CRÍTICA | A Hora Mais Escura

Direção: Kathryn Bigelow
Roteiro: Mark Boal
Elenco: Jessica Chastain, Jason Clarke, Kyle Chandler, James Gandolfini, Joel Edgerton, Chris Pratt, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2012



A primeira coisa que vem à tela em A Hora Mais Escura (interessante título nacional para o original Zero Dark Thirty, que em linguagem militar significa “meia-noite e meia”) é um aviso, de que a obra é baseada em narrações feitas de fatos reais. E como para quem sabe ler um pingo é letra, compreendemos de antemão que a licença poética rolará solta ao longo dos 157 minutos de projeção, como costuma acontecer em toda obra baseada em fatos, diga-se de passagem. A questão é que aqui, os fatos envolvem o governo norte-americano e, portanto, é possível entender o porquê do longa-metragem ter causado tanta polêmica na terra do Tio Sam, chegando a ser repudiado em certos aspectos.

O filme narra a história da caçada de 10 anos a Osama Bin Laden, iniciando logo após os fatídicos eventos de 11 de setembro de 2001 e culminando na operação secreta que levaria o terrorista mais procurado do mundo à morte, em 1º de maio de 2011. Protagonizado por Jessica Chastain (A Árvore da Vida), que vive uma agente da CIA cuja única missão desde que entrou para corporação é encontrar o líder da Al-Qaeda. A atriz, diga-se de passagem, realiza um bom trabalho. A forma obstinada e confiante com que a agente lida com as investigações é bastante convincente. Uma pena que a personagem seja sabotada pelo roteiro de Mark Boal (Guerra ao Terror), que aposta em algumas frases de efeito e tiradas de humor que não condizem com o clima soturno e tenso empregado pela direção.

Em seu primeiro longa-metragem após o histórico Oscar de melhor direção por Guerra ao Terror, Kathryn Bigelow demonstra uma maturidade impressionante em tela, sabendo conduzir a narrativa de forma envolvente. Vale destacar a montagem do filme, que sabe mesclar com fluidez momentos de “ação”, política e drama, proporcionando um bom ritmo a obra. Bastante violento em seu primeiro ato (por conta disso, alguns espectadores chegaram a deixar a sessão em que estive presente), A Hora Mais Escura retrata agentes da inteligência norte-americana torturando prisioneiros em busca de informações que os levariam a alguma pista. São cenas fortes, mas que passam tranquilamente para alguém que já tenha acompanhado algumas temporadas de Jack Bauer em 24 Horas.

Algumas escolhas fazem o trabalho da diretora se sobressair, entre elas, a brilhante abertura da obra. Apostando em minutos de tela preta, Bigelow permite que escutemos apenas áudios retirados dos atentados às torres gêmeas. Um passageiro de um dos voos sequestrados, cuja ultima preocupação foi declarar seu amor aos entes queridos, um radialista que dá a noticia de que a 1ª torre veio ao chão, uma moça que fica presa em uma das salas da 2ª torre à espera dos bombeiros, e se dá conta de que nada mais pode fazer. Com poucos minutos, e sem nenhuma imagem, a cineasta ganha o espectador. Não é preciso assistir às cenas trágicas novamente, elas (infelizmente) estão guardadas em nossa mente para sempre, o que faz com que os áudios despertem um apelo emocional que será necessário para compreendermos – e para alguns, justificar – a dureza dos fatos que irão se seguir.

E se Bigelow mantém a tensão crescente em toda a projeção, é em seu 3º ato que ela alcança o ápice. Por mais que já conheçamos o fim da história, tratando-se de um fato histórico, é impossível não ficarmos preocupados e torcendo para que a operação de invasão a fortaleza de Bin Laden dê certo. O clima funciona de forma impressionante, muito em função da quase completa ausência de luz e a falta de trilha sonora, que nos faz acompanhar os soldados passo a passo, curva a curva, dentro do território inimigo. Na sala de cinema, a cena funcionou de tal forma que foi possível ver espectadores vibrando quando o terrorista foi, enfim, baleado. Sem dúvida um dos grandes momentos dentre os filmes de 2012.

Polêmico, violento, controverso. Foi assim que Zero Dark Thirty foi recebido pela crítica mundial. Muito além desses adjetivos esteve a qualidade de Kathryn Bigelow, que entregou ao espectador um ótimo filme. E, como frisei no início dessa crítica, para quem sabe ler um pingo é letra. É preciso aceitar, e compreender, que as licenças poéticas estão lá, muito do que foi à tela deve ter acontecido (por mais que o Governo norte-americano negue), assim como muita coisa também não ocorreu. Não deve ser apreciado como documento histórico, e sim, como produto da 7ª arte. Visto dessa forma, certamente funcionará melhor.

Ótimo

Comentários

  1. Melhor critica que já li desse filme ate agora, estava ancioso por ele e assiti ontem, correspondeu as minhas expectativas, gostei muito! Você parece ser o único critico que viu o filme e escreveu a resenha sem estar focado apenas nos defeitos e em "Odeio os Estados Unidos".

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    1. Obrigado Lucas! Fico agradecido pelos elogios, me motiva a escrever mais.

      Acho que as vezes precisamos assistir aos filmes sem preconceito. Se entrarmos na sala de cinema já pensando em criticar, como muitos fazem, de certo não haverá outra opinião que não a negativa.

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  2. Adoro o Kyle Chandler desde Early Edition. Ele também está em Argo

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