CRÍTICA | A Vida Secreta de Walter Mitty

Direção: Ben Stiller
Roteiro: Steve Conrad
Elenco: Ben Stiller, Kristen Wiig, Adam Scott, Sean Penn, Kathryn Hahn, entre outros
Origem: EUA / Reino Unido
Ano: 2013


O que seria da vida sem os sonhos, não é verdade? Não estou falando de sonhos que temos quando estamos dormindo, mas sim daqueles que temos quando estamos acordados. Lugares que temos a intenção de visitar, coisas que pretendemos fazer, pessoas que nos espelhamos, objetivos que queremos cumprir. Que graça teria viver sem almejar compartilhar sentimentos ou realizar feitos que consideramos importantes para nossa existência? A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty) fala exatamente sobre isso.

Walter Mitty (Ben Stiller) é o gerente da sessão de fotografias da revista Life, durante o período em que a revista está em transição da mídia impressa para a digital. Apesar de extremamente competente em sua função, ele fantasia com uma vida de aventuras, como a do fotógrafo do qual sempre revelou as fotografias, Sean O’Connell (Sean Penn). Literalmente sonhando acordado com situações que tornariam sua jornada mais interessante, Mitty perde o negativo da foto mais importante já tirada por O’Connell e, por conta disso - e de uma paixão por uma companheira de trabalho -, resolve mudar sua vida.

Evoluindo a cada trabalho como diretor, Ben Stiller (Trovão Tropical) aqui mostra bom gosto e criatividade. Sua atuação, inicialmente contida, é condizente com a personalidade oprimida de Mitty, que casa perfeitamente com a cenografia e figurino que o envolvem. Antes do ponto de virada que a trama proporciona, o personagem somente aparece vestindo tons de cinza, cores sem vida, sem personalidade, bem como carregando sua maleta padrão. Todo o ambiente criado nos corredores da revista Life segue o mesmo padrão, a exceção são as capas das revistas nas paredes, sempre cheias de cor e vida, uma clara associação aos sonhos de Walter. E quando o personagem enfim está vivendo o que sempre sonhou, as cores e locações da fria Islândia saltam aos olhos, num trabalho de fotografia fantástico.

Outro ponto positivo da obra é a boa utilização dos efeitos especiais. Cada sonho acordado do protagonista é crível e funciona perante o espectador, abrindo espaço ainda para uma interessante escolha de Stiller em utilizar de informações espalhadas pelo cenário, sejam em frases que indicam o caminho de Walter na trama, ou nos próprios créditos iniciais, que são espalhados e “escondidos” em cena de forma belíssima. Pergunto-me como o estúdio permitiu tal decisão, pois olhos menos atentos podem deixar passar as informações dos realizadores. Mas que bom que foi assim. É uma pena, no entanto, que grande parte das boas cenas da obra já tenham sido entregues pelo trailer, restando poucas surpresas no que diz respeito aos efeitos digitais e sonhos de Mitty.

E ainda que o longa apresente tantas qualidades, fica clara a falta de um roteiro melhor trabalhado. Algumas soluções soam demasiadamente forçadas (chegar do outro lado do mundo e voltar em apenas um final de semana, ou mesmo a troca de um boneco por um skateboard), mas nada que estrague o entretenimento e a mensagem que o filme quer passar. Há momentos realmente inspiradores, como quanto toca a canção “Space Oddity”, de David Bowie. Uma clara ocasião de ruptura, que pode ser comparada com qualquer momento de decisão e incertezas que passamos em nossas vidas.

Havendo ainda espaço para homenagens ao próprio Cinema, com referências a Matrix e O Curioso Caso de Benjamin Button, A Vida Secreta de Walter Mitty mostra-se uma obra coesa, divertida e inspiradora, o clássico wake-up movie que poderá ser assistido por gente de qualquer idade ou crença. Vale citar também a pequena, porém importante, participação de Sean Penn (Aqui é o Meu Lugar), sempre esbanjando talento. Desde já estou curioso pelo próximo trabalho de Ben Stiller na direção.

Ótimo

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