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Cibele Pixinine
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Direção: George C. Wolfe Roteiro: Ruben Santiago-Hudson Elenco: Viola Davis, Chadwick Boseman, Colman Domingo, Glynn Turman, Michael Potts, entre outros Origem: EUA Ano: 2020 |
Mais do que um simples gênero musical, o Blues foi uma das primeiras expressões culturais do povo negro em terras norte-americanas. O contexto histórico por trás desse ritmo é tão forte que, até mesmo, formato e técnica parecem ficar de lado. O Bluesman não era apenas um compositor ou um músico, mas sim um poeta, um mensageiro que vivenciava, através do blues, uma catarse para os seus tormentos e os de seus companheiros. É com essa imagem em mente que devemos assistir A Voz Suprema Do Blues (Ma Rainey's Black Bottom), drama da Netflix que traz Chadwick Boseman (Destacamento Blood) - em seu último trabalho - e Viola Davis (As Viúvas) como protagonistas.
Desta vez, viajamos até a Chicago dos anos 1920, mais especificamente, para um antigo estúdio de gravação no centro da cidade. Ma Rainey (Viola Davis), considerada a “Mãe do Blues”, está pronta para gravar mais um disco com a sua banda. Mas é claro que as coisas não poderiam ser fáceis, já que no ar cresce uma enorme tensão entre a cantora e o talentoso trompista Levee (Chadwick Boseman). Apesar de representarem polos opostos - a tradição versus a inovação, o velho versus o novo - como dois artistas negros, eles compartilham muito mais do que imaginam.
A princípio, o filme pode gerar certa estranheza, já que o tom teatral é uma das suas principais características. Desde o início, é possível perceber o destaque dado para os monólogos e os diálogos carregados de interpretações intensas dos atores em cena. É preciso lembrar que A Voz Suprema Do Blues é uma adaptação da última peça do premiado dramaturgo August Wilson. Porém, essa escolha não é, nem de longe, um demérito, pois o roteiro de Ruben Santiago-Hudson (Lackawanna Blues) e a direção de George C. Wolfe (Um Momento Pode Mudar Tudo) conseguem equilibrar as duas linguagens (cinema e teatro) e explorar as suas possibilidades.
Se por um lado, o longa segue à risca a dinâmica teatral - em que as digressões não ganham uma camada visual, mas se mantêm no presente apenas como uma narrativa oral -, a linguagem cinematográfica fala mais alto quando passeamos pelos dois ambientes presentes na história, alternando entre as perspectivas dos personagens.
Ainda falando sobre esses momentos de digressão, é interessante pensar que eles poderiam ter ganhado vida através, por exemplo, de flashbacks, mas a escolha consciente do diretor e roteirista caminharam para a direção contrária. Manter as cenas de monólogos apenas com close-ups dos personagens conversa com a própria história do Blues, já que ele vem de uma longa tradição oral e desafiou durante muito tempo as fórmulas da escrita musical. São esses pequenos detalhes que geram uma experiência diferenciada ao público e agregam valor a obra final.
Falando um pouco sobre as atuações, Davis e Boseman brilham fortemente em cena. Os dois personagens estão muito interligados, são bem trabalhados e trazem visões diferentes para a trama. Contudo, ouso dizer que Chadwick, com o seu ambicioso trompetista Levee, ganha mais destaque. O personagem tem momentos de tirar o fôlego, que nos fazem entender a sua história e suas motivações, mas também colocam em xeque o racismo estrutural nos Estados Unidos. Vale destacar que o Blues, assim como todo o povo negro, foi objeto de desprezo e ao mesmo tempo fonte de exploração e riquezas para a sociedade branca norte-americana.
Em entrevistas, o diretor George C. Wolfe manifestou o desejo de que A Voz Suprema do Blues fosse lançado em junho deste ano, durante as manifestações do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), pois, para ele, o filme serviria como um instrumento de denúncia contra o racismo. Apesar do lançamento tardio, garantimos que a mensagem permanece clara e extremamente necessária.
David Lee/Netflix |
Para conhecer mais sobre os primórdios do Blues, recomendamos a leitura da matéria publicada em 2011 no Portal Geledés: Uma Introdução à História do Blues.
Excelente |
Chadwick Boseman
Cibele Pixinine
Colman Domingo
Críticas
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Michael Potts
Netflix
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