudança é bem-vinda e há dois exemplos na própria Disney que exemplificam isso.

Walt Disney Pictures

Na recente versão de Aladdin (2019), por exemplo, houve uma mudança significativa em Jasmine (Naomi Scott), possibilitando não apenas mais espaço o para o desenvolvimento da personagem no roteiro, mas dando a ela lugar de fala na história. Por outro lado, a tentativa de aproximar os animais à realidade foi o calvário de O Rei Leão (2019), remake que tirou todo o carisma dos personagens, aquilo que mais chamava atenção na animação de 1994.

Mulan é mais que um épico ou a jornada de uma guerreira. É o conto de uma mulher que, em meio a uma sociedade onde somente homens eram destinados à guerra, escolhe seu lugar, luta por ele e o conquista por méritos próprios. Ela não deixa os outros decidirem onde, como ou o que ela pode fazer. Ela é a agente modificadora de sua própria história.

Apesar de beber da mesma fonte do conto, é aqui que o filme perde força e se torna uma adaptação morna. Há, por exemplo, a introdução do chi como uma força motora que guia Mulan por toda a trama. Apesar de ser um conceito muito forte nas artes marciais, a inserção tira o peso de boa parte de suas ações e soa muito mais como uma espécie de super poder. Isso fica evidente nas cenas do treinamento da protagonista. Enquanto na animação ela supera o desafio do poste usando a inteligência para entrelaçar os medalhões e retirar a flecha do alto, aqui o momento é condensado com a corrida dos baldes pela montanha. A solução encontrada para se chegar ao topo é apenas se concentrar e correr da mesma forma como em todas as outras tentativas, mas nessa, o chi a guiará até o final. A boa ideia sendo usada da pior maneira possível.

São pequenas mudanças, mas importantes no desenvolvimento da personagem e no cerne da mensagem que ela quer passar. Alterações que diminuem o peso dela conquistar seus objetivos por méritos próprios, e não por ela ser uma espécie de "escolhida".

Walt Disney Pictures

Evidentemente boa parte das mudanças tem a intenção de agradar o público Chinês, que segundo a própria Disney, nunca se viu representada pela animação (ainda que os sites agregadores de notas locais mostrem o contrário). Muito da suposta não aceitação vinha do tom debochado com que o estúdio tratou um dos símbolos culturais do país: o dragão. Uma pena que as alterações também não tenham trazido honra à obra.

Com algumas participações especiais e lampejos de algumas melodias icônicas da animação original, Mulan, de 2020, se mostra um remake de potencial desperdiçado. Belíssimo visualmente, mas mal acabado em diversos aspectos.

Regular


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