CRÍTICA | Guardiões da Galáxia

Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn e Nicole Perlman
Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Bradley Cooper, Vin Diesel, Dave Bautista, Karen Gillan, Michael Rooker, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2014



Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy) talvez seja a aposta mais arriscada da Marvel Studios, produtora que até hoje errou muito pouco em sua abordagem cinematográfica. Imaginem o tamanho do desafio, ter que transformar personagens absolutamente desconhecidos para os não-leitores de quadrinhos (sejamos sinceros, o grande público nunca tinha ouvido falar desse quinteto) em um produto rentável, um sucesso de bilheteria que pudesse dar sequência as pretensões artísticas e a chamada Fase 2 do estúdio. Certamente não era uma tarefa fácil. Mas eles conseguiram. E como conseguiram.

Peter Quill (Chris Pratt), ou como ele gosta de ser chamado, Star-Lord, é uma espécie de Indiana Jones das galáxias, um mercenário, caçador de relíquias. Quando ele bota as mãos em um misterioso artefato que pretendia vender, acaba atravessando o caminho de Ronan (Lee Pace), que também buscava o objeto. O vilão então envia a assassina Gamora (Zoe Saldana) para se livrar de Quill, ao passo que Rocket (voz de Bradley Cooper) e Root (voz de Vin Diesel) - um guaxinim e uma árvore ambulante, basicamente - também querem a cabeça do Star-Lord em troca de uma recompensa milionária que vem sendo oferecida galáxia a fora. Claro que todos esses conflitos de interesses geram uma tremenda confusão (a lá sessão da tarde, no melhor sentido da palavra) e todos vão parar em uma prisão espacial onde conhecem Drax (Dave Bautista), e a nossa aventura começa de fato.

Foto: Marvel Studios

O filme inicia com um breve e tocante prólogo no planeta Terra, onde vemos Peter Quill ainda criança ser abduzido por uma nave alienígena. O ano era 1988. Não sei dizer qual a abordagem de Guardiões da Galáxia nos quadrinhos, pois faço parte da grande parcela do público que não conhecia os personagens, mas certamente essa cena, no fim da década de 80, estabeleceu a visão de todo o longa. Nosso protagonista viveu pouquíssimo tempo entre os humanos e, portanto, o pouco que absorveu da cultura oitentista ele carregou consigo. Suas piadas e referências à cultura pop são todas vindas dessa década e inevitavelmente trazem um sentimento nostálgico ao espectador (a menção a Footloose é particularmente divertida). Essa visão é muito bem exemplificada através da fita cassete que Quill carrega em seu inseparável walkman. Entitulada "Awesome Mix, Vol. 1", as canções ditam o ritmo da obra e empolgam à ponto de você querer sair do cinema e já adquirir a trilha sonora.

Todo esse clima confere a Chris Pratt (A Hora Mais Escura) a segurança e o bom humor necessário como protagonista, nessa que é a grande oportunidade do ator para se firmar na industria como uma grande estrela. E nisso ele foi extremamente bem sucedido. Seu Peter Quill é um tremendo a-hole (como o próprio longa brinca), mas nunca deixamos de torcer e nos divertir com ele. Seu carisma só não é maior que o de Groot, num divertido trabalho de voz de Vin Diesel (Velozes e Furiosos). Outro que rouba a cena é Bradley Cooper (Trapaça) e seu Rocket. Ao invés de dublar normalmente, Cooper opta por um trabalho de voz diferente, conferindo uma personalidade e verossimilhança muito bacana. Isso somado ao tremendo trabalho de computação gráfica, o baixinho acaba se tornando uma espécie de ícone da obra.

Completando a equipe, Zoe Saldana (As Palavras) talvez tenha sido a mais prejudicada pelo roteiro. Sua Gomora passa de uma assassina letal a uma amiguinha da galera muito rapidamente, dificultando nossa percepção do quanto ela deveria ser temida realmente. Dave Bautista (Riddick 3), por sua vez, foi uma grata surpresa. Confesso que pensei que seu Drax fosse apenas uma montanha de músculos, mas o ator se sai muito bem, roubando algumas cenas de alívio cômico inclusive. O personagem, aliás, é visualmente muito interessante, coberto de desenhos semelhantes a tatuagens vermelhas por todo seu corpo de pele azulada.

Foto: Marvel Studios

E se o visual de Drax chama a atenção, o mesmo pode-se dizer do restante do longa-metragem que tem uma direção de arte de fazer cair o queixo. Figurinos e cenários especialmente bem produzidos, aparentando que muita coisa foi construída fisicamente, com menos uso de green screen, o que reforça o clima retrô que citei anteriormente. O trabalho de maquiagem é igualmente fascinante (e se não for indicado ao Oscar será um crime), sempre com cores fortes, alguns relevos na pele, sem, no entanto, tirar as características físicas e principalmente faciais dos atores. Prova maior disso é Karen Gillan (Doctor Who), que mesmo azul e careca, continua bela e sexy no papel de Nebula, irmã de Gomora.

Se me pedissem para definir rapidamente eu diria que Guardiões da Galáxia é o filme mais divertido do ano, talvez o mais divertido em tempos. Uma mistura muito bem sucedida das batalhas espaciais de Star Wars, das criaturas exóticas de Star Trek e do espírito aventureiro levemente irresponsável do já citado Indiana Jones, tudo regado a muita década de 80 e a fórmula clichê dos filmes de equipe. Clichê quando bem utilizado funciona. E como funciona.

Ótimo

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