CRÍTICA | Tenet

Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: John David Washington, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki, Kenneth Branagh, Himesh Patel, Michael Caine, entre outros
Origem: Reino Unido / EUA
Ano: 2020


Chegando ao seu décimo primeiro filme como diretor, Christopher Nolan (Batman: O Cavaleiro das Trevas) se consolidou como um dos cineastas mais consagrados de sua geração, conquistando uma legião de fãs e haters, exatamente pelas mesmas características que tanto dividem opiniões em suas obras.

Se em Durkink (2017), seu filme anterior, ele deu algum sinal de que estaria saindo de sua zona de conforto ao retratar uma história baseada em fatos e com menos recursos narrativos mirabolantes, em Tenet (2020) ele reafirma o tipo de cinema que quer fazer sem se importar com as críticas negativas que tanto insistem em apontar em sua carreira.

É inevitável não lembrar da franquia 007 em seu novo longa. Para se ter ideia, o protagonista interpretado por John David Washington (Infiltrado na Klan) é um agente secreto sem nome, que presta serviço às cegas e, após ser dado como morto em uma missão mal sucedida, é designado a evitar uma possível terceira guerra mundial - ao mesmo tempo em que se apresenta sempre elegante nos trejeitos e figurinos. É como se Nolan fizesse questão de usar toda a influência cinematográfica britânica que cresceu assistindo nos filmes de James Bond para emular o agente em sua própria versão, o que até deu certo.

Assim como em A Origem (2010) ou Interestelar (2014), o diretor abusa de termos complicados e em trazer noções físicas paradoxais para permear a trama com um tom narrativo robusto, mas que não passam de mero capricho para florear a simplicidade por trás do roteiro assinado por ele. Que fique claro, isso não é um defeito de Nolan, já que é nítido como ele se apropriou dessas características em sua filmografia e sabe usá-las a seu favor, ainda que o excesso esteja presente nos diálogos expositivos e em um vilão clichê e pouco convincente vivido por Kenneth Branagh (Assassinato no Expresso do Oriente).

Warner Bros Pictures

Por outro lado, a parceria de Washington e Robert Pattinson (O Farol) dá muito certo. Atuando como um agente secreto de origem indefinida, Pattinson está extremamente a vontade e mesmo sendo posto nitidamente como coadjuvante, chega a roubar a cena nas sequências em que os dois atores dividem a tela.

Outro ponto a se destacar é o fato de Nolan finalmente desenvolver uma personagem feminina com mais camadas e um background interessante a ser explorado. Elizabeth Debicki (As Viúvas) é bastante convincente na pele da mulher chantageada e violentada pelo marido, ao mesmo tempo que também traz uma breve referência às Bond girls clássicas em sua atitude, sem resumi-la a sua aparência física.

Se for para apostar em Tenet, o filme será lembrado por seu primor técnico. Os efeitos visuais dialogam perfeitamente com a complexidade física que a trama se utiliza para trazer sequências tecnicamente impressionantes. Dá até pra entender (um pouco) a insistência do diretor em querer lançar o longa exclusivamente nos cinemas em meio a pandemia, já que a combinação da trilha sonora com os efeitos exibidos na telona demonstram o maior grau de seu domínio na função até o momento.

Pra quem já é fã de Christopher Nolan e aprecia suas "manias" cinematográficas, Tenet é um banquete satisfatório, pois possui todos os ingredientes antes vistos em suas obras em uma nova roupagem e até melhor trabalhados em alguns quesitos técnicos. É inegável, no entanto, que o cineasta faz "mais do mesmo" com qualidade, mas não dá pra ignorar seus exageros, como, por exemplo, a longa e desnecessária metragem, os plot twists telegrafados e o antagonista caricato. O lado bom da previsibilidade é que o público cativo certamente apreciará o resultado final, enquanto aqueles que já não caem mais nas graças do diretor continuarão atestando os mesmos problemas com propriedade.

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Bom


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