CRÍTICA | A Teoria de Tudo

Diretor: James Marsh
Roteiro: Anthony McCarten
Elenco: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Charlie Cox, David Thewlis, Adam Godley e Emily Watson
Origem: Reino Unido
Ano: 2014



Stephen Hawking, para quem não sabe, é um físico teórico britânico dos mais conceituados na atualidade. Em 1965, aos 21 anos, foi diagnosticado com uma rara doença degenerativa, a ELA (esclerose lateral amiotrófica), que paralisa os músculos do corpo permanentemente, sem, no entanto, afetar as funções cerebrais. Sua expectativa de vida era de 2 anos, mas, superando toda e qualquer previsão, Hawking vive até hoje, em plena atividade, apesar de suas limitações físicas

A Teoria de Tudo (The Theory of Everything) nos conta essa história através de um roteiro adaptado do livro "Traveling to Infinity: My Life with Stephen", escrito por Jane Hawking, primeira esposa do físico, deixando claro que a cinebiografia tem um foco: o casal Stephen e Jane. Pra quem esperava um maior aprofundamento nas teorias de Hawking, ou mesmo detalhes de sua batalha pessoal contra a doença, talvez saia um pouco decepcionado da sala de cinema. Isso, porém, não quer dizer que o filme é ruim. No que se propõe, é bastante competente.

Talvez o maior atrativo seja, de fato, a interpretação de Eddie Redmayne (Os Miseráveis). Espantosa é o adjetivo que me vem a mente para defini-la, pois trata-se de um estudo meticuloso de cada trejeito do protagonista. A fala prejudicada, a musculatura atrofiada, o corpo retorcido. A semelhança com Hawking é evidente, tamanha a dedicação do ator, que consegue, em certo momento, transmitir um carrossel de emoções apenas com o olhar (algo semelhante só havia visto com Daniel Day-Lewis, em Meu Pé Esquerdo). Me impressionou o controle do mesmo no que diz respeito a perda gradativa dos movimentos. Uma cena em particular me tocou profundamente, quando o físico, ainda no inicio de sua devastadora doença, é observado por Jane enquanto joga críquete no jardim da universidade. Sua indicação a diversas premiações não podia ser menos merecida.

Felicity Jones (Loucamente Apaixonados), por sua vez, mostra um notável amadurecimento como atriz. Sua Jane Hawking vive, junto com o marido, um turbilhão de dilemas e emoções, num papel complexo e difícil perante a cultura naturalmente machista em que estamos inseridos. Ficam evidenciados os sacrifícios assumidos pela moça diante da situação de seu esposo, bem como as consequências posteriores, ainda que o roteiro seja bastante discreto nesse sentido. E não abordarei mais a respeito para não revelar algo relevante para quem ainda não conhece essa história.

A Teoria de Tudo também se destaca nos aspectos técnicos, como, por exemplo, na bela trilha de Jóhann Jóhannsson, que encontra a medida certa de sentimentos como ternura e esperança. Além disso, a fotografia empregada nos remete quase a um conto de fadas, especialmente no primeiro ato da trama, quando Jane e Stephen se conhecem e se apaixonam em Cambridge. Aliás, quem não se apaixonaria naquela noite retratada no longa? Um trabalho de direção de arte realmente admirável.

Discreto na direção, James Marsh (do documentário O Equilibrista) ainda assim estabelece sua assinatura, criando uma interessante rima visual que permeia toda a obra. Por vezes vemos cenários ou objetos de cena que lembram círculos em movimento (a roda da cadeira, as escadas que Jane sobe em determinado momento, o café no trem, o carrossel em Cambridge), algo que remete a teoria trabalhada por Hawking durante a narrativa e culmina numa ótima sacada no encerramento do filme.

O diretor também é competente ao filmar um plano detalhe do protagonista recolhendo uma caneta do chão durante o primeiro ato, para, somente no terceiro ato, estabelecer uma ligação que torna-se arrebatadora aos olhos dos espectadores (pista e recompensa). Ao menos a mim, atingiu profundamente, provando a eficiência de A Teoria de Tudo, uma cinebiografia que emociona e passa uma bonita mensagem. Nem todo o longa precisa ser uma obra-prima.


Ótimo

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