CRÍTICA | A Mula


Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Nick Schenk
Elenco: Clint Eastwood, Bradley Cooper, Michael Peña, Taissa Farmiga, Andy Garcia, Laurence Fishburne, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018


Apesar de não ser uma novidade, retratar a terceira idade no cinema pode render grandes histórias, seja em filmes autorais ou inspirado em fatos. A depender do olhar do realizador, a velhice pode significar força aliada à vitalidade, ou até mesmo melancolia e lamentação pelo tempo que poderia ter sido aproveitado e foi perdido. Sob essa premissa, o consagrado Clint Eastwood (15h17: Trem Para Paris) volta a atuar - após 6 anos de pausa - em seu mais novo trabalho como cineasta, A Mula (The Mule).

Baseado em uma história real que originou o artigo “The Sinaloa Cartel´s 90-Year-Old Drug Mule”, do New York Times, a trama nos apresenta a Earl (Eastwood), um homem com 90 anos que vive sozinho após decepcionar sua família por ficar muito tempo ausente e se dedicar exclusivamente ao trabalho. Ele era um produtor de flores de sucesso, até que a internet alterou o procedimento de vendas e Earl não acompanhou a mudança. Falido e prestes a perder sua casa, o protagonista vislumbra uma oportunidade de trabalho como motorista que pode ajudá-lo a recuperar tudo, inclusive o convívio com a família. Ele passa, então, a ser um transportador de drogas para um cartel mexicano, a mula do título.

Foto: Warner Bros Pictures

O roteiro de Nick Schenk (Gran Torino) retrata a terceira idade, em um primeiro momento, de forma bem-humorada, com Earl brincando com sua velhice, a existência da internet e o envio de mensagens de texto por celular, afirmando em tom de sarcasmo que sabe escrever e vai se esforçar. Em seguida, o humor dá lugar à seriedade, com o protagonista não se importando com a ilegalidade de seu novo ofício. Na medida em que as entregas vão sendo feitas, Earl passa a se sentir mais seguro de si, pois está ganhando dinheiro fácil, colocando aos poucos suas contas em dia e se aproximando mais de seus familiares.

Um fator fundamental para que a obra funcione é o carisma do protagonista, que não apenas lhe garante bom entrosamento com os integrantes do cartel, mas também mantém o interesse e a afeição do público. Prova de que Eastwood é como vinho e só melhora com o tempo.

E por falar em atuação, devo destacar a versatilidade de Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela), que inicia a obra de forma modesta como o investigador responsável por desmantelar o cartel, e que vai ganhando espaço nos momentos decisivos da narrativa. Completam o elenco Laurence Fishburne (A Melhor Escolha), Michael Peña (Narcos: México) e Andy Garcia (Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo), que valorizam o longa ao lado de Dianne Wiest que vive a ex-esposa do protagonista. Apesar dos poucos momentos em tela, a atriz causa comoção e emociona com sua personagem.

Eastwood consegue ao longo dos 116 minutos de projeção confrontar a empatia de seu personagem com a frieza demonstrada em momentos cruciais, além de proporcionar sérias reflexões acerca da vida, como quando profere a frase: “pude comprar tudo na vida, menos o tempo”. Além disso, percebe-se que a vida que Earl leva foi fruto de sua teimosia e escolhas, e que ele passou a reconhecer sua verdadeira posição no mundo, mesmo que tardiamente.

Foto: Warner Bros Pictures

Com um interessante arco dramático e uma narrativa complexa, A Mula soa como uma despedida digna de um intérprete que soube mostrar ao longo de seis décadas um magnetismo de tela como poucos. Uma verdadeira lenda vida do cinema é o senhor Eastwood


Ótimo

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