CRÍTICA | Lucy

Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Elenco: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-sik Choi, entre outros
Origem: França / Tailândia / Alemanha
Ano: 2014



É engraçado como alguns diretores não atingem a popularidade que merecem. Pergunte a um não-cinéfilo quem é Luc Besson e muito provavelmente ele não saberá responder, mas se indagar sobre O Quinto Elemento (The Fifth Element, 1997) ou O Profissional (Léon, 1994) talvez eles o façam, tendo essas obras como boas lembranças de entretenimento ou algo mais. O fato é que os filmes citados são de Besson, assim como Lucy (idem, 2014). E se essa trinca não credencia um diretor à fama, não sei dizer o que o faria. Claro que pouco importa essa constatação, especialmente se obras arrojadas como essa continuem sendo lançadas.

A Lucy (Scarlett Johansson) do título é uma americana que está curtindo a vida na China (!) quando se vê envolvida em uma trama que envolve a máfia local e uma nova droga, que permite ao usuário aumentar sua capacidade cerebral. Um incidente faz com que o entorpecente entre no organismo da garota, que passa a desenvolver habilidades nunca antes vistas em um ser humano, algo que fascina Norman (Morgan Freeman), um professor que elabora teses sobre a capacidade do cérebro humano.

Ainda que a premissa em muito se assemelhe ao recente Sem Limites (Limitless, 2011), protagonizado por Bradley Cooper, o roteiro de Besson é hábil em aprofundar temas como a capacidade mental humana e sua natureza animal (ou passional, se preferirem), proporcionando discussões bastante interessantes e quem vão muito além da obra citada. O instinto primata, aliás, é mostrado no longa através da elegante montagem estabelecida em seu primeiro ato, na qual vemos cenas do mundo animal (um leopardo caçando um veado) contrapostas às imagens da garota sendo capturada pelos chineses.

A protagonista certamente está entre os melhores papéis de Johansson (Encontros e Desencontros), que aqui domina a tela plenamente. Há tempos não via uma personagem feminina tão marcante. Sua beleza estonteante está lá, mas a atuação é o destaque, não apenas nas cenas de ação (algo que estamos acostumados a ver nos filmes da Marvel) mas também nos momentos de apelo dramático. A construção de sua Lucy é muito bem trabalhada e por vezes me fez lembrar o "herói" de Ryan Gosling em Drive (idem, 2011), especialmente quando invade o hotel para se vingar, vestida de um jaleco de operação que em muito lembra uma capa.

A medida que Lucy aumenta sua capacidade cerebral, adquirindo conhecimento ilimitado, ela perde pouco a pouco sua humanidade, algo muito bem estabelecido no figurino da atriz, que começa vestindo cores vivas e marcantes (denotando personalidade forte) e, aos poucos, passa a utilizar trajes discretos (branco) até, enfim, chegar no vestido negro e impessoal do terceiro ato. O mais interessante é que a personagem se dá conta de que isso aconteceria pouco depois que descobre suas novas habilidades, na belíssima cena em que liga para sua mãe em tom de despedida. Um momento belo e tocante, provando que fomos fisgados pela atuação de Johansson, que é muito bem valorizada pelos ângulos e enquadramentos característicos de Besson.

E se nem tudo são flores, o roteiro que tão bem trabalha Lucy é o mesmo que não dá profundidade aos personagens coadjuvantes, em especial o policial francês que a acompanha durante um bom tempo da projeção (o ponto fraco do filme, sem dúvida), já que o vilão de Min-sik Choi (Oldboy) não carece de um background maior e Morgan Freeman (Oblivion) traz sua tradicional segurança a seu papel.

Apesar de irritar um pouco a forma como alguns personagens encaram as habilidades da protagonista, os efeitos especiais e a premissa fazem tudo parecer crível o suficiente para que o filme funcione. Se fosse apenas isso já bastava, mas Lucy mostra-se uma grata surpresa nas salas de cinema. Ao menos para aqueles que não conhecem (ou conheciam) Luc Besson.

Ótimo

Comentários

  1. Olá Daniel! Adorei sua resenha. Este filme tb foi uma grata surpresa para mim! Escrevi a respeito no meu blog. Abraços.

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