CRÍTICA | Thor: Amor e Trovão

Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi e Jennifer Kaytin Robinson
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tessa Thompson, Christian Bale, Taika Waititi, Russell Crowe, entre outros
Origem: EUA/Austrália
Ano: 2022

É de conhecimento geral que a chamada Fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel está um pouco diferente do que estamos habituados, com projetos mais densos, maduros e também autorais, fugindo um pouco da famigerada "fórmula" da Marvel Studios. Mas se alguém estava com saudade do formato, pode comemorar, porque Thor: Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder) bebe sem vergonha dessa fonte, entregando um suco de heroísmo, romance e comédia, misturado com a direção criativa, e também dramática, de Taika Waititi (O Que Fazemos Nas Sombras).

Vale mencionar que essa é a primeira vez que um dos Vingadores originais (por assim dizer) ganha uma quarta produção da franquia. E assim como em Thor: Ragnarok (2017), o grande acerto aqui é a confiança de que uma história não precisa ser séria em demasia para ser boa, potente ou até profunda. Entrelaçando simplicidade, um humor absurdo e muita segurança em seus temas, Amor e Trovão traz o herói de volta com ainda mais liberdade, sem a necessidade de estar muito ligado a linha narrativa central do MCU, mas se comprometendo também a nos entregar uma delicada jornada de cura de personagens em profundo sofrimento.

É o melhor que Waititi tem a oferecer. O diretor e co-roteirista tem uma boa história para contar, sem deixar de lado sua identidade leve, transitando entre o humor escrachado e o drama mórbido, que já é marca registrada em seus filmes, como vimos em Jojo Rabbit (2019). Além disso, é um filme que fala sobre o amor de forma brega e imprevisível, sem soar piegas ou forçado, fazendo uma conexão inevitável com o espectador. Despretensiosamente, o longa soa como um respiro aos fãs do estúdio após algumas decepções recentes.

Marvel Studios

A trama começa com a participação dos Guardiões da Galáxia em uma missão em que Thor (Chris Hemsworth) toma conhecimento sobre o Carniceiro dos Deuses, Gorr (Christian Bale), que teve suas preces ignoradas por eles e acabou perdendo sua única filha. Seu objetivo agora é pôr fim a todos os deuses e, para tentar impedi-lo, Thor precisa da ajuda de Korg (Taika Waititi), Valquíria (Tessa Thompson) e Jane Foster (Natalie Portman), que também enfrenta uma terrível batalha pessoal.

E é justamente nas jornadas pessoais dos personagens que o roteiro acerta. Thor, que se sente vazio e busca sentido em sua nova vida, encontra em Jane uma resposta e nessa relação está o coração do filme. A personagem retorna ao MCU com a mesma personalidade das obras anteriores, mas agora também como a Poderosa Thor, deslumbrada com seus poderes e utilizando o antigo Mjolnir

Natalie Portman (De Canção em Canção) se mostra muito à vontade em meio às cenas de ação, ao mesmo tempo em que entrega toda a humanidade de Jane no enfrentamento de sua doença. Mesmo quando não está em batalha, a personagem nunca para de lutar. Se com o martelo ela é poderosa, longe dele ela é fraca. É nessa dualidade entre a Poderosa Thor e Jane Foster que vemos toda a delicadeza que Natalie usou para contar essa história, entregando tudo nas sutilizas, como a grande atriz que é.

Chris Hemsworth (Rush: No Limite da Emoção) vive um Thor que está passando por muitos conflitos internos e reflexões sobre seus deveres como herói, sobre a solidão e sobre o que ele realmente quer para sua vida. Essa proposta permite que o personagem evolua e se torne ainda mais humano em Amor e Trovão, ainda que estejamos falando de um deus.

Christian Bale (Ford vs Ferrari), por sua vez, nunca decepciona. Sua presença de tela é absurda, abusando da excentricidade e de nuances caricatas. Com sua aparência assustadora e monólogos intimidadores, Gorr cumpre bem a sua função, ainda que o roteiro não aproveite tão bem o vilão. Falta um momento grandioso de combate que justifique a alcunha de Carniceiro dos Deuses, ou mesmo um desfecho que soasse menos apressado. 

Marvel Studios

A pressa é provavelmente o maior problema do Amor e Trovão. Com duas horas de duração, por incrível que pareça, este é um dos poucos filmes da Marvel Studios que poderia se beneficiar de mais alguns minutos de tela para desenvolver alguns pontos com mais calma. Apesar da correria funcionar bem comicamente, ela acaba diminuindo o impacto das cenas dramáticas, especialmente no desfecho, o que acaba comprometendo o resultado final.

Contando ainda com o carisma e charme marrento da Rei Valquíria de Tessa Thompson (Creed II) - que tem uma dinâmica adorável com Korg (Waititi) ao longo de todo o filme -, Thor: Amor e Trovão é mais do que apenas o quarto filme de um Vingador veterano. Soa mais como um recomeço. Maduro o suficiente para entender a piada como uma forma de atravessar a dor, sem anular o sofrimento, porém encarando-a com mais leveza. Um longa para nos lembrar que mesmo nos momentos mais difíceis e trovejantes, também dá pra ser leve e romântico. Ao som de Guns N' Roses.

Ótimo


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