CRÍTICA | Os Suspeitos

Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Aaron Guzikowski
Elenco: Hugh Jackman, Jake Gyllenhaal, Viola Davis, Terrence Howard, Melissa Leo, Maria Bello e Paul Dano
Origem: EUA
Ano: 2013


Ainda não sou pai, mas já me peguei imaginando a angústia que alguém que teve o filho desaparecido deve sentir. A incerteza da vida ou morte do ente querido, as buscas incessantes, a sensação de incapacidade. Como seguir com sua vida dali em diante? São histórias que nem sempre tem um final feliz. Desse pressuposto nasceu a trama de Os Suspeitos (Prisoners), filme que narra a história de Keller Doven (Hugh Jackman), um pai que tem sua filha e a de um casal amigo sequestradas durante um feriado de ação de graças, mas que não enxerga em Loki (Jake Gyllenhaal), o detetive responsável pela investigação, alguém capacitado para solucionar o caso. Resolve então agir por conta própria, sequestrando o principal suspeito do crime.

Diferente do habitual, o roteiro de Aaron Guzikowski (Papillon) propicia que o expectador acompanhe a narrativa de dois pontos de vistas: o do detetive e o do pai de família. Tal escolha se mostra extremamente interessante, pois se distingue da maioria dos filmes de suspense que costumam abordar um ponto de vista ou outro, dificilmente os dois. Sabendo que ambos os protagonistas investigam o crime a seu modo, a dinâmica da obra permite que enxerguemos pistas em ambas as trajetórias, ligando peças que os personagens em tela não têm conhecimento justamente por estarem em “ruptura”. Como se não bastasse, a trama por si só é intrigante e brutal, retratando uma história ficcional que poderíamos vir a conhecer em qualquer documentário ou jornal televisivo.

Claro que de nada adiantaria um ótimo roteiro sem o trabalho do canadense Denis Villeneuve (Politécnica), diretor que estreia com o pé direito no Cinema mainstream. O aspecto visual de Os Suspeitos, bem como o clima que permeia a obra, em muito se assemelha a Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) ou Zodíaco (2007), ambos filmes de David Fincher (A Rede Social). A fotografia fria e cinzenta ajuda a construir um cenário desanimador, de pouca esperança, que cai como uma luva para o longa, que quer a todo o momento nos fazer temer pela vida das crianças sequestradas. Villeneuve ainda acerta em não subestimar a inteligência do expectador, não se dando ao desnecessário trabalho de detalhar como cada ato do crime se desenvolveu, deixando (como já havia frisado antes) que nós montemos as peças em nossa cabeça. O que torna tudo mais interessante.

Foto: Paris Filmes

Outro aspecto fundamental para o sucesso da obra é seu grande elenco, ainda que aqui se encontrem também alguns de seus pontos destoantes. Viola Davis (Histórias Cruzadas), Terrence Howard (Homem de Ferro) e Maria Bello (Marcas da Violência) são coadjuvantes de luxo em piloto automático, competentes em suas propostas. Paul Dano (Sangue Negro) e seu visual andrógeno (e estranho, por que não), soam acertados para seu Alex Jones, o principal suspeito do crime. Sua falta de expressão me incomodou em alguns momentos, mesmo que seja nítida a escolha para com o papel. Melissa Leo (O Vencedor), por sua vez, soa caricatural em seus poucos momentos em tela, destoando do restante do elenco. Dignos de premiação, apenas os protagonistas.

Hugh Jackman (Os Miseráveis) vive aqui mais uma atuação marcante, ratificando que é um ator de grande talento. Seu Keller Doven é um carrossel de emoções que são compartilhadas conosco. Explosivo e angustiado, suas ações são questionáveis, mas nunca deixam de ser plausíveis. Uma cena em particular, quando Doven precisa reconhecer uma fotografia no departamento de polícia, deve render ao ator mais uma indicação ao Oscar.

Uma indicação também seria muito merecida a Jake Gyllenhaal (Marcados Para Morrer). A composição de seu detetive Loki é excepcional, provando seu talento ainda não reconhecido em mais uma oportunidade. Durante todo o filme não temos nenhuma informação do passado do personagem, tudo o que sabemos está na composição de Gyllenhaal. Reparem como o detetive usa a camisa fechada até o último botão (mas sem gravata), na tentativa inútil de esconder a tatuagem que cobre seu pescoço. Quando não veste sua camisa branca o personagem está de preto, com seu penteado atípico para a função que exerce e sua tatuagem em formato de cruz na mão. Loki é uma figura não convencional, diferente do que estamos acostumados no papel de um detetive, mas nunca duvidamos de sua capacidade como tal. Diferente de Doven, que vê essa figura atípica com insegurança e, por vezes, desdém. Aliado a isso, Gyllenhaal constrói um personagem de fala calma, mas inquieto, incomodado com a situação que o rodeia e as limitações que a corporação lhe impõe. Um grande trabalho.

Foto: Paris Filmes

Só o tempo dirá se Os Suspeitos atingirá o patamar de obras como Seven, ou mesmo O Silêncio dos Inocentes (1991), mas é certo dizer que é um excelente suspense, do tipo que não aparece há tempos. O fato de ser mencionado ao lado dos filmes citados já seria o bastante, mas o longa merece mais. O tempo dirá.

Ótimo

Comentários

  1. Esse final de semana eu assisti o filme, baseada na sua indicação, realmente é excepcional. Suspense do jeito que eu gosto e como pouco tem aparecido. Final surpreendente, porque achei que o pior tivesse acontecido desde o começo.
    Abs,
    Fabiana

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    Respostas
    1. O final realmente é surpreendente, também esperava pelo pior.
      Obrigado pela confiança de sempre Fabiana.

      Abraços!

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