CRÍTICA | Expresso do Amanhã

Direção: Bong Joon Ho
Roteiro: Bong Joon Ho e Kelly Masterson
Elenco: Chris Evans, Jamie Bell, Tilda Swinton, Ed Harris, Kang-ho Song, John Hurt, Octavia Spencer, entre outros
Origem: Coréia do Sul / República Checa
Ano: 2013


Após o sucesso estrondoso de Parasita (2019), o nome do diretor Bong Joon Ho (Mother: A Busca Pela Verdade) caiu nas graças do grande público e, de repente, seus trabalhos anteriores ganharam os holofotes. Eu, que me incluo nessa categoria da audiência, sinto certa vergonha de constatar o quanto estou (ou estamos) atrasada no que diz respeito ao cinema asiático, ou, especificamente, o sul-coreano.

Nessa busca pelos projetos do cineasta, surpreendentemente me deparei com Expresso do Amanhã (Snowpiercer), longa-metragem lançado em 2013 e que trás Chris Evans (Vingadores: Ultimato), o eterno Capitão América, como protagonista. Filme que já estava na minha lista há algum tempo, mas que sempre adiava a assistida.

A obra é um retrato pós-apocalíptico não muito distante do período atual, em 2031, onde a Terra se encontra completamente congelada após uma tentativa das grandes autoridade mundiais de frearem o aquecimento global. A maior parte da humanidade morreu e os poucos sobreviventes da espécie humana vivem em um trem, separados por classes e categorias: abastados à frente, pobres na cauda. E é em meio ao cenário de insatisfação, abuso e fome por parte da comunidade mais desprivilegiada, que Curtis (Evans) planeja uma rebelião para chegar até aquele o criador e comandante do trem, Wilford (Ed Harris).

Foto: SnowPiercer

O longa surpreende ao quebrar o paradigma clichê das distopias hollywoodianas. Há um tom visceral e uma brutalidade que não vemos costumeiramente nesse tipo de produção, mesmo quando a temática fala da destruição do planeta. Em um cenário de ausência do meio ambiente, Expresso do Amanhã foge do discurso comum de “se não cuidarmos da Terra, esse será o nosso fim”, pois isso, enquanto espectadores, nós já sabemos. a produção então se utiliza da premissa para abordar outros temas que nos são contemporâneos, como a desigualdade e a pirâmide social

Trata-se de uma representação quase fiel do sistema capitalista mundial e dos efeitos colaterais benéficos, ou não, para as diversas classes da sociedade. Se pensarmos que a todo momento os personagens se referem ao trem como “a máquina” e aplicarmos isso em um conceito amplamente conhecido da “máquina do capitalismo”, tudo se encaixa perfeitamente. E, dentro desse contexto, sabemos bem quem são as engrenagens que movem esse sistema (ou locomotiva, no caso).

Mais do que toda a realidade de fome e violência vivida por quem está no último vagão do trem, o que há de demais emblemático no filme são os discursos proferidos por Mason, personagem vivida por Tilda Swinton (Okja). São cenas poderosas, chocantes e excelentes para causar o "chacoalhão" que alguns espectadores precisam.

Sem deixar de lado a parte técnica, o longa ainda apresenta um excelente design de produção, já que as transições de um vagão para o outro e suas respectivas identidades foram muito bem representadas, especialmente se pensarmos no espaço confinado para se trabalhar. Por outro lado, alguns efeitos digitais podem deixar um pouco a desejar, mas nada que atrapalhe a experiência.

Foto: SnowPiercer

Para encerrar, vale citar que Expresso do Amanhã é adaptado de uma graphic novel chamada Perfuraneve, que, para quem não sabe, gerou outra adaptação áudio, já que a Netflix estreou uma série homônima ao filme recentemente. A nova história, porém, é um prelúdio que se passa cerca de 10 anos antes dos eventos do longa-metragem.

Ótimo

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