CRÍTICA | Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore

Direção: David Yates
Roteiro: J.K. Rowling e Steve Kloves
Elenco: Eddie Redmayne, Jude Law, Ezra Miller, Dan Fogler, Mads Mikkelsen, Alison Sudol, Callum Turner, entre outros
Origem: Reino Unido/EUA
Ano: 2022

Em 2016, era lançado Animais Fantásticos e Onde Habitam, com a intenção de expandir o mundo bruxo, quase como um presente e uma esperança de manter a magia viva para os fãs da saga Harry Potter, nos deixando animados para o que viria a seguir. Porém, o segundo filme, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, decepcionou com um roteiro fraco, cheio de personagens sem desenvolvimento e quase sem relevância para as próprias criaturas mágicas.

Encerrando com um gancho enorme sobre a família de Dumbledore, era de se esperar que existiriam revelações para a sequência. Mas assim como o longa anterior não mostrou tantos crimes, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore) não guarda tantos segredos quanto esperávamos, e alguns, inclusive, não são nada que um potterhead já não saiba.

A produção traz uma trama em ritmo de eleições, com a Confederação Internacional dos Bruxos à beira de escolher seu próximo representante. A disputa se concentra entre Liu Tao (Dave Wong) e Vicência Santos (Maria Fernanda Cândido). Depois de passearmos pelos EUA e pela França, agora conhecemos um novo Ministério da Magia, o da Alemanha.

O mundo bruxo não está ainda totalmente em guerra, mas existe caos por conta das ações de Grindelwald (Mads Mikkelsen), criando certa polarização. Então, cabe a Alvo Dumbledore (Jude Law) impedir os planos malignos de seu antagonista. Quer dizer, cabe aos seus aliados os impedir, sendo liderados no bom estilo de Dumbledore, pois os traços que formam a personalidade do professor estão ali, sempre de olho nos inimigos e agindo silenciosamente, o grande “voyeur de eventos importantes”, deixando outros agirem sob seus comandos.

Warner Bros Pictures

Sendo assim, para impedir a ascensão de Grindelwald na comunidade bruxa, ele reúne um grupo de bruxos: o magizoologista Newt (Eddie Redmayne) com sua maleta com criaturas; seu irmão, o auror Teseu Scamander (Callum Turner); a divertida assistente de Newt, a bruxa Bunty (Victoria Yeates); o bruxo francês Kama (William Nadylam), que está de volta depois dos acontecimentos do filme anterior; a Professora Hicks (Jessica Williams); e o trouxa favorito dos fãs e do Brasil, o padeiro Jacob Kowalski (Dan Fogler).

Talvez esse terceiro filme se destaque dos outros pela maior relevância dos animais fantásticos para a trama, e também pelo tom político que carrega, fazendo um paralelo com eventos do mundo real, com um clima de conspiração que dita o tom da produção, além de apresentar momentos divertidos, quase todos protagonizados por Jacob ou Newt.

O grande problema dessa nova franquia, porém, é que parece não haver motivo para ela existir. Os Segredos de Dumbledore não se sustenta, justamente por não haver motivação que segure a narrativa. É uma obra visualmente bela por sua cinematografia e investimento em CGI, que fazem uma grande “maquiagem” que "derrete" o espectador (e o fã, especialmente) através da apelação pela nostalgia. Todas as cenas envolvendo Hogwarts, por exemplo, com aquela trilha sonora familiar, faz com que o coração do fã fique quentinho e - quase - se esqueça do vazio do roteiro.

A produção tenta se aprofundar na história de Dumbledore e Grindelwald, apresentando mais detalhes sobre a relação dos dois e oferecendo um panorama maior da influência do vilão no mundo bruxo. No entanto, J.K. Rowling e o diretor David Yates (Harry Potter e a Ordem da Fênix) novamente falham na intenção, já que mostram muita coisa sem contar, efetivamente, nada. Rowling, particularmente, que nessa sequência trabalhou junto do roteirista Steve Kloves (da saga Harry Potter), reforça a impressão de que não sabe o que fazer narrativamente com a própria obra. O maior sinal disso é usar o nome do filme e o próprio protagonista como acessórios na história, focando apenas nos dois dos maiores bruxos daquele universo.

Neste terceiro filme, houve finalmente a confirmação de que Dumbledore e Grindelwald eram apaixonados e que daí surgiu o pacto de sangue entre os dois. Porém, não há o desenvolvimento dessa relação. Até o romance entre Jacob e Queenie Goldstein (Alison Sudol) é mais bem explorado.

Warner Bros Pictures

Outra reafirmação de que a autora não sabe o que está fazendo com sua obra é que não há sensação de franquia. Cada longa parece diferente do outro, não só pela troca dos atores que interpretam Grindewald, mas também pelos arcos "jogados" de personagens como Queenie e Credence (Ezra Miller), este último parecendo um personagem diferente em cada capítulo e que prometia ter uma relevância maior para o todo. Inclusive, alguém sabe o que aconteceu com a Nagini? Fica aí o questionamento. Isso tudo, além dos problemas externos já conhecidos, dificultam muito a conexão do público com a franquia.

Outra decepção foi a promessa de representatividade brasileira em tela, que quase não existe. Apesar de vislumbrarmos o brasão do Ministério da Magia Brasileiro e a participação de Maria Fernanda Cândido (Dom) - atriz formidável e em posição de destaque nesse universo - como Vicência Santos, a personagem é mal aproveitada pelo roteiro, que parece não concordar com sua relevância, ganhando apenas uma fala em todo longa. E, acreditem, em nenhum momento sequer há menção ao Brasil.

Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo) continua excelente nos trejeitos de Newt, que mesmo com a postura arqueada, a fala para dentro e a insegurança, constroem um personagem carismático, mas que não aparece ter apresentado nenhum tipo de desenvolvimento entre filmes. Dan Fogler (The Walking Dead), por sua vez, parece ter uma relevância sem sentido na história, ainda que Jacob seja o melhor personagem do filme.

Já Jude Law (Um Dia de Chuva em Nova York) transmite toda a complexidade de Dumbledore pela culpa da morte da irmã, pela relação conflituosa com o irmão, por seus sentimentos por Grindelwald e pela dor por Credence. Uma bela atuação, sem dúvida, assim como Mads Mikkelsen (Doutor Estranho), que se mostrou competente ao assumir o papel de um vilão mais imponente, enigmático e ameaçador, acompanhando o tom da nova produção.

Em resumo e soando repetitiva, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore sofre do mesmo problema de toda franquia: não ter uma história relevante para contar. São diversas subtramas que, reunidas, trazem alguma nostalgia salpicadas com batalhas épicas para encher linguiça e disfarçar que J.K. Rowling não sabe o que fazer com a própria obra. Um grande orçamento e recursos cinematográficos não são capazes de esconder um roteiro falho. Enquanto fãs, nos resta esperar para que algo seja feito para recuperar o prestígio da franquia. 

Bom


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