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Postado por
Cibele Pixinine
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Alguns diretores tem uma identidade visual e narrativa tão única que é impossível não reconhecer a sua marca no instante em que começamos a assistir suas obras. É o caso, por exemplo, de Guillermo del Toro (A Forma da Água) ou Wes Anderson (O Grande Hotel Budapeste) que imprimem nas telonas parte de suas personalidades e, assim, criam uma filmografia forte e inesquecível. O diretor grego Yorgos Lanthimos (A Favorita) já garantiu o seu lugar nessa lista e O Lagosta (The Lobster) é um ótimo exemplo disso.
Se o casamento monogâmico é um dos principais pilares de nossa sociedade contemporânea, no futuro distópico criado por Lanthimos ele é a regra máxima. Aqui todas as pessoas são obrigadas a viverem um relacionamento a dois, e aquelas que não conseguem encontrar o parceiro ideal são enviados para um resort por 45 dias. Esse é o aviso final. Caso permaneçam solteiras, serão transformadas - de forma literal (e absurda) - em um animal a sua escolha.
David (Colin Farrell) é um homem de meia idade que, ao ser abandonado pela esposa, se vê obrigado a ir para o hotel de solteiros. Mas a pressão para encontrar sua futura companheira em um curto espaço de tempo é demais para ele, que decide abandonar todas aquelas convenções sociais e se juntar a um grupo de párias.
Como todos os outros trabalhos do cineasta, O Lagosta demonstra bem seu estilo. Seja nas atuações contidas, na fotografia fria ou nos enquadramentos distantes e engessados, tudo ali nos diz que essa é uma obra de Lanthimos. Essa composição pode não agradar a todos, porém, é indiscutível a sua qualidade técnica e narrativa.
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O longa pode ser interpretado como uma crítica a sociedade atual que constantemente reforça um ideal-padrão para relacionamentos amorosos, desumanizando não somente essas relações, mas os próprios sentimentos. No filme, não há espaço para o meio-termo, para a ambiguidade ou para a complexidade, pelo contrário, tudo e todos são sistematizados em termos reducionistas e extremistas. Isso fica claro desde os pequenos detalhes da narrativa, quando nos é mostrado que não há espaço para a bissexualidade, para sapatos fora da numeração padrão ou atrasos no café da manhã.
A ideia de que é preciso estar em um relacionamento para ser feliz é também uma das bases da narrativa. No hotel, todos os hóspedes assistem palestras que mostram como a vida a dois é mais vantajosa. Além disso os prazeres individuais, como a masturbação, são fortemente reprimidos. A busca pela sua alma-gêmea é cansativa, mentalmente desgastante, porém, é a única opção. É isso ou se transformar em um animal!
Nesse sentido, o autoritarismo desponta como outra característica nata daquela sociedade. Em ambos os nichos – hotel/cidade e rebeldes/floresta – não há livre-arbítrio para o protagonista. De um lado, ninguém pode viver sozinho, já do outro é proibido criar vínculos amorosos. Códigos morais ditam sempre os comportamentos e atitudes dos personagens até o ponto de serem naturalizados e ser quase impossível imaginar outra possibilidade para além dessa dicotomia.
Esse e outros elementos do roteiro são potencializados pelos aspectos técnicos. Como já citado, as atuações são contidas e muitas vezes robóticas combinando perfeitamente com a forma como os personagens devem se comportar naquele ambiente. Já a cinematografia de Thimios Bakatakis (O Sacrifício do Cervo Sagrado), sempre em tons pasteis e frios com enquadramentos abertos, demonstra como as relações ali são distantes e os personagens pouco são protagonistas de suas próprias histórias.
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Por último, vale citar a trilha sonora repleta de sons de instrumentos de cordas, que pontua muito bem os momentos de maior tensão e vividez da obra.
Estranheza e desconforto marcam O Lagosta, mais um grande filme de Yorgos Lanthimos sob o selo da queridinha A24. Uma produção que pode não agradar a todos, mas com certeza cumpre o seu papel de nos fazer refletir.
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