CRÍTICA | Irmão Urso

Direção: Aaron Blaise e Robert Walker
Roteiro: Tab Murphy, Lorne Cameron, David Hoselton, Steve Bencich e Ron J. Friedman
Elenco: Joanquin Phoenix, Jeremy Suarez, Jason Raize, Rick Moranis, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2003

“O pé na estrada eu vou botar.”

Irmão Urso (Brother Bear) é uma história sobre jornada. A animação dirigida por Aaron Blaise (How to Haunt a House) e Robert Walker nos faz refletir sobre quem verdadeiramente somos e o que fazemos com o tempo e as oportunidades que nos são dadas. Assim como é impossível ler a primeira frase dessa crítica sem cantarolar a música tema, também é tarefa das mais difíceis não se emocionar ao fim da viagem.

Ambientado no fim da Era Glacial, Kenai (Joaquin Phoenix) é o mais novo de três irmãos. O conhecemos no dia em que ele irá participar do ritual para receber seu totem. O processo funciona como um rito de passagem para a vida adulta na tribo. Mas, após alguns acontecimentos e presenças indesejáveis, vemos nosso protagonista ser afastado de sua vila e transformado em um urso.

Aqui há um corte, ao meu ver, bem brusco de sentimento em relação ao filme. Todo esse primeiro ato de Kenai como homem e a sua relação com a aldeia e seus irmãos é extremamente apressada. Você consegue entender as ligações, mas falta tempo para que os acontecimentos realmente tenham um impacto e peso no espectador.

Walt Disney Pictures

É então que surge Koda (Jeremy Soarez). Os dois cruzam o caminho pelo destino. O pequeno urso se perdeu de sua mãe e pretende voltar ao seu povo, enquanto Kenai apenas quer chegar na montanha onde a luz toca, lugar este que, segundo os conselhos que escutara, o trará de volta a forma humana. De mundos distintos, a relação entre os dois é o coração do filme. Se, para mim, o primeiro ato não entrega o peso necessário, aqui sobra sensibilidade e, a partir da jornada dos dois, a produção cresce demais. 

É bem verdade que, ainda assim, a animação perde algumas oportunidades de voar ainda mais alto. Os alces - cujas vozes são dos ótimos Marco Nanini (Greta) e Luís Fernando Guimarães (Os Normais: O Filme) na versão brasileira - têm participação bem tímida e pouco acrescentam a narrativa além de serem o alívio cômico.

O mesmo vale para as canções. Com exceção da excelente "Lá Vou Eu", todo o resto está bem abaixo da média estabelecida pela Disney. Tão abaixo que nem consigo me lembrar de trechos das demais músicas.

Mas tirando da frente as partes que me incomodaram, sobra espaço para o que Irmão Urso faz de melhor, que é brincar com as perspectivas. Ao colocar um homem em meio aos ursos e capaz de conversar e entender o pensamento deles, você subverte as linhas de raciocínio. O homem ataca o urso por medo dele o atacar, ou o urso se sente ameaçado pela natureza desconfiada e ameaçadora do homem, e apenas se defende?

Não há uma verdade absoluta se estamos sempre enxergando tudo através de uma ótica pessoal e cheia dos nossos próprios conceitos e vivências. Kenai dedicou parte da sua vida a perseguir um urso, achando que isso apagaria sua dor, mas precisou se transformar em um para entender de fato o outro lado de sua própria história. E não só isso. Ele viu no jovem Koda a sua própria jornada e o caminho aberto para uma segunda chance. Não para consertar, mas para permitir a Koda dias melhores que ele mesmo não teve.

Walt Disney Pictures

As vezes é necessário se perder para se encontrar. Foi na solidão das más escolhas, que Kenai e Koda se reencontraram em suas melhores versões. Afinal, como diz a música, “qualquer tempestade tem fim” e, no caso de Irmão Urso, o final nos deixa com o coração quente e um sorriso no rosto.

Bom


Comentários